20 Out, 2023

“A insuficiência respiratória é das doenças mais prevalentes na Urgência”

José miguel maia é internista e intensivista e fala sobre a importância da formação dos internistas em insuficiência respiratória.

Porquê o tema “Urgências Respiratórias”?

Nas últimas reuniões, este tema ainda não tinha sido muito abordado e como o doente adulto com patologia respiratória é muito frequente nos serviços de urgência, o NEDRESP achou que faria todo o sentido. Somos internistas e estamos na linha da frente na Urgência.

 

Vão abordar a insuficiência respiratória. Quais as principais patologias que levam o doente a esta condição tão grave?

A insuficiência respiratória é, de facto, das doenças mais prevalentes quer no serviço de Urgência quer no Internamento. É, aliás, transversal a inúmeras entidades clínicas e este detalhe é muito importante, porque perante um caso de insuficiência respiratória convém perceber bem o mecanismo fisiopatológico e qual a entidade que está a provocar este quadro clínico.

Temos um programa muito abrangente e multidisciplinar, envolvendo, nomeadamente a Cardiologia de Intervenção, a Broncologia de Intervenção e a Radiologia de Intervenção. Saber referenciar também é muito importante. Vamos também abordar o suporte de função, nomeadamente a ventilação não invasiva (VNI) e a oxigenoterapia de alto fluxo, já que os internistas também estão responsáveis pelas unidades de cuidados intermédios. Existem muitas informações novas nesta área e é preciso atualizar conhecimentos, inclusive em três entidades clínicas muito prevalentes: doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), asma e doença pleural.

 

Quando fala nessas informações mais recentes tem muito a ver também com as técnicas não invasivas?

Exatamente. No suporte de função evita-se a ventilação mecânica invasiva, o que é obviamente uma mais-valia para o doente. É essencial reconhecer atempadamente a falência para se evitar a escalada de suporte. Na reunião vamos abordar determinadas situações. Por exemplo, todo o pneumotórax necessita de ser drenado? São diferentes palestras para se perceber bem o contexto da (não) invasibilidade.

“O especialista em Medicina Interna está sempre presente na observação dos mais variados doentes, em particular idosos”

São internistas e estão muito presentes (também) na urgência. O envelhecimento da população também obriga a que se aposte mais nesta formação na área respiratória?

Sem dúvida! Os internistas estão em todos os serviços de urgência, independentemente do tipo de organização. O especialista em Medicina Interna está sempre presente na observação dos mais variados doentes, em particular idosos. No inverno é comum haver uma maior afluência às urgências por acusa de infeções respiratórias ou exacerbação de doenças respiratórias ou outras. A formação é essencial para prestarmos os melhores cuidados aos doentes. No caso dos mais idosos, não podemos esquecer que, regra geral, são doentes com multimorbilidades.

“Primeiramente é sempre preciso perceber se se trata de uma patologia infeciosa ou se se trata de uma exacerbação de doença já pré-existente”

Os principais desafios nas urgências respiratórias é o diagnóstico?

Primeiramente é sempre preciso perceber se se trata de uma patologia infeciosa ou se se trata de uma exacerbação de doença já pré-existente. Existem várias entidades diagnósticas que, no contexto de exacerbação aguda, também afetam o sistema respiratório. É preciso ter capacidade para se fazer um diagnóstico referencial.

 

O facto de se ser internista facilita esse diagnóstico diferencial?

Sim, de facto é a especialidade que vê o doente em toda a sua extensão.

 

Como avalia, atualmente, a interligação da Medicina Interna com outras especialidades na área respiratória?

É positiva e não apenas nos hospitais. Também na Medicina Geral e Familiar. A própria Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar tem um grupo dedicado a estas doenças: o GRESP – Grupo de Doenças Respiratórias. Os doentes não são apenas do internista, são partilhados com as outras especialidades. No caso específico da Pneumologia, caminhamos lado a lado, porque, se não, seria impossível dar respostas aos muitos doentes respiratórios.

 

Quais as principais mensagens que gostaria que os participantes levassem para casa?

No que diz respeito à temática, espero que os ajude a identificar precocemente a exacerbação e a estratificar o grau de gravidade para se iniciar, atempadamente, o tratamento mais adequado. E, obviamente, a partilha de experiências e de diferentes realidades hospitalares interpares também é importante.

MJG

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais