18 Mar, 2024

“Estima-se que a doença renal crónica venha a ser a 5.ª causa de morte no Mundo em 2040”

Ana Farinha, nefrologista e coordenadora em clínicas de hemodiálise, fala sobre a doença renal crónica e sobre os tratamentos de hemodiálise e diálise peritoneal. A médica considera que mais do que tratar a patologia na sua fase terminal, é mais importante apostar na sua prevenção, até porque se trata de uma doença com forte impacto na qualidade de vida dos doentes e cujos números têm vindo a aumentar.

Na sua perspetiva, quais as mais-valias de se assinalar o Dia Mundial do Rim?
Estima-se que a doença renal crónica venha a ser a 5.ª causa de morte no Mundo em 2040, tendo esta posição vindo a subir exponencialmente já neste século. É ainda uma doença com um forte impacto na qualidade de vida das pessoas e com um impacto socioeconómico muito pesado nos sistemas de saúde. Apesar destas perspetivas, não tem sido dada a devida relevância a esta patologia. O Plano Nacional de Saúde para a década atual, por exemplo, não contempla nenhuma medida neste âmbito. O Dia Mundial do Rim é um dia que se destina a chamar a atenção para este problema em todo o mundo.

“O Dia Mundial do Rim é um dia que se destina a chamar a atenção para este problema em todo o mundo”

Qual a prevalência da doença renal crónica (DRC) em Portugal?
Não existem dados oficiais sobre a prevalência de DRC em Portugal, uma vez que o Ministério da Saúde ou a Saúde Pública nunca fizeram este levantamento. O que sabemos advém de alguns estudos que têm sido feitos, como o Estudo RENA de 2019 e que estima em cerca de 20% ou o estudo CaReMi de 2023 que relata cerca de 12% de doentes prevalentes. A diferença destes números dever-se-á às diferentes amostras onde os estudos são feitos, pelo que os dados reais são desconhecidos.

 

A hemodiálise e diálise peritoneal são dois dos tratamentos disponíveis para estes doentes. Quais as principais diferenças?
Quando os rins deixam de funcionar, a possibilidade de manter a função de “limpeza” do sangue pode ser assegurada por um tratamento chamado diálise. Dentro da diálise temos de distinguir entre a Hemodiálise, uma técnica em que o sangue é extraído do doente e limpo através de um filtro de uma máquina e a diálise peritoneal (DP) em que a limpeza do organismo é feita através da introdução de um líquido na barriga do doente. O primeiro é sobretudo uma modalidade feita em clínicas de diálise e o segundo em casa.

 

Quais as indicações para cada uma delas? Existem condições médicas específicas que favorecem um tipo de diálise sobre o outro?
Ambas as técnicas servem para limpar o sangue e ambas são igualmente eficazes para este objetivo. A indicação depende sobretudo da vontade do doente e do que melhor se adequa para promover a sua qualidade de vida.

 

E contraindicações?
A hemodiálise pode estar contraindicada quando o doente tem problemas de acessos vasculares, quando tem tensão demasiado baixa ou variabilidade na tensão arterial. Já a diálise peritoneal pode estar contraindicada em doentes que já tenham sido operados à barriga.

 

A diálise peritoneal é feita em casa. Considera que, em termos de qualidade de vida, é melhor para os doentes?
Para doentes autónomos que queiram manter maior flexibilidade nos seus horários, uma modalidade feita em casa poderá promover maior qualidade de vida.

 

A percentagem de doentes que fazem diálise peritoneal em Portugal ainda está abaixo do esperado. Porquê?
Em Portugal, existem várias razões para haver poucos doentes em DP:

– Existem muitos mitos errados em relação à diálise peritoneal, nomeadamente o risco de infeções;

– Existe uma população muito envelhecida que não tem autonomia para assegurar a técnica;

– Existe um enorme desconhecimento inclusivamente da comunidade clínica em relação à técnica.

 

Quais os próximos passos a dar nesse sentido?
Em termos de formação, será importante difundir informação correta acerca dos benefícios da técnica. Na comunidade é importante pensar em formas de apoiar a técnica a pessoas que não tenham a autonomia para o fazer.

 

Como vê o futuro do tratamento dos doentes renais em Portugal?
Mais importante do que tratar os doentes renais em fase terminal da doença, é preveni-la! Há que apostar na deteção precoce da doença, no seu tratamento atempado para que menos doentes cheguem à necessidade de tratamentos de substituição da função renal.

 

Sílvia Malheiro

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