14 Mar, 2024

“O grau de controlo [dos doentes hipertensos] está aquém daquilo que consideramos adequado”

Rosa de Pinho, médica de família, é uma das oradoras da sessão “Guidelines hipertensão 2023: highlights para a prática clínica”. Em entrevista a médica fala sobre as principais novidades destas novas orientações, para o tratamento da HTA, um importante fator de risco cardiovascular e cujo grau de controlo ainda está aquém do espectável. Esta sessão conta também com Jorge Polónia, internista, e Paulo Pessanha, médico de família, como oradores, e com Manuel Viana, médico de família, como moderador.

Qual a importância de se realizar uma sessão sobre este tema neste evento?

Em Portugal, a principal causa de morte continua a ser as doenças cardiocerebrovasculares e, dentro destas, o acidente vascular cerebral (AVC) ainda é o principal culpado. Além da mortalidade, provoca também grande morbilidade, tendo a incapacidade provocada pelo AVC um custo enorme na saúde do doente, da família e da comunidade.

A hipertensao arterial (HTA) é o principal fator de risco para o AVC e, por isso, sabendo que estas Jornadas têm como público-alvo a MGF, com um número de inscritos muito elevado, e que o ano de 2023 foi marcado pela atualização das Guidelines Europeias para o Seguimento da HTA, faz todo sentido partilhar com os colegas MGF as orientações nesta área.

Somos nós, MGF, que tratamos a grande maioria dos hipertensos, mas infelizmente o grau de controlo está aquém daquilo que consideramos adequado e isso deve-se à não adesão dos doentes, mas a muita inércia médica, quer no início do tratamento, quer na utilização das terapêuticas mais adequadas para o doente.

Quais as principais novidades das guidelines de 2023?Diagnóstico da pressão arterial diastólica (PAD) isolada;

  • Diagnóstico a partir dos 16 anos e não apenas 18 anos, como anteriormente;
  • AMPA para fazer seguimento;
  • Atingir PA alvo em 3 meses;
  • Recomenda-se a determinação do risco CV com os sistemas SCORE2 e SCORE2-OP para os hipertensos que não tenham já alto ou muito alto risco devido a doença CV estabelecida, DRC, diabetes de longa data ou complicada, LOMH grave ou elevação muito marcada de um único fator de risco (IB);
  • Gestão da HTA no idoso de acordo com nível de fragilidade e funcionalidade: Deve ser avaliada funcionalidade/nível de fragilidade na avaliação inicial e depois periodicamente. Separação de dois grupos de idosos por idades: 65-79 anos e >=80 anos;
  • Novas tecnologias e cuidado virtual são recomendadas para melhorar a gestão da HTA durante o follow-up;
  • Reforça o papel do team based care.
    A evidência suporta um papel positivo do farmacêutico da comunidade na deteção e controlo da hipertensão e fatores de risco CV.
    A participação do enfermeiro nas equipas com um papel além da medição da PA pode ser de especial relevância.
  • O seguimento pode ser feito por equipas que proporcionam o conhecimento e cooperação entre diferentes especialistas médicos e outros profissionais de saúde, estando as intervenções baseadas em equipas associadas a maiores reduções da PA e aumento das taxas de controlo.

Quais as principais conclusões/ideias-chave que pretende transmitir aos colegas durante a apresentação?

  • A HTA é o principal fator de risco para muitas patologias, mas é por si só uma doença.
  • Há múltiplos fatores de risco para HTA, sendo que a pobreza, poluição sonora e ambiental podem contribuir para desencadear e agravar a HTA.
  • Não se pode dissociar o tratamento farmacológico do não farmacológico da HTA, sendo que, quanto mais jovens forem, mais importantes serão as alterações do estilo de vida.
  • A principal causa de não controlo da PA pela não adesão e inércia médica
  • Diagnostico deve ser confirmado pela avaliação em consultório.
  • Novas tecnologias e cuidado virtual são recomendadas para melhorar a gestão da HTA durante o follow-up.
  • Estratégia de seguimento dos doentes:
  1. Durante os primeiros 3 meses (objetivo de tempo para alcançar controlo): efetuar consulta repetidas com medição da PA
  2. Seguimento a curto prazo: em pacientes com PA fácil de controlar e baixo risco CV repetir a visita depois de um ano. Nos restantes avaliar em menos de 1 ano.
  3. Seguimento a longo prazo: em pacientes com PA fácil de controlar e baixo risco CV repetir fazer avaliação anual com exames complementares básicos ou alargados a cada ≥3 anos. Nos restantes o seguimento deve ser individualizado e mais frequente.

Team base care:

  1. A evidência suporta um papel positivo do farmacêutico da comunidade na deteção e controlo da hipertensão e fatores de risco CV.
  2. A participação do enfermeiro nas equipas com um papel além da medição da PA pode ser de especial relevância.
  3. O seguimento pode ser feito por equipas que proporcionam o conhecimento e cooperação entre diferentes especialistas médicos e outros profissionais de saúde, estando as intervenções baseadas em equipas associadas a maiores reduções da PA e aumento das taxas de controlo.

SM

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