6 Jul, 2021

“Sem dúvida que a pandemia aumentou a incidência de patologias psiquiátricas”

À Saúde Notícias, a psiquiatra Guida da Ponte comentou o impacto da pandemia no desenvolvimento de alterações do foro psiquiátrico e a sua incidência em faixas etárias mais novas. A especialista em saúde mental perspetiva que o número de pedidos de consultas vai continuar a aumentar.

Considera que o período atual marcado pela pandemia tem fomentado o desenvolvimento de patologias do foro psiquiátrico?

Sem dúvida que a pandemia aumentou a incidência de patologias psiquiátricas, seja pelas suas consequências diretas, neuropsiquiátricas do efeito do vírus SARS-CoV-2, como pelas indiretas, psicossociais, relacionadas com o impacto social e económico.

Quanto às consequências indiretas, historicamente, existe uma relação entre uma “crise” social, política e/ou económica, e a patologia mental, com a primeira sendo fator predisponente para o desenvolvimento de quadros psiquiátricos.

Neste sentido, sente que o confinamento foi também uma oportunidade para as pessoas se darem conta dos seus sintomas e reconhecerem a necessidade de assistência médica?

Sinto que as pessoas estão num sofrimento extremo, que não conseguem suportar, levando-as a procurar o médico.

Se, por um lado, esta procura é positiva, significando que a população confia nos médicos, por outro, indica que temos ainda um longo caminho a percorrer em termos de literacia para a saúde mental, com a necessidade de programas de psico-educação que forneçam as ferramentas adequadas para que a população em geral reconheça as reações agudas ao stress, conseguindo, assim, lidar com o sofrimento.

Qual é a faixa etária que mais recorre a consultas de psiquiatria?

Denota-se um aumento do número de novos casos de perturbações da ansiedade, depressivas ou do sono em adultos jovens, o que muito provavelmente está relacionado com o impacto psicossocial e económico da pandemia. O isolamento social, medo, incerteza acerca do futuro e o desemprego são exemplos de fatores predisponentes para uma maior incidência destas patologias numa faixa etária mais vulnerável em termos adaptativos e económicos.

Como perspetiva o futuro da psiquiatria e a adesão às consultas no período pós-pandemia em Portugal?

Esperemos que a pandemia traga uma oportunidade para a adequada valorização da saúde mental, seja em termos de governação central, como na população em geral.

No entanto, muito provavelmente, as suas consequências negativas a médio/longo prazo promoverão uma maior recorrência da população aos serviços de psiquiatria, especialmente se se instalar a efetiva crise económica e social.

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