Embolia Pulmonar: Primeiros sinais de alerta
Assistente Hospitalar em Medicina Interna, Unidade de Doença Vascular Pulmonar do Centro Hospitalar Universitário de Santo António
O tromboembolismo venoso (TEV) é a 3.ª causa de morte cardiovascular na Europa, sendo mais fatal que a combinação de acidentes de viação e cancro. Portanto é essencial entender que a embolia pulmonar (EP), manifestação mais grave do TEV, é uma doença comum e potencialmente mortal. Consequentemente, a avaliação do doente com suspeita de EP deve ser eficiente – evitando exames fúteis -, uma vez que o início de tratamento não deve ser protelado.
Tradicionalmente apelidamos a EP de ‘o grande mascarado’, uma vez que o busílis do desafio da EP é precisamente o seu diagnóstico, podendo a apresentação clínica ser inocente ou catastrófica. Os sintomas mais frequentes à apresentação são:
- dispneia para esforços,
- dor torácica e
- tosse
A dispneia usualmente instala-se em segundos ou minutos, sendo que alguns doentes têm uma instalação progressiva do quadro (> 1 semana de instalação). No entanto, o leque de manifestações pode ir da ausência de sintomas à morte súbita.
Interessantemente, não há correlação entre a manifestação inicial e a gravidade do quadro. A propósito, a EP de grandes dimensões apresenta-se frequentemente com sintomas ligeiros ou em doentes assintomáticos. Ressalva-se o doente que recorre aos cuidados de saúde por síncope, que parece correlacionar-se diretamente com a carga trombótica, devendo ser investigado de forma exaustiva.
A impressão clínica inicial do doente tem uma especificidade para o diagnóstico superior a 70%, sublinhado a necessidade de manutenção de um elevado grau de suspeição, mas confirmando a noção de que o clinical gestalt é relevante.
Nestes doentes o exame objetivo inicial é muitas vezes normal. Sinais que podemos encontrar são:
- edema assimétrico do membro inferior,
- taquipneia,
- taquicardia e
- sinais de insuficiência cardíaca direita.
A fisiopatologia da EP baseia-se na associação de um estado de hipercoaguabilidade, estase venosa e dano endotelial. Contribuindo para esta associação sabemos que há múltiplos fatores que podem aumentar o risco de EP, que se dividem globalmente entre hereditários e adquiridos. Devemos estar especialmente atentos aos últimos, que incluem, entre outros, situações comuns na prática clínica do quotidiano como:
- cirurgias major e periodo pós-operatório,
- neoplasias e quimioterapia,
- imobilização prolongada ou
- história prévia de TEV.
A EP não é uma patologia incomum e é frequente motivo de recurso aos serviços de saúde. Sendo uma das grandes causas de morte súbita é importante estarmos alerta para as suas várias formas de apresentação e os principais fatores de risco. Reconhecer rápida e eficazmente a EP é a melhor forma de se alterar o prognóstico desta doença potencialmente fatal, devendo ser sempre mantido um elevado nível de suspeição perante o grande mascarado.