A história de dois fa(r)dos: obesidade e tabagismo
Cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo; coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, e do Grupo Trofa Saúde; professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP); investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade

A história de dois fa(r)dos: obesidade e tabagismo

A obesidade grave, habitualmente definida por um IMC>40 kg/m2, ergue-se como uma sombra omnipresente no panorama de saúde dos países desenvolvidos. Esta condição só tem rival no peso do tabagismo, sendo que ambas as doenças arrastam os seus portadores para uma espiral de complicações médicas e morte prematura.

Com o seu peso (real e simbólico), a obesidade grave impõe uma carga devastadora na saúde humana e é responsável por uma intrincada rede de doenças, que incluem patologias metabólicas, cardiovasculares, mecânicas e diversos tipos de cancro. A doença da obesidade afeta não só o corpo, mas também o espírito, com uma íntima ligação a problemas de saúde mental, depressão, ansiedade e alienação social. Este ciclo vicioso, de sofrimento físico e psicológico, culmina, por vezes, em morte prematura. Mais de 6 anos de vida são perdidos em pessoas com obesidade, sendo que alguns grupos com obesidade grave podem ver a sua esperança de vida diminuída em até 17 anos.

Impõe-se, portanto, uma comparação direta com o tabagismo, que é ainda hoje uma das principais causas de morte evitável em todo o mundo. Cada cigarro fumado carrega consigo o risco de desencadear uma série de doenças debilitantes e, potencialmente, fatais: cancro do pulmão, doença pulmonar obstrutiva crónica, doenças cardiovasculares e diversos outros tipos de cancro. Compromete ainda o sistema imunológico, a saúde reprodutiva, a saúde dos dentes e das unhas e tantas outras. Um fumador ativo tem uma esperança de vida reduzida em cerca de 8 anos.

Não se trata aqui de comparar qual o mais grave, mas faz falta enquadrar os riscos para perceber a real dimensão do problema da obesidade. Ambos são importantes problemas de saúde pública e exigem uma resposta integrada por toda a sociedade.

Enquanto, no caso do tabagismo, o objetivo é a evicção, com campanhas de apoio, sensibilização e terapias de substituição, no caso da obesidade, a “simples” alteração comportamental parece não ser suficiente. O sedentarismo e as alterações da dieta moderna contribuem para o desenvolvimento da obesidade. As mudanças na alimentação e a promoção de atividade física são fundamentais para evitar o agravamento da doença e para travar a epidemia a que assistimos. No entanto, o tratamento da obesidade necessita de intervenções mais estruturadas, eventualmente com recurso a tratamento farmacológico ou cirúrgico.

O tratamento mais eficaz para a obesidade grave é a cirurgia metabólica, pois permite a regularização do peso e o controlo das doenças associadas à obesidade. Os doentes submetidos a cirurgia recuperam a qualidade de vida perdida e podem ganhar mais de 10 anos de esperança de vida. Após o tratamento cirúrgico, reduz-se o risco de novos cancros, de eventos cardiovasculares e de desenvolvimento de diabetes. A recuperação da mobilidade permite retomar hábitos de vida mais saudáveis e o controlo do apetite otimiza a adesão a melhores dietas alimentares.

Em última análise, ambos os problemas se erguem como faróis que iluminam os perigos de um estilo de vida não saudável. Cada um traça o seu caminho de complicações de saúde e mortalidade prematura. E, embora a sua abordagem seja diferente, ambos constituem necessárias prioridades e uma missão de saúde pública que não pode ser ignorada. No caso da obesidade, o combate passa também pelo reconhecimento social da efetividade e pertinência dos tratamentos eficazes oferecidos pela medicina moderna.

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