28 Ago, 2023

Embolia Pulmonar: Primeiros sinais de alerta

Assistente Hospitalar em Medicina Interna, Unidade de Doença Vascular Pulmonar do Centro Hospitalar Universitário de Santo António

O tromboembolismo venoso (TEV) é a 3.ª causa de morte cardiovascular na Europa, sendo mais fatal que a combinação de acidentes de viação e cancro. Portanto é essencial entender que a embolia pulmonar (EP), manifestação mais grave do TEV, é uma doença comum e potencialmente mortal. Consequentemente, a avaliação do doente com suspeita de EP deve ser eficiente – evitando exames fúteis -, uma vez que o início de tratamento não deve ser protelado.

Tradicionalmente apelidamos a EP de ‘o grande mascarado’, uma vez que o busílis do desafio da EP é precisamente o seu diagnóstico, podendo a apresentação clínica ser inocente ou catastrófica. Os sintomas mais frequentes à apresentação são:

  1. dispneia para esforços,
  2. dor torácica e
  3. tosse

A dispneia usualmente instala-se em segundos ou minutos, sendo que alguns doentes têm uma instalação progressiva do quadro (> 1 semana de instalação). No entanto, o leque de manifestações pode ir da ausência de sintomas à morte súbita.

Interessantemente, não há correlação entre a manifestação inicial e a gravidade do quadro. A propósito, a EP de grandes dimensões apresenta-se frequentemente com sintomas ligeiros ou em doentes assintomáticos. Ressalva-se o doente que recorre aos cuidados de saúde por síncope, que parece correlacionar-se diretamente com a carga trombótica, devendo ser investigado de forma exaustiva.

A impressão clínica inicial do doente tem uma especificidade para o diagnóstico superior a 70%, sublinhado a necessidade de manutenção de um elevado grau de suspeição, mas confirmando a noção de que o clinical gestalt é relevante.

Nestes doentes o exame objetivo inicial é muitas vezes normal. Sinais que podemos encontrar são:

  1. edema assimétrico do membro inferior,
  2. taquipneia,
  3. taquicardia e
  4. sinais de insuficiência cardíaca direita.

A fisiopatologia da EP baseia-se na associação de um estado de hipercoaguabilidade, estase venosa e dano endotelial. Contribuindo para esta associação sabemos que há múltiplos fatores que podem aumentar o risco de EP, que se dividem globalmente entre hereditários e adquiridos. Devemos estar especialmente atentos aos últimos, que incluem, entre outros, situações comuns na prática clínica do quotidiano como:

  1. cirurgias major e periodo pós-operatório,
  2. neoplasias e quimioterapia,
  3. imobilização prolongada ou
  4. história prévia de TEV.

A EP não é uma patologia incomum e é frequente motivo de recurso aos serviços de saúde. Sendo uma das grandes causas de morte súbita é importante estarmos alerta para as suas várias formas de apresentação e os principais fatores de risco. Reconhecer rápida e eficazmente a EP é a melhor forma de se alterar o prognóstico desta doença potencialmente fatal, devendo ser sempre mantido um elevado nível de suspeição perante o grande mascarado.

 

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