18 Set, 2023

Ex-ministro da Saúde defende avaliação independente da gestão da pandemia

O antigo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmou que o país “ganharia muito” em haver uma avaliação independente sobre a gestão de pandemia de covid-19, que considerou ter sido “um desastre”.

De acordo com o ex-ministro, Portugal “ganharia muito em haver uma avaliação independente, em retrospetiva, sobre o que se passou na pandemia”, defendeu Adalberto Campos Fernandes, que falou em Coimbra, num encontro promovido pela Associação Nacional de Assembleias Municipais (ANAM) para debater a saúde, a propósito do livro “Municípios e Saúde – Entre as lições da covid-19 e os desafios da descentralização”.

Para Adalberto Campos Fernandes, “a gestão da pandemia em Portugal foi um desastre”, considerando ser fundamental que se reflita e se avalie a forma como o país respondeu à covid-19.

“Não confundamos a logística vacinal e distribuição de vacinas nos pavilhões gimnodesportivos e o trabalho notável de 30 mil enfermeiros que, sem dormir, estiveram dias a fio a administrar vacinas, com aquilo que foi o encerramento dos centros de saúde, uma espiral de cancros por diagnosticar”, vincou.

O antigo ministro da Saúde alertou ainda para as “doenças crónicas [que ficaram] por resolver e até o acréscimo de morte por enfarte agudo do miocárdio e por doenças cardiovasculares”. “Não devemos negar a realidade, mesmo que sejamos parte ativa dos erros que foram cometidos”, apontou.

Adalberto Campos Fernandes considerou que falta uma tradição em Portugal de avaliação e de exercício de autocrítica, vincando que a “última coisa que o país precisa é de tranquilidade”.

Durante a sua intervenção, o antigo ministro também realçou a importância da transferência de competências na área da saúde para as autarquias, afirmando que “o poder local faz bem à saúde”, sendo um instrumento “mais ágil e potente” para reformar o Estado.

Também presente na sessão, o presidente da Câmara de Coimbra e antigo bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, considerou que a descentralização e consequente transferência de competências tem sido feita sem o pacote financeiro necessário.

“As câmaras podem fazer melhor e até mais naquilo que são as áreas que foram descentralizadas, mas o orçamento insuficiente coloca-nos problemas”, constatou, referindo que a transferência de competências não aumenta a coesão face à falta do “devido pacote financeiro”, podendo até “agravar as diferenças” entre municípios com diferentes capacidades económicas.

José Manuel Silva constatou ainda algumas incoerências nas políticas da saúde em que, se por um lado o Governo defende a descentralização, por outro, promove a criação de “organizações gigantes”, como é o caso das unidades locais de saúde.

LUSA

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