Rastrear o cancro do pulmão
O cancro do pulmão continua a ser dos mais prevalentes a nível mundial, sendo a principal causa o tabagismo. Susana Moreira, pneumologista no Hospital Lusíadas Lisboa, considera ser importante apostar-se no rastreio.
O rastreio do cancro do pulmão não é prática corrente na Europa, ao contrário do que já acontece noutros países, como nos EUA. Mesmo assim têm sido dados passos importantes a nível europeu, já que, no ano passado, a Polónia, a Croácia, a Itália e a Roménia avançaram com um programa. Apenas em fase de projeto-piloto há ainda a contar nesta lista com o Reino Unido e a França.
De acordo com Susana Moreira, a falta de consenso a nível mundial para a sua implementação deve-se a mais que um fator: “As preocupações que mais bloqueiam esta decisão prendem-se, sobretudo, com a garantia da equidade, com a sobrecarga nos sistemas de saúde, com a sobrecarga económica e com o estigma associado ao tabagismo, já que os fumadores têm elevado risco.”
Segundo os últimos dados, “o tabaco é responsável por 90% dos casos de cancro do pulmão”.
Apesar dos receios europeus, a verdade é que vários trabalhos científicos têm chegado à conclusão de que o rastreio é importante e pode fazer a diferença numa patologia que se manifesta somente numa fase mais avançada. Exemplo disso é o ensaio clínico NELSON – NEderland-Leuvens Longkanker Screening ONderzoek, que, decorreu durante 15 anos, essencialmente na Holanda e na Bélgica. Deste resultou o desenvolvimento de uma avaliação volumétrica da TAC, que, com base num algoritmo, permite “com bastante acuidade” identificar a doença.
“O rastreio só deve ser realizado em doenças com consequências graves e o cancro do pulmão é uma delas”, diz a médica. Além disso, acrescenta, “os estudos já confirmaram o benefício do rastreio do cancro do pulmão com tomografia computorizada de baixa dose (TCBD)”.
Como acrescenta ainda: “Os novos instrumentos, como Lung-RADS, permitem também uniformizar estes programas.”
Para se avançar com esta medida, Susana Moreira alerta que “é necessário investimento em tecnologia, recursos humanos e no trabalho de equipa para se ter sucesso”. Por exemplo, no que diz respeito à tecnologia “não se pode esquecer que esta tem de evoluir ao longo do tempo”.