“Temos de promover a literacia em proctologia. É preciso desmistificar estas patologias”

Fernando Castro Poças, presidente da Sociedade Portuguesa de Coloproctologia (SPCP), fala sobre os objetivos da atual direção, o estado da arte da Coloproctologia em Portugal, entre outros assuntos. O especialista considera que a prestação de cuidados médicos nesta área é de “elevada qualidade”. No entanto, é ainda necessário que se faça “literacia em Coloproctologia”, para combater tabus, de forma a que os doentes procurem ajuda médica atempadamente.

Assumiu o seu mandato como presidente da SPCP há cerca de três meses. Qual o balanço que faz?
Um balanço muito positivo. Além de iniciativas já realizadas, e de outras já em curso, estamos seguros de que vamos cumprir os objetivos a que nos propusemos e que foram vários. O interesse pela Coloproctologia de todos os membros desta Direção é inquestionável, sendo por si só uma garantia do seu empenho na dinamização, divulgação e desenvolvimento científico desta área do conhecimento médico.

Somos um conjunto de cirurgiões e gastrenterologistas de diferentes faixas etárias e com diferentes anos acumulados de experiência clínica; de hospitais diversos, na sua tipologia e localização geográfica. Estamos certos de que esta diversidade é vantajosa e de que enriquecerá a SPCP. Pretendemos não apenas dar continuidade ao que de positivo vem de Direções anteriores, como também, de um modo muito ativo, desenvolver atividades que promovam e divulguem, de forma sustentada, a Coloproctologia e em particular a SPCP, em nome de todos os seus associados. Os nossos principais objetivos são:

1 – Promover o crescimento e divulgação da SPCP e representá-la no País e no estrangeiro.
2 – Promover o desenvolvimento da Coloproctologia ao serviço da saúde da população portuguesa. Neste ponto faremos todos os possíveis para utilizar diferentes órgãos de comunicação social na promoção da “saúde coloproctológica”.
3 – Dar continuidade e promover novas ações de formação (pré e pós-graduadas) para todos os profissionais com interesse no campo da Coloproctologia.
4 – Estreitar relações com outras Sociedades Cientificas, permitindo a divulgação da SPCP junto das mesmas, nomeadamente através do estabelecimento de relações institucionais e colaborando na organização de eventos científicos.
5 – Criar novas secções e rubricas no nosso site, o que já foi concretizado: Caso Clínico do Mês e os dois Artigos do Mês.
6 – Criar novas “Recomendações da SPCP” e torná-las, bem como às já existentes, mais visíveis no site.
7 – Publicação periódica de Newsletter (SPCP News), como meio de divulgação de conteúdos diversos com interesse para os sócios. Já concretizado.
8 – Criar o Prémio “Melhor Caso Clínico do Mês”, publicado no site da SPCP, com o respetivo regulamento e nomeação do júri. A ser entregue durante o Congresso Nacional. Já concretizado.
9 – Criar Comissões Específicas com o objetivo de apoiar a SPCP nas suas atividades e, em simultâneo, conseguir envolver um maior número de sócios com papel ativo na sua divulgação. Já concretizado.
10 – Inquérito aos Sócios da SPCP sobre a realidade no exercício da sua prática clínica no que respeita ao exercício de funções em consultas especificas de proctologia, técnicas diagnósticas e terapêuticas instrumentais e/ou cirúrgicas que efetuam. Só assim a SPCP poderá ir ao encontro das reais necessidades formativas e científicas dos seus Sócios nesta área do saber. Já concretizado.
11 – Promover campanhas com a finalidade de aumentar o número de sócios titulares e membros associados (uma das pedras basilares para o desenvolvimento da SPCP).

Qual o estado da arte da Coloproctologia em Portugal?
Diria, com toda a segurança, que é muito positivo. Os doentes, a população em geral, podem estar tranquilos que temos um excelente conjunto de coloproctologistas em Portugal, que asseguram uma prestação de cuidados médicos de elevada qualidade. Por outro lado, como já disse, realizámos um inquérito aos nossos sócios que nos vai fornecer uma imagem real sobre vários aspetos do exercício da sua prática clínica. Estamos a analisar os resultados de modo a publicá-los.

 

“Temos um excelente conjunto de coloproctologistas em Portugal, que asseguram uma prestação de cuidados médicos de elevada qualidade.”

Quais os principais desafios que se colocam aos médicos no seguimento e tratamento destes doentes?
Lidamos com patologias muito prevalentes, umas graves e outras com grande impacto na qualidade de vida do doente. Temos de promover a literacia em Coloproctologia e, de modo particular, em Proctologia.

Quais as patologias mais frequentes?
São várias, mas destacaria: abcessos e fístulas anais; cancro colorretal; doença hemorroidária; doença inflamatória do intestino: doença de Crohn e colite ulcerosa; dor pélvica crónica; endometriose colorretal; fissura anal; incontinência anal; obstipação crónica; síndrome de intestino irritável.

Ainda há tabus por parte dos doentes em procurar ajuda médica para as patologias do colon, reto e ânus?
Sim, nomeadamente na área da patologia anal. Infelizmente, são vários os motivos para esta situação. Pela localização anatómica da patologia anal, alguns doentes sentem algum tipo de constrangimento em falar com o seu médico e mesmo com os familiares mais próximos, por sentimento de vergonha; outros pensam que a observação desta área vai ocasionar dor, o que não é de modo algum verdade; outros sentem-se invadidos na sua privacidade; a própria sociedade, de um modo geral, coloca conotação negativa em algumas das patologias, de modo muito particular na incontinência anal e em doenças anorretais de transmissão sexual.

De que forma se pode mudar essa situação?
Como referi acima, é um dos objetivos desta Direção, temos de promover a literacia em proctologia. Temos de desmistificar estas patologias, retirar-lhes todo o tipo de conotação negativa, temos que levar o doente de modo mais fácil e mais precocemente à consulta de Proctologia. Neste ponto, a comunicação social tem, estou certo, um papel fundamental.

 

“Temos de desmistificar estas patologias, retirar-lhes todo o tipo de conotação negativa.”

 

Considera que os doentes chegam atempadamente aos especialistas que tratam estas patologias?

Infelizmente, em várias patologias não chegam no tempo adequado. Talvez um dos exemplos mais flagrantes sejam as situações de incontinência, em que o doente por pudor, por vergonha, a esconde por demasiado tempo. Este atraso pode comprometer o sucesso terapêutico.

Quais os próximos passos a dar no que respeita ao desenvolvimento do tratamento e seguimento destes doentes?
A medicina regista avanços notáveis todos os dias em várias patologias, quer no seu diagnóstico, quer no seu tratamento. A Coloproctologia não é exceção. Temos desenvolvimentos muito significativos em várias das nossas patologias, entre as quais: terapêutica hemorroidária instrumental, numa alternativa à cirurgia, incontinência anal, doença inflamatória do intestino (doença de Crohn e colite ulcerosa), cancro colorretal, cirurgia robótica do cólon e reto, técnicas de recessão endoscópica de lesões pré-malignas e malignas do cólon e reto e anuscopia de alta resolução no follow-up de doentes com infeção anal pelo HPV.

E à prevenção destas patologias?
Efetivamente este é um campo onde muito ainda pode ser realizado. Deixo-lhe alguns exemplos. Todos sabemos que bons hábitos alimentares e exercício físico regular podem contribuir para a prevenção de várias patologias, como cancro colorretal, obstipação crónica, patologia hemorroidária e fissura anal. A prevenção da transmissão de doenças sexuais anorretais, é também outro campo de intervenção.

 

SO

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