25 Jan, 2021

Doentes em hemodiálise são de “altíssimo risco” e não se podem confinar

A Sociedade Portuguesa de Nefrologia alerta para a urgência de testar maciçamente estes doentes e de lhes dar prioridade na vacinação.

A Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN) releva que a mortalidade entre os doentes que fazem hemodiálise nas últimas semanas se multiplicou por sete.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, Aníbal Ferreira, revelou que os dados reportados pelas clínicas de diálise indicam que, nas últimas duas semanas, multiplicou-se por cinco o número de doentes em hemodiálise infetados e por sete o número de doentes falecidos.

“Se vamos esperar mais duas semanas por discutir quando vêm as vacinas, será tarde. Ficaremos apenas com alguns jovens em diálise”, sublinhou o responsável, chamando a atenção para a necessidade de testar semanalmente estes doentes, que “não podem confinar, pois dia sim, dia não têm de se deslocar para fazer tratamento de hemodiálise”.

Aníbal Ferreira, que é diretor do Serviço de Nefrologia do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, lembrou que estes doentes são transportados para os tratamentos em conjunto com outros – as regras ditam um máximo de quatro doentes por transporte – e estão durante cerca de 4,5 horas no mesmo espaço a fazer diálise.

“São de altíssimo risco para se infetarem e infetarem não só as famílias, como a equipa que os transporte, a equipa terapêutica e os outros doentes que com eles fazem tratamento. Estamos severamente preocupados (…). Há um crescimento brutal das infeções e mortes de hemodialisados em Portugal e, se continuar assim, será catastrófico”, afirmou o especialista.

O responsável disse que serão cerca de 12.500 os doentes a precisar de hemodiálise em Portugal e recordou que, quando ficam infetados e precisam de ser internados, ficam dependentes não só de ventilador, mas também de uma máquina de fazer diálise, o que complica ainda mais a gestão de recursos nos hospitais.

“Só com uma vacinação prioritária e de forma sistemática e maciça, como estão a fazer outros países, por exemplo, semanalmente, é que se pode detetar precocemente as infeções e isolar”, defendeu o especialista, frisando: “Não os podemos mandar para casa infetados senão morrem”.

“Ou conseguimos fazer isto esta semana e na próxima, ou provavelmente teremos muito menos doentes para vacinar”, acrescentou.

Em comunicado, a Sociedade Portuguesa de Nefrologia reconhece que “muitos grupos da população têm motivos para se considerar prioritários, no processo de vacinação contra o SARS-CoV-2” e que a gestão destas prioridades, “sobretudo perante um acesso que se reconhece ser afinal mais difícil e escasso do que inicialmente previsto, é particularmente difícil”.

“Mas essas dificuldades não nos podem impedir de reconhecer que se não agirmos agora, será tarde demais”, sustenta a organização, sublinhando a urgência de “testar maciçamente (semanalmente) e vacinar” todos estes doentes.

”Se nada for feito na semana que agora começa, será muito provavelmente demasiado tarde”, insiste.

Recorda igualmente que se trata de “doentes maioritariamente idosos, com grande fragilidade e várias comorbilidades, (diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca), para além do grave compromisso das suas defesas associado à insuficiência renal crónica”.

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