Instante 2, a Apatia
Por: Fernanda Mendes Barata
Continuo a meditar e pouco mais. Perdi a vontade de tomar banho. Sempre que penso em despir-me, vestir-me e demais gestos que se mostram inúteis, escorre-me o suplício do cansaço. Medito apenas e não existo.
Galgaram um punhado de dias neste confinamento e eu ainda deitada, quieta, sem conseguir ver passar nem medo nem destemor, nem alento ou aflição, caída no buraco duma branda voz judicativa que chama de longe, “levanta-te”, “levanta-te”, mas nada acontece se não o mesmo brotar de todas as mesmas meias noites de todos os dias seguintes.
Li nas redes sociais: a culpa é da China. Dos EU. Da OMS. Da Europa. Do surdo. Do mudo. Do entendido e do ignorante. Do mundo e do fundo de todas as dobras de todos os Continentes, brotam os réus e todos se esgueiram em fuga reclamando: não fui eu.
Lá fora: morrem muitas pessoas e alguém disse: é uma teoria da conspiração.