18 Nov, 2023

O VSR nas pessoas idosas: um perigo desconhecido

Cardiologista e Presidente da SPGG

Quem presta cuidados a crianças, sabe o impacto que a doença causa nos meses de novembro a abril, neste grupo etário. Mas o verdadeiro impacto da doença em termos de gravidade, morbilidade e mortalidade é nas pessoas idosas.

A infeção RSV é uma infeção respiratória bastante comum, com surtos frequentes no Inverno e aumento das hospitalizações devidas a infeção respiratória. É a causa mais frequente de infeções do trato respiratório inferior em crianças. Tem sido subestimada como uma causa importante de infeção respiratória nos adultos, em grande parte devido a que, ao contrário do que acontece com a gripe, não dispomos de um teste diagnóstico prático acessível.

A morbilidade e a mortalidade em pessoas hospitalizadas devido a pneumonia por VSR são comparáveis às da gripe e da pneumonia pneumocócica. Para além do risco de infeções respiratórias agudas e graves, uma infeção por RSV também aumenta o risco de eventos cardiovasculares subsequentes, com crescimento significativo da morbilidade e mortalidade, especialmente em pessoas com fatores de risco cardiovascular pré-existentes.

Recentemente, um estudo de coorte mostrou um novo aumento na incidência de infeções por VSR após as primeiras vagas da pandemia de covid-19.

A época do VSR começa no princípio do Inverno, com um pico nos meses de janeiro e fevereiro. Praticamente, sobrepõe-se à época da gripe, já que ambos os vírus circulam frequentemente ao mesmo tempo. Têm manifestações muito semelhantes, pelo que são difíceis de distinguir. A duração média do internamento é de 3 a 6 dias e a mortalidade relativamente alta: 6 a 8%.

As pessoas que estão em maior risco de sofrer de complicações do VSR têm um perfil clínico semelhante às que sofrem de mais complicações, devidas quer a covid -19 quer a gripe.

São em grande parte pessoas idosas, com várias doenças crónicas, como a obesidade, a diabetes, a insuficiência renal crónica e, sobretudo, a insuficiência cardíaca, a doença coronária, a DPOC e a asma.

Os sintomas são a rinorreia abundante, congestão nasal, tosse muito produtiva e cefaleias. Pode não haver alguns dos sintomas mais típicos da gripe, como as mialgias e dores no corpo. Os doentes  que desenvolvem doença mais grave progridem, ao fim de alguns dias, para febre alta, pieira ou roncos, falta de ar e mesmo insuficiência respiratória aguda, ao passo que na gripe atingem o auge logo de início. A infeção do aparelho respiratório inferior pode manifestar-se por bronquite aguda, pneumonia, agravamento da DPOC, asma e insuficiência cardíaca, com necessidade de internamento e morbilidade e mortalidade aumentadas.

Não dispomos de armas específicas para tratar esta infeção, ao contrário do que felizmente já existe para tratar a gripe e a covid-19, pelo que o tratamento é meramente sintomático. Consiste no aumento da hidratação, para facilitar a mobilização das secreções respiratórias e, se necessário, administração de oxigénio e até ventilação.

Recentemente ficou disponível uma vacina recombinante adjuvada que reduz em 94,6% o risco de doença respiratória do trato inferior, em pessoas com 60 ou mais anos  e com uma comorbilidade relevante associada. Entre estas salientam-se as patologias do pulmão e do coração, além de outras como a diabetes, a doença hepática e a doença renal avançadas.

A vacina é geralmente bem tolerada. Os efeitos secundários indesejáveis possíveis são dor no local da injeção, fadiga, mialgias, dores articulares e cefaleias. São geralmente ligeiros a moderados e transitórios.

Está agora disponível, pela primeira vez, uma vacina eficaz para a prevenção das infeções por RSV, cuja elevada eficácia e segurança foram demonstradas num estudo multicêntrico e aleatório. Esta vacina contra o VSR pode ser administrada ao mesmo tempo que a vacina contra a gripe sazonal.

É da nossa responsabilidade médica proporcionar a melhor proteção possível aos doentes de alto risco que estão ao nosso cuidado. Tendo em conta a época de inverno que se aproxima e a previsibilidade das ondas de infeções esperadas, a prevenção através de vacinas comprovadamente eficazes e seguras deve ser uma prioridade elevada.

 

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