4 Abr, 2024

Reforma da Saúde. Mudanças “desarticuladas” e “precipitadas”, diz bastonário

Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, mostrou receios sobre a reforma da Saúde que está a decorrer e o impacto que pode ter na Medicina Geral e Familiar. O responsável falou no 41.º Encontro Nacional APMGF, a decorrer até sábado no Algarve.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, mostrou ter várias reservas quanto ao futuro da reforma da Saúde, nomeadamente no que diz respeito às unidades locais de saúde (ULS).

O responsável mostrou-se “preocupado” com as possíveis consequências negativas da expansão do modelo ULS a nível nacional. “Muito receio que tudo o que tem sido conquistado pela Medicina Geral e Familiar (MGF) se possa desmoronar num momento de grande incerteza no país como o que vivemos, com novo Governo e com várias mudanças na organização dos cuidados de saúde.”

E, como disse ainda, espera que “o casamento forçado” entre CSP e hospitais não ponha em causa “a maior reforma da saúde desde a criação do Serviço Nacional de Saúde”. O bastonário referiu mesmo que as mudanças atuais, nomeadamente as ULS 2.0, têm sido feitas de forma “desarticulada” e “precipitada”, havendo muitas incertezas, até em termos de formação médica.

Na sua comunicação, Carlos Cortes realçou ainda o papel importante da MGF ao permitir cuidados de proximidade, considerando que “não há mais nenhuma especialidade que se tenha desenvolvido de forma tão harmoniosa, rápida e sustentável” como esta.

Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), também se mostrou preocupado com o panorama atual. Na sua intervenção, começou por dizer que falta um planeamento “consciente” na área da Saúde. Para exemplificar, referiu que o documento “Planeamento dos Recursos Humanos em Saúde” fala “muito pouco de médicos e, em particular, de médicos de família”.

Apresentando algumas notícias nacionais e internacionais, lembrou que o problema da MGF é tema de notícias, menos positivas, de falta de médicos ou de profissionais não especialistas em MGF que substituem os médicos de família.

O presidente da APMGF considerou que são situações que levam à emigração e à saída de clínicos para o setor privado. Mencionou ainda que não basta ter boas instituições, é preciso condições para se conseguir um equilíbrio entre a vida profissional e familiar e para que os utentes não tenham que se deslocar de madrugada para conseguir uma consulta. “Existe uma falta crónica de recursos humanos”, sublinhou.

Criticou o facto de ainda se manter uma “uma visão demasiado hospitalocêntrica”, de os vencimentos não serem os melhores e da forma como se avalia o desempenho da equipa.

Concluindo, salientou que “existe vida para além da MGF, mas sem MGF dificilmente haverá vida como a conhecemos”.

Na sessão de abertura do Encontro estiveram também presentes Nina Monteiro, representante da Comissão Científica do evento, e José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira.

MJG

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