VIH e hepatites virais: Criada primeira comunidade de prática portuguesa para deteção precoce
Vai surgir em Portugal a primeira comunidade de prática portuguesa sobre rastreio e deteção precoce do VIH e das hepatites virais.
As organizações que integram o Programa FOCUS da Gilead reúnem-se hoje, data em que se assinala Dia Mundial de Combate às Hepatites, para dar início à primeira Comunidade de Prática portuguesa, dedicada ao rastreio e ligação aos cuidados de saúde de pessoas que vivem com VIH e hepatites virais.
Esta primeira reunião da Comunidade de Prática contará com a participação de todos os membros que integram o programa FOCUS em Portugal: Hospital de Cascais, Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) e Grupo de Ativistas em Tratamento (GAT), bem como de outras entidades que poderão vir a aderir ao programa no futuro.
Neste projeto os peritos vão partilhar experiências, situações de sucesso e projetos que fortalecem a saúde pública e ajudam a detetar novos casos.
Estes peritos vão reunir-se trimestralmente, à medida que as organizações parceiras partilham experiências e colaboram na resolução de problemas. O objetivo primeiro do programa FOCUS passa por sistematizar o rastreio destas infeções, integrando-o no circuito clínico de saúde juntamente com outras análises sanguíneas.
Desde 2018, o Programa FOCUS estabeleceu parcerias com hospitais, centros de saúde e organizações não governamentais em regiões-chave de Portugal e Espanha, permitindo aos parceiros realizar 380.000 testes de VIH e hepatites virais B e C, tornando-o em ambos os países, e até à data, o maior programa de rastreio de vírus transmitidos pelo sangue.
O Hospital de Cascais foi o primeiro a implementar o programa FOCUS na União Europeia, em setembro de 2018. “Ao testarmos os utentes do serviço de urgência de forma automatizada, estamos a conseguir identificar mais pessoas infetadas e estamos a fazê-lo mais cedo no decurso da sua infeção, porque as testamos em fase assintomática, em que ainda não manifestam qualquer sinal ou sintoma de doença avançada”, refere Inês Vaz Pinto, coordenadora da unidade de VIH do Hospital de Cascais.
Já na Região Autónoma da Madeira, e nas palavras de Vítor Magno Pereira, especialista em Gastrenterologia do Centro Hospitalar do Funchal “a transversalidade deste programa criou um rastreio custo-eficaz que se traduzirá num contributo decisivo para a saúde pública dos madeirenses”, tendo em conta que a prevalência encontrada no arquipélago de 0,7% de pessoas com anticorpos contra o vírus da hepatite C, foi o dobro da que seria esperada com base nas estimativas nacionais.
Também na organização não-governamental GAT o programa FOCUS foi útil para apoiar melhorias no rastreio, através da implementação de uma inovadora tecnologia que permite confirmar as infeções pelo VIH e pelo vírus da hepatite C no mesmo local, na mesma hora. “Isto é particularmente importante no caso das pessoas infetadas com hepatites virais”, explica Miguel Rocha, enfermeiro responsável pelo programa no GAT. “Os dados demonstram que são elas quem enfrenta maiores dificuldades na ligação aos cuidados de saúde e, por isso, quem mais beneficia com a implementação de soluções para a confirmação precoce dos seus diagnósticos”.
O modelo orientador do Programa FOCUS baseia-se na premissa de que os testes são integrados no fluxo clínico normal, utilizando a infraestrutura e o pessoal clínico existentes para criar eficiências.
Este programa é uma resposta às recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre o aumento do rastreio populacional e a realização dos objetivos 95-95-95 da ONUSIDA. Segue ainda as diretrizes para o VHC da Estratégia Global para o Setor da Saúde, que apela à eliminação das hepatites virais como uma ameaça para a saúde pública até 2030.
Artigos relacionados: