Interação entre o risco genético para a Degenerescência Macular da Idade e a adesão à dieta Mediterrânica no risco para a doença
Patrícia Barreto, da ABILI - Associação para Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem, alerta para a importância da dieta mediterrânica na prevenção da degenerescência macular da idade, a principal causa de perda de visão a partir dos 55 anos.
A degenerescência macular da idade (DMI) é uma doença degenerativa da mácula e a principal causa de perda de visão nas pessoas com idade superior a 55 anos, nos países ocidentalizados. É uma doença multifatorial para a qual contribuem fatores genéticos e não genéticos. Estão identificados 52 polimorfismos de nucleotídeos únicos independentes, de risco e protetores, associados à doença e, entre os fatores de risco não genéticos, consideram-se a idade, hábitos tabágicos, má alimentação, obesidade e sedentarismo. A evidência científica demonstra que a dieta Mediterrânica é protetora para a doença e a sua progressão.
O grupo de investigação da DMI da AIBILI, liderado pelo Prof. Dr. Rufino Silva, tem estudado como os fatores genéticos e não genéticos podem interagir entre si, de forma a conferir maior risco, ou maior proteção, para a doença. Assim, avaliou-se se a interação entre a adesão à dieta Mediterrânica e o risco genético para a DMI pode modular o risco para a doença. O Coimbra Eye Study, promovido pela AIBILI, é o único estudo epidemiológico da DMI em Portugal e determinou a prevalência, incidência e fatores de risco da DMI em 2 cohortes: Mira e Lousã. Nesta análise, foram estudados 161 casos e 451 controlos.
Como primeira autora deste estudo sobre a interação entre os fatores ambientais e genéticos na DMI, note-se o resultado do grande impacto no conhecimento desta doença: a alta adesão à dieta Mediterrânica, quando comparada com a baixa adesão, reduziu o risco da doença em 60%, ajustando para a idade, sexo, exercício físico e hábitos tabágicos. Adicionalmente, o efeito combinado de se ter baixa adesão à dieta Mediterrânica e alto risco genético para a DMI aumentou significativamente o risco para a doença em quase 5 vezes, comparado com ter alta adesão à dieta Mediterrânica e baixo risco genético para a DMI. As pessoas com alto risco genético para a DMI beneficiaram mais da adesão à dieta Mediterrânica, com uma redução estatisticamente significativa de 60% no risco de doença, ao contrário do grupo de participantes com baixo risco genético para a DMI, nos quais a dieta Mediterrânica reduziu o risco de doença, mas não significativamente.
Os modelos estatísticos de interação refletem se o risco para a doença é diferente considerando dois fatores isoladamente ou em associação. O modelo multiplicativo sugeriu que houve interação positiva entre o risco genético para a DMI e a adesão à dieta Mediterrânica, ainda que não estatisticamente significativa: o risco para a doença foi superior com a interação entre os dois fatores quando comparado com produto do risco conferido pelos fatores isoladamente. O modelo aditivo é mais relevante fisiologicamente, uma vez que os fatores de risco em contexto biológico se adicionam entre si, e não se multiplicam. O índice sinérgico, estatisticamente significativo, a par das restantes métricas de interação aditiva, mostraram também uma interação positiva.
A genotipagem de doentes com DMI é desaconselhada na prática clínica pelo facto da mesma não ter implicação no seguimento do doente. Esta investigação realça a importância de continuar a analisar estes dados, uma vez que considerar o risco genético poderá ser benéfico na avaliação de estratégias não farmacológicas individuais. Concluindo, uma dieta Mediterrânica rica em vegetais, fruta, legumes e peixe reduz significativamente o risco de DMI, e esta redução é mais relevante em pessoas com alto risco genético para a doença.
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