Vaginose Bacteriana
Tiago Meneses Alves é IFE em Ginecologia-Obstetrícia e Membro do PoNTOG (The Portuguese Network of Trainees in Obstetrics and Gynaecology) e alerta para os sintomas de um problema de saúde que pode afetar qualquer mulher.
A vaginose bacteriana (VB) constitui a causa mais comum de corrimento anómalo nas mulheres em idade reprodutiva e ocorre em até 50% dos casos de vaginite. Caracteriza-se por um estado de desequilíbrio da flora microbiana vaginal com altas concentrações de bactérias anaeróbias e redução de lactobacilos protetores com consequente aumento do pH vaginal.
Apesar de não ser considerada uma infeção sexualmente transmissível (IST), está associada à frequência da atividade sexual e a um risco aumentado de aquisição de infeções oportunistas e de transmissão sexual. Verifica-se uma prevalência aumentada em mulheres com múltiplos parceiros sexuais, que têm um novo parceiro, que usam o preservativo de forma inconsistente ou com uma relação homossexual. Além disso, o tabagismo (passado ou atual), os duches vaginais e a obesidade parecem constituir outros fatores de risco para esta patologia.
Contrariamente a outras vaginites como, por exemplo, a candidíase vulvovaginal, a VB cursa geralmente sem sinais inflamatórios, isto é, a vagina não apresenta eritema e o colo do útero não revela alterações no exame ao espéculo. De facto, na candidíase é possível identificar frequentemente eritema, edema e fissuras vulvares associadas a ardor e a prurido vulvar e a dispareunia superficial. Associadamente, manifesta-se por um corrimento vaginal branco, espesso e grumoso (tipo requeijão) aderente às paredes vaginais, mas inodoro.
Por outro lado, na VB pode-se verificar ao exame ginecológico a presença de um corrimento vaginal abundante, branco-acinzentado, pouco espesso e homogéneo e com “odor intenso a peixe” (exacerbado após as relações sexuais, bem como durante e após a menstruação). Contudo, aproximadamente 50% das mulheres com VB são assintomáticas.
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O tratamento destina-se, essencialmente, ao alívio dos sintomas e à redução do risco de adquirir IST. O tratamento dos parceiros sexuais do sexo masculino assintomáticos das mulheres com VB não está preconizado, mas deve ser ponderado nas parceiras do sexo feminino, nomeadamente nas que se encontram sintomáticas. Estão disponíveis antibióticos orais e tópicos (metronidazol ou clindamicina, por exemplo) e antissépticos (cloreto de dequalínio) muito eficazes para o tratamento de VB com taxas de cura de cerca de 80%.
Todavia, as recidivas são comuns e algumas estratégias podem ser adotadas para o seu tratamento: assegurar a adesão à terapêutica, alterar a via de tratamento original, optar por uma posologia multidose e recorrer a uma classe terapêutica diferente na ausência de cura. Durante o tratamento é recomendado o uso de preservativo ou a abstinência sexual.
Atualmente, a utilização de probióticos vaginais e orais para restituir a microbiota vaginal não é consensual, uma vez que não existe evidência adequada que demonstre a sua eficácia. O transplante da microbiota vaginal de mulheres saudáveis para mulheres com VB refratária encontra-se em investigação e os resultados são promissores.
*Coautores: Maria Liz Coelho, Miguel Penas da Costa, Marta Plancha Santos e Kristina Hundarova, membros do PoNTOG
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