28 Mar, 2023

Cientistas identificam zonas cerebrais afetadas por tensão arterial alta

Cientistas esperam que este novo conhecimento os ajude a desenvolver novas formas de tratar o declínio cognitivo em pessoas com uma tensão arterial alta.

De acordo com um estudo publicado na revista científica European Heart Journal e de um trabalho publicado pelo jornal Público, uma equipa de cientistas identificou as regiões específicas do cérebro que são atingidas por tensão arterial alta e que são associadas ao declínio de processos mentais, ou até ao desenvolvimento de demência.

Já era sabido que a tensão arterial elevada poderia estar associada à demência e ao desgaste de certas funções cerebrais. O trabalho não surge como algo novo nesse sentido. Contudo, a equipa coordenada por Tomasz J. Guzik, da Universidade de Edimburgo, vem mostrar quais as regiões cerebrais concretas que são afetadas por tensão arterial elevada e que podem ter um papel na degeneração de certos processos cerebrais.

Para chegar a esses resultados, a equipa analisou imagens de ressonância magnética de cérebros, análises genéticas e outras informações de doentes através do Biobanco do Reino Unido. Na confirmação dos resultados, também foram usados dados de doentes de Itália.

O investigador Tomasz J. Guzik, salientou, em declarações ao Público, que só foi possível tirar essas conclusões porque foram tidos em conta dados de 500 mil pessoas e determinantes genéticas em várias áreas cerebrais.

Quais as zonas afetadas e de que forma?

As zonas identificadas foram o putâmen (na parte frontal do cérebro) e regiões da matéria branca. “Pensamos que essas áreas podem ser onde a tensão arterial elevada afeta a função cognitiva, como a perda de memória, capacidades de raciocínio e a demência”, diz Tomasz J. Guzik, num comunicado da Sociedade Europeia de Cardiologia sobre o trabalho.

Tomasz J. Guzik faz questão de denominar as regiões identificadas na matéria branca. São elas: a radiação talâmica anterior, a corona radiata anterior e a cápsula interna. A radiação talâmica anterior está envolvida em funções como o planeamento de tarefas diárias simples e complexas. A corona radiata anterior e a cápsula interna estão envolvidas em tarefas como a gestão emocional e a tomada de decisões. “Ao identificarmos estas regiões do cérebro, conseguimos perceber melhor como a tensão arterial alta afeta o cérebro”, refere o cientista.

Segundo Tomasz J. Guzik, a tensão arterial pode ter um impacto significativo no cérebro de diferentes formas. “Quando a tensão arterial é alta, essa pressão maior é transmitida de vasos sanguíneos maiores para os mais pequenos no cérebro, levando a uma disfunção e doença conhecida por ‘doença dos pequenos vasos cerebrais’”, explica o investigador.

Isto pode afetar o fornecimento sanguíneo e contribui para processos como a ativação inflamatória e a neurodegeneração. Tudo isto pode, assim, contribuir para a demência, a perda de memória e o défice cognitivo.

Além disso, e de acordo com o investigador, a tensão arterial alta pode também causar danos na matéria branca no cérebro, que é composto por fibras nervosas que transmitem informação entre diferentes regiões do cérebro. Os danos nesta área do cérebro podem levar a défices cognitivos e a um aumento do risco de AVC.

“De modo geral, a tensão arterial afeta o cérebro de várias formas e o seu impacto na função cognitiva e na saúde neurológica não deve ser negligenciada. É importante controlar bem os níveis de tensão arterial para evitar danos no cérebro e défices cognitivos”, alerta Tomasz J. Guzik.

Contributos do estudo

A equipa já vê os possíveis contributos no seu estudo. Um deles será a possibilidade de se conseguir olhar para regiões específicas e para as suas mudanças ligadas a uma tensão arterial alta. Olhar com mais pormenor para estas áreas também pode ser útil para a investigação de novos medicamentos para que se possa evitar o declínio cognitivo em pessoas com tensão arterial elevada.

O estudo de genes e proteínas nessas estruturas cerebrais também poderá ajudar a compreender como a tensão arterial alta afeta o cérebro e causa problemas cognitivos. Por último, pode ainda ser algo usado na medicina de precisão: por exemplo, através da identificação de doentes que precisem de tratamentos mais intensos para evitar o desenvolvimento de défices cognitivos.

Alguns dos próximos passos da equipa de Tomasz J. Guzik é a projeção de ensaios clínicos e estudos, para que se possa vir a saber quem terá um risco mais elevado dos défices cognitivos.

 

SO/PÚBLICO

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