13 Mai, 2021

Cancro do Pulmão. “Doentes chegam-nos com a doença mais avançada”

O acesso dos doentes aos Cuidados de Saúde Primários (CSP) ficou comprometido durante alguns meses na pandemia. Por isso, o número de doentes que chegam ao IPO do Porto com cancros do pulmão em fase avançada aumentou. “Muitas vezes nem sequer temos capacidade de tratar o cancro”, sublinha a diretora clínica e oncologista Marta Soares.

Apesar de terem continuado sempre a trabalhar na capacidade máxima (por serem unidades covid-free), os IPO de todo o país sentiram uma queda da atividade durante a pandemia devido à quebra da referenciação dos hospitais e centros de saúde. No IPO do Porto, essa referenciação caiu 5 a 10% nos primeiros meses (março, abril, maio) de 2020 no caso do cancro do pulmão; uma quebra, ainda, assim menor quando comparada com outros cancros.

“A partir daí a referenciação retomou alguma normalidade. Em janeiro e fevereiro, na terceira vaga, não notámos uma diminuição da referenciação”, refere, ao SaúdeOnline, Marta Soares, diretora clínica do IPO Porto e médica oncologista.

No entanto, a especialista diz que “as pessoas chegam em fases mais avançadas da doença”. “Deu-se muito foco aos doentes Covid, as consultas de rastreio não se realizaram e mesmo as consultas urgentes foram reduzidas. O acesso dos doentes aos Cuidados de Saúde Primários (CSP) ficou comprometido. Por isso, estamos a ver agora situações bem mais avançadas. Muitas vezes nem sequer temos capacidade de tratar o cancro e tratamos apenas sintomaticamente”, diz.

Se antes da pandemia, cerca de 20% dos doentes que eram referenciados para o IPO do Porto já tinham a doença numa fase não tratável, “neste momento, esse número aumentou”. “É preocupante. Há doentes que nos chegam com a doença metastizada e com um estado geral tão debilitado que não nos permite fazer qualquer tratamento”, admite Marta Soares, acrescentando que é “preciso fazer campanhas de sensibilização para os doentes voltarem a procurar os CSP”.

Marta Soares estima que o impacto dos atrasos nos diagnósticos de cancro do pulmão se faça sentir durante mais um ano.

SO

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