1 Mar, 2021

Instante 3, a Culpa

Por: Fernanda Mendes Barata

 

 

Comecei a sentir-me assaltada por uma voz a que chamam consciência e ela insiste: o que foi que eu fiz? Eu como pessoa. Como indivíduo. Como ser no Planeta que habito. Eu que já abri os braços. Que já os fechei. Que já corri. Que já amai. Que já odiei. O que foi que eu fiz?

Pois foi: quando brotou essa meia noite e era o dia seguinte, despertei.

O que foi que eu fiz? O que foi que todos nós fizemos?

E o que foi que eu não fiz?…

Ainda não pedi ajuda a nada ou alguém. Ninguém no meu horizonte. Sequer dirigi a palavra a mim mesma. Não ousei orar. Nem olhei o céu do meu teto, nem o infinito ocular que me cabe no reflexo das coisas agora perdidas.

Ainda não chorei. Como num tempo de grande seca, desertou a catarse das lágrimas não entendidas.

Não sei o que fiz ou o que não fiz – encontrar razões seria bom para reaver um ponto cardeal, um limiar de fé, ao menos um ténue acreditar que hei de encontrar-me no deserto daquilo que fiz – ou não fiz – mas serei sempre culpada.

Lá fora: morrem milhares de pessoas em quase todo o Planeta e nas janelas lê-se: vai ficar tudo bem.

 

Por: Fernanda Mendes Barata

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