Utilização das TIC na promoção da saúde cardiovascular

Manuel de Oliveira Santos, cardiologista de intervenção do CHUC, fala sobre as mais-valias da saúde digital na prevenção das doenças cardiovasculares.

As novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) têm mudado o mundo da Medicina, nomeadamente quando e recorre a determinados dispositivos para monitorizar dados clínicos. Que o diga Manuel de Oliveira Santos que, na consulta, já se habituou a avaliar determinados parâmetros através do smartphone dos doentes. “Sei exatamente quantos passos deram, a frequência cardíaca ao longo de certo período de tempo, entre outros”, especifica.

Como diz, “mais facilmente tenho acesso a informação fidedigna do que se perguntasse diretamente ao doente, além de que posso ter mais tempo para abordar outras questões relevantes”.

O uso de dispositivos tornou-se prática corrente, bem aceite por muitos utentes, mas não só. Como salienta o cardiologista de intervenção, é “uma ótima oportunidade para se promover a saúde cardiovascular – e não só”, porque “os utentes sentem-se mais motivados a mudar hábitos”. Os alertas para se caminhar, comparando-se os passos nos diferentes dias, são um exemplo de como as TIC podem ajudar quem procura mudar hábitos de vida menos saudáveis.

O impacto da saúde digital, nos últimos anos, tem sido significativo, na opinião de Manuel de Oliveira Santos. “Tem sido um crescimento exponencial, o que também é visível nos congressos científicos, como ESC Congress 2023, onde se dedicou, em cada um dos quatros dias do evento, várias sessões com apresentações e trabalhos de investigação nesta área.”

O especialista realça ainda a atenção que tem sido dada às TIC na saúde na World Heart Federation, tendo sido, inclusive, publicado um road map internacional, com indicações para países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. ”Hoje em dia existem imensas ferramentas e sensores que medem parâmetros, quer em casa, a chamada m-Health, quer através da telemonitorização nos hospitais e é preciso haver orientações sobre o uso das mesmas.”

Continuando: “A grande relevância destas TIC é democratizar estes dados em saúde, que deixam de estar centrados apenas no hospital e nos doentes e que podem ser usados para promover a saúde cardiovascular da população.”

Contudo, as TIC não se limitam a estes dispositivos, também envolvem cada vez mais o uso de Inteligência Artificial (IA) e do ChatGPT. No caso da IA pode-se fazer diagnósticos mais precisos e com procedimentos menos invasivos e o ChatGPT conseguiu passar no exame final de Medicina nos EUA. “A evolução é enorme.”

Contudo, alerta, existem riscos aos quais a comunidade médica deve estar atenta. “A segurança é fundamental, porque estamos a lidar com dados clínicos que, atualmente, estão são visíveis pelas empresas; acresce ainda a necessidade de se apostar na interoperabilidade.” O médico defende também maior aposta na literacia em saúde digital, quer para a população como para os profissionais de saúde.

 

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