24 Mar, 2021

“Na bioMérieux queremos ser a ponte entre o laboratório e o médico, aportando valor clínico ao diagnóstico”

O Diretor-Geral da bioMérieux, Pedro Di Rocco, recordou a proatividade e esforço de adaptação da companhia no início da pandemia de covid-19.

Em entrevista exclusiva à Saúde Notícias, o Diretor-Geral da bioMérieux, Pedro Di Rocco, recordou a proatividade e esforço de adaptação da companhia no início da pandemia de covid-19, no sentido de responder às necessidades que então emergiam. Porém, e ainda que o SARS-CoV-2 tenha dominado o I&D e a produção da companhia no último ano, áreas tão importantes como a tuberculose ou sépsis não foram esquecidas e configuram algumas das mais recentes novidades disponibilizadas no mercado.

 

Num período de pandemia, o valor do diagnóstico reveste-se de particular importância. Como se organizou a bioMérieux para, enquanto companhia pioneira na área do diagnóstico, responder aos desafios hercúleos trazidos pelo SARS-CoV-2?

Antes da pandemia, era muito difícil para as pessoas externas à área da Saúde entenderem em que consiste o meu trabalho e o foco da bioMérieux. A maior parte não estava familiarizada com o conceito de diagnóstico in vitro e com termos específicos como serologia e testes de diagnóstico. Atualmente, é muito mais fácil para as pessoas entenderem aquilo que fazemos, fruto de toda a informação em torno da covid-19.

A pandemia obrigou-nos a repensar os sistemas de saúde e a importância do diagnóstico in vitro e laboratorial de doenças e sobretudo da área em que atuamos, a das doenças infecciosas.

Os desafios da pandemia em termos de diagnóstico passam também por estarmos muito atentos a vírus importantes – como o influenza ou o VSR – cuja prevalência, com a covid-19, reduziu muito, mas que seguramente vão regressar e temos que estar preparados.

 

Quais as soluções disponibilizadas pela bioMérieux no contexto da covid-19 e que mais-valias aportam ao combate a esta pandemia?

A nossa ambição é sermos líderes no diagnóstico das doenças infecciosas e para isso demonstrámos ter uma grande proatividade ao fornecer a todos os laboratórios provas diagnósticas, como a solução de biologia molecular ARGENE para PCR de covid-19, que colocamos muito rapidamente no mercado, mais concretamente em 52 dias. Também disponibilizámos muito rapidamente no nosso sistema FILMARRAY uma prova rápida de covid-19, desenvolvida pela BIOFIRE, plataforma capaz de detetar em apenas uma hora um conjunto de 17 vírus e três bactérias e adicionalmente a covid-19.

Disponibilizámos ainda, de forma muito célere, no nosso sistema VIDAS, uma serologia que permite detetar anticorpos da covid-19 (IgG e IgM) e também estamos a desenvolver um teste quantitativo que vai permitir ajudar na investigação da vacina, no sentido de permitir perceber quanto tempo pós-vacinação os anticorpos permanecem no sangue.

De realçar ainda a excelente qualidade e enorme eficácia das zaragatoas que distribuímos e que permitem realizar as testagens de forma menos invasiva e mais confortável para o doente.

A procura pelos nossos produtos relacionados com a covid-19 foi enorme. A estrutura da bioMérieux teve que aumentar em mais de 100% a sua capacidade de produção, numa altura em que o mundo estava confinado. As nossas unidades de produção tiveram que se adaptar em tempo recorde para uma capacidade que teve que ser exponencial. Esse esforço, além de todos os testes que conseguimos disponibilizar neste período, foi enorme e fruto de uma capacidade coletiva e de um esforço que nem sempre é visível. Como empresa, ao nível da capacidade de produção e de distribuição, numa altura de confinamento geral, houve toda uma cadeia a montante que foi preciso desenvolver e adaptar para responder às necessidades crescentes, decorrentes da pandemia.

 

A bioMérieux acaba de lançar o teste VIDAS TB-IGRA para o diagnóstico da tuberculose (TB). Em que é que este novo método analítico se distingue dos já disponíveis no mercado e em que medida aporta valor e inovação ao diagnóstico desta patologia?

Estamos a trazer inovação na área da TB latente, uma doença muito importante a nível mundial. Em Portugal, este é um problema que está muito bem controlado, mas ainda subsiste uma percentagem importante de TB latente que tem que ser vigiada e monitorizada. A bioMérieux está a lançar o VIDAS TB-IGRA, cuja eficiência em termos de laboratório vai ser espetacular. As soluções atualmente disponíveis para teste de diagnóstico da TB são ainda muito manuais e torna-se difícil e moroso para o laboratório que tem que realizar muitas etapas. O teste VIDAS é totalmente automatizado, permitindo ao laboratório ser muito mais eficiente e disponibilizar resultados num tempo muito mais razoável, com muito menos processos manuais e com uma otimização do trabalho do laboratório.

Este é um teste VIDAS, um teste em que trabalhamos numa plataforma lançada há mais de 30 anos, que é uma plataforma muito robusta e muito bem desenvolvida. E, por isso, atualmente, continuamos a investir em novos parâmetros, por se tratar de uma plataforma muito boa. Está distribuída em todo o Portugal, onde quase todos os hospitais e laboratórios têm o VIDAS ou o MINI VIDAS e onde estamos a trabalhar no sentido de renovar alguns equipamentos, porque para poder utilizar o teste TB-IGRA, vão necessitar da nova versão do VIDAS (VIDAS 3). Tenho a certeza que os nossos clientes vão ficar muito satisfeitos com este novo teste que estamos a lançar, que vai aportar muito valor ao diagnóstico de TB latente.

 

A virologia, atualmente na berlinda devido à situação que o mundo atravessa, é uma das áreas desenvolvidas pela bioMérieux no que diz respeito a soluções de diagnóstico. Quais as outras áreas em que a empresa atua e em que medida são importantes no mercado nacional e global?

Temos muitas soluções inovadoras, sendo que mais de 10% da nossa faturação são aplicados em Investigação e Desenvolvimento. Temos um grande número de investigadores a trabalhar connosco, no seio da companhia, mas também inúmeras parcerias e protocolos com universidades e academias, no sentido de desenvolvermos inovação em conjunto.

Nos próximos meses, vamos lançar no painel BIOFIRE uma solução destinada a detetar infeções nas articulações, que ocorrem no pós-cirurgia de colocação de próteses da anca/joelho. A deteção mais precoce do patógeno implicado nestas infeções permitirá um tratamento mais adequado e pode, em última análise, evitar ter que retirar a prótese.

Estamos a desenvolver um software, chamado Syndromic Trends, muito interessante e inovador ao nível da Saúde Pública para monitorizar, entre outros os vírus respiratórios, que permite ter uma visão geral, a dado momento e em tempo real, de quais os vírus mais prevalentes num determinado hospital, região ou em todo o país, se houver uma conexão entre os vários equipamentos.

Estamos ainda a trabalhar na sequenciação de dados genómicos, com uma plataforma específica que permite analisar as diferentes estirpes virais. Muito útil na covid-19, por exemplo.

Uma das nossas principais missões, enquanto companhia, é ajudar no combate a um enorme problema de saúde pública que é a resistência antimicrobiana (RAM), procurando promover e desenvolver soluções de diagnóstico que permitam uma utilização cada vez mais racional dos antibióticos e um tratamento cada vez mais direcionado. E estamos atualmente a desenvolver um software específico nesta área da RAM. A era pós-antibiótica será uma realidade terrível, pior que a atual pandemia. Hoje em dia, não há companhias farmacêuticas a investir em novos antibióticos, por não ser rentável, pelo que a única forma de combater a RAM é por via de uma otimização do diagnóstico.

 

Afirmam assentar o vosso trabalho no desenvolvimento de “parcerias duradouras”. Que valores norteiam a aposta estratégica da bioMérieux e como se traduzem na relação da companhia com os seus parceiros (médicos, autoridades de saúde, entre outros)?

O nosso principal parceiro é e será sempre o laboratório. O fundador da empresa era químico e trabalhou com Pasteur, pelo que a bioMérieux tem a microbiologia no seu ADN.

O que mais queremos é ajudar o laboratório a aportar valor clínico ao diagnóstico e a conseguir transmitir ao médico esse mesmo valor. A importância desta articulação é fácil de entender se pensarmos, por exemplo, na sepsis, em que tempo é vida. A bioMérieux disponibiliza soluções de diagnóstico que reduzem o tempo do mesmo em cerca de quatro horas, o que num processo séptico é crucial. Mas, é fundamental que o médico conheça estas boas práticas e a rapidez do resultado que as nossas tecnologias permitem e compreenda as mais-valias das mesmas para a sua prática clínica.

Se juntarmos uma espectrometria de massas a um painel FILMARRAY, conseguimos ter resultados em uma hora. O médico tem que conhecer estas inovações e reconhecer o seu valor clínico. São tecnologias que apesar de mais caras apresentam uma excelente relação custo-benefício por comparação ao método de cultura tradicional, aportando menos RAM, otimização de tempo e recursos e menos custos para o hospital e para o sistema de saúde. E em Portugal tudo isto está disponível, mas é preciso que seja rentabilizado e aproveitado da melhor forma possível.

 

Enquanto responsável de uma importante companhia de diagnostico in vitro, com uma aposta forte no diagnóstico das doenças infeciosas, gostaria de deixar uma palavra aos médicos portugueses envolvidos nesta área específica?

Confiem no laboratório e entendam que o laboratório é um parceiro fundamental para um tratamento correto, bem como um excelente apoio na tomada de decisão. Na bioMérieux, queremos valorizar esta parceria entre laboratório e médico e somos o parceiro ideal para estabelecer esta ponte.

 

Como perspetiva a evolução do mercado do diagnóstico in vitro em Portugal e a nível global? Quais intui que serão as tendências futuras?

A RAM é um domínio em que teremos que investir a todos os níveis. A Península Ibérica tem das taxas de RAM mais elevadas da Europa.

Em termos de tendências futuras, no que diz respeito aos cuidados médicos, destacaria o point of care, área em que a bioMérieux já se encontra a desenvolver ferramentas de apoio clínico, como biomarcadores que permitem tomar decisões clínicas importantes.

Na bioMérieux, temos como mote “Patients cannot wait” e somos parte de uma cadeia que salva vidas. Essa é a nossa derradeira missão.

 

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