“O grau de controlo [dos doentes hipertensos] está aquém daquilo que consideramos adequado”
Rosa de Pinho, médica de família, é uma das oradoras da sessão “Guidelines hipertensão 2023: highlights para a prática clínica”. Em entrevista a médica fala sobre as principais novidades destas novas orientações, para o tratamento da HTA, um importante fator de risco cardiovascular e cujo grau de controlo ainda está aquém do espectável. Esta sessão conta também com Jorge Polónia, internista, e Paulo Pessanha, médico de família, como oradores, e com Manuel Viana, médico de família, como moderador.
Qual a importância de se realizar uma sessão sobre este tema neste evento?
Em Portugal, a principal causa de morte continua a ser as doenças cardiocerebrovasculares e, dentro destas, o acidente vascular cerebral (AVC) ainda é o principal culpado. Além da mortalidade, provoca também grande morbilidade, tendo a incapacidade provocada pelo AVC um custo enorme na saúde do doente, da família e da comunidade.
A hipertensao arterial (HTA) é o principal fator de risco para o AVC e, por isso, sabendo que estas Jornadas têm como público-alvo a MGF, com um número de inscritos muito elevado, e que o ano de 2023 foi marcado pela atualização das Guidelines Europeias para o Seguimento da HTA, faz todo sentido partilhar com os colegas MGF as orientações nesta área.
Somos nós, MGF, que tratamos a grande maioria dos hipertensos, mas infelizmente o grau de controlo está aquém daquilo que consideramos adequado e isso deve-se à não adesão dos doentes, mas a muita inércia médica, quer no início do tratamento, quer na utilização das terapêuticas mais adequadas para o doente.
Quais as principais novidades das guidelines de 2023?Diagnóstico da pressão arterial diastólica (PAD) isolada;
- Diagnóstico a partir dos 16 anos e não apenas 18 anos, como anteriormente;
- AMPA para fazer seguimento;
- Atingir PA alvo em 3 meses;
- Recomenda-se a determinação do risco CV com os sistemas SCORE2 e SCORE2-OP para os hipertensos que não tenham já alto ou muito alto risco devido a doença CV estabelecida, DRC, diabetes de longa data ou complicada, LOMH grave ou elevação muito marcada de um único fator de risco (IB);
- Gestão da HTA no idoso de acordo com nível de fragilidade e funcionalidade: Deve ser avaliada funcionalidade/nível de fragilidade na avaliação inicial e depois periodicamente. Separação de dois grupos de idosos por idades: 65-79 anos e >=80 anos;
- Novas tecnologias e cuidado virtual são recomendadas para melhorar a gestão da HTA durante o follow-up;
- Reforça o papel do team based care.
A evidência suporta um papel positivo do farmacêutico da comunidade na deteção e controlo da hipertensão e fatores de risco CV.
A participação do enfermeiro nas equipas com um papel além da medição da PA pode ser de especial relevância. - O seguimento pode ser feito por equipas que proporcionam o conhecimento e cooperação entre diferentes especialistas médicos e outros profissionais de saúde, estando as intervenções baseadas em equipas associadas a maiores reduções da PA e aumento das taxas de controlo.
Quais as principais conclusões/ideias-chave que pretende transmitir aos colegas durante a apresentação?
- A HTA é o principal fator de risco para muitas patologias, mas é por si só uma doença.
- Há múltiplos fatores de risco para HTA, sendo que a pobreza, poluição sonora e ambiental podem contribuir para desencadear e agravar a HTA.
- Não se pode dissociar o tratamento farmacológico do não farmacológico da HTA, sendo que, quanto mais jovens forem, mais importantes serão as alterações do estilo de vida.
- A principal causa de não controlo da PA pela não adesão e inércia médica
- Diagnostico deve ser confirmado pela avaliação em consultório.
- Novas tecnologias e cuidado virtual são recomendadas para melhorar a gestão da HTA durante o follow-up.
- Estratégia de seguimento dos doentes:
- Durante os primeiros 3 meses (objetivo de tempo para alcançar controlo): efetuar consulta repetidas com medição da PA
- Seguimento a curto prazo: em pacientes com PA fácil de controlar e baixo risco CV repetir a visita depois de um ano. Nos restantes avaliar em menos de 1 ano.
- Seguimento a longo prazo: em pacientes com PA fácil de controlar e baixo risco CV repetir fazer avaliação anual com exames complementares básicos ou alargados a cada ≥3 anos. Nos restantes o seguimento deve ser individualizado e mais frequente.
Team base care:
- A evidência suporta um papel positivo do farmacêutico da comunidade na deteção e controlo da hipertensão e fatores de risco CV.
- A participação do enfermeiro nas equipas com um papel além da medição da PA pode ser de especial relevância.
- O seguimento pode ser feito por equipas que proporcionam o conhecimento e cooperação entre diferentes especialistas médicos e outros profissionais de saúde, estando as intervenções baseadas em equipas associadas a maiores reduções da PA e aumento das taxas de controlo.
SM
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