Instante 9, o Choque
Por: Fernanda Mendes Barata
Fui ver e… a quantidade de outros que sofrem rasga-me. Como faço para mudar isto?
Vejo a população pobre da américa latina, 550 milhões de almas: uma mancha em movimento em busca da sobrevivência. Na China, 1.2 mil milhões de pessoas…. 1.2 mil milhões de seres humanos. Índia: 11 milhões de pessoas põem-se em movimento, gente que trabalha à jorna e que hoje, hoje, quando brotar a meia noite e despertarem no dia seguinte, não terão nada para comer. África: 250 milhões de existências à fome.
Todas estas pessoas como eu: pernas, feridas, sangue, filhos e mães, avós e netos, todos eles, unhas e cabelos, fome e sede, exaustão.
Grandes números dizem muito dando a ideia da quantidade de seres, pessoas que sofrem porque existem no mesmo lugar onde eu estou, despertada no dia seguinte à meia noite em que adormeci.
Ninguém quer saber. Dizemos: rejeite-se a China, abaixo os EU, fora com os refugiados, que se danem os desvalidos da índia, morram os velhos, os doentes crónicos e os terminais, não queremos saber da pobreza na América Latina, enforque-se a Coreia do Norte, não importam os africanos… e não pomos em relação olhando as proporções de vítimas que não escolheram estar tão à beira desta imolação apocalíptica que é tão nossa como deles.
Uns como outros são inocentes, mas nós só queremos ver culpados. A dignidade é a mesma em cada um de nós, mas não a reconhecemos. Estávamos cegos, estamos cegos, paralisados e sem voz.
Lá fora: Alguém disse: está a correr bem, vamos voltar à normalidade.