13 Jul, 2021

Cancro colorretal. Inteligência Artificial ajuda a reduzir “missed lesions”

Hospital de Loures tem taxas de deteção de lesões pré-malignas na ordem dos 35 a 40%, devido "à otimização da técnica endoscópica e da sedação e ao desenvolvimento tecnológico da imagem", o que representa um avanço na luta contra o cancro colorretal, adianta, ao SaúdeOnline, o gastrenterologista do Hospital Beatriz Ângelo.

Há um aumento dos casos de cancro colorretal diagnosticados em fase tardia? Qual a realidade no Hospital de Loures?

De facto o atraso nos exames de diagnóstico provocado pela “crise pandémica” levou a que doentes com indicação para a realização de colonoscopia as fizessem mais tarde. Isto aconteceu nalguns casos por vontade do próprio doente mas também pelo ajuste operacional e pela capacidade de resposta dos próprios serviços. Naturalmente, este atraso pode permitir que lesões superficiais pré-malignas ou já malignas (mas em estadios muito iniciais) tenham a oportunidade de se desenvolver e de se tornarem lesões “avançadas”, cujo tratamento passa necessariamente por uma intervenção cirúrgica com ou sem quimioterapia.

Temos assistido a casos de doentes nesta situação, no entanto, não serão ainda, em número suficiente para se poder comparar/avaliar com precisão o impacto destes condicionalismos. Para isso, teremos que avaliar os dados nacionais ao longo dos próximos 2-3 anos, nomeadamente a incidência e a mortalidade por Cancro do Cólon e Reto (CCR).

Tem ideia do aumento dos casos de neoplasias já metastizadas? Nessas situações, o prognóstico piora a que ponto?

O CCR é uma neoplasia em que se pode dizer que a maioria dos casos é de evolução lenta o que permite aos Gastrenterologistas identificar e remover lesões pré malignas ou malignas muito iniciais de forma simples e minimamente invasiva por colonoscopia. Nos estadios intermédios a doença é potencialmente curativa mas com recurso a cirurgia e quimioterapia. Nos casos mais avançados o prognóstico é significativamente pior, não sendo habitualmente possível pensar em estratégias de tratamento curativo.

Nas colonoscopias de rotina, é frequente não se identificarem lesões quando elas existem? Que fatores contribuem para essas falhas?

Sabemos desde há 30 anos que a colonoscopia não identifica sempre todas as lesões. Lesões pequenas (polipos diminutos) e em posições de difícil acesso podem não ser identificadas. A anatomia do cólon é determinante neste sentido, bem como a técnica de colonoscopia e um tempo de retirada adequado a uma inspeção da totalidade do orgão. Para além destes, a preparação intestinal (que depende dos próprios doentes) é um fator fulcral. Uma boa preparação num cólon sem lesões permite recomendar um intervalo de 10 anos para a vigilância seguinte, enquanto que uma preparação inadequada leva-nos a recomendar essa mesma vigilância em apenas 1 ano!

Neste contexto, qual a importância da Inteligência Artificial, nomeadamente do pioneiro sistema de deteção computadorizado?

A tecnologia tem vindo a melhorar a nossa capacidade de identificar lesões. As recomendações internacionais identificam, desde há muito, um limiar mínimo de qualidade em colonoscopia com taxas de deteção de adenomas (pólipos pré-malignos) de 25%. No entanto, com a otimização da técnica endoscópica e da sedação e com o desenvolvimento tecnológico da imagem conseguimos ter, hoje em dia no nosso hospital, taxas de deteção para estas lesões de 35-40%. A Inteligência Artificial tem vindo a ter cada vez mais aplicações em Medicina. A sua aplicação na colonoscopia foi estudada em múltiplos ensaios clínicos que comprovaram a sua utilidade no sentido de aumentar a deteção de lesões. Desta forma vai ser mais uma valiosa ajuda para aumentar a nossa capacidade de reduzir ainda mais a ocorrência das chamadas “missed lesions”. É mais um avanço que aumenta a nossa eficácia na luta contra o Cancro do Cólon e Reto.

TC/SO

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