14 Abr, 2022

Reabilitação pós-covid-19. “Adesão é maior do que noutras doenças respiratórias”

Em Portugal, pelo menos 10 mil pessoas que tiveram covid-19 necessitam de um programa de reabilitação respiratória, nas contas do médico fisiatra e coordenador do Núcleo de Reabilitação Cardio-Respiratória e Recondicionamento ao Esforço (Centro de Reabilitação do Norte), para onde já foram referenciados mais de 150 doentes.

Qual o perfil-tipo do doente que é elegível para a reabilitação respiratória pós-covid 19?

Atualmente, com o crescimento exponencial de doentes e a consolidação de conhecimento já existem diversas recomendações internacionais e nacionais para as diferentes fases da doença (desde a fase aguda até a condição pós-COVID-19) e para a diferente gravidade de doença (leve, modera, severa e crítica). Em Portugal, foi recentemente publicada a norma 002/2022 (Direcção Geral de Saúde) sobre a condição pós-covid, segundo a qual os casos moderados a graves com sintomatologia (mMRC ≥ 2) e/ou com saturação baixa (SpO2 < 92%) persistentes devem ser considerados para reabilitação respiratória.

 

Que se estima ser a percentagem de doentes que tiveram a doença e que necessitam de reabilitação respiratória?

A literatura coloca entre dois a 10% a percentagem de infetados que desenvolvem síndrome pós-covid. Desses, aproximadamente metade refere manter fadiga e um terço reporta falta de ar. Apesar de considerar que existe uma sobrestimação, não deixa de ser preocupante. Considerando os mais de 3.500.000 de infectados em Portugal, existem pelo menos 10.000 doentes que após a doença necessitaram de referenciação para programa de reabilitação respiratória.

Quão importante é a reabilitação para estes doentes?

A reabilitação respiratória melhora a tolerância ao esforço, função pulmonar e qualidade de vida destes doentes. Curiosamente, a adesão registada nestes doentes (número de sessões frequentadas) é maior do que a que é registada em doentes com outras doenças respiratórias.

 

Há problemas de acesso à reabilitação por parte destes doentes?

Sim. É um problema já identificado na reabilitação respiratória e prévio à pandemia (quando falamos em acessibilidade devemos pensar em todos os doentes respiratórios). Por outro lado, assistimos a um impulso significativo da telerreabilitação. Hoje em dia já estão disponíveis programas de telerreabiltiação respiratória que aumentam a oferta terapêutica, mas globalmente contínua escassa.

Qual deve ser o papel dos cuidados de saúde primários na referenciação destes doentes para consulta hospitalar?

Os doentes com covid-19, que, durante a fase aguda, estiveram em autocuidados no domicílio, foram acompanhados pelos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e os doentes que estiveram internados foram na maioria dos casos referenciados às unidades de CSP após a alta. Ou seja, os CSP são o local de acompanhamento da maioria das infeções por SARS-CoV-2. Assim, assumem um papel fundamental na estratificação da necessidade de cuidados de reabilitação da quase totalidade dos doentes. A norma 002/2022 criou um fluxograma que permite melhorar o circuito destes doentes, nomeadamente a referenciação à consulta hospitalar.

Qual a realidade no Centro de Reabilitação do Norte (CRN)? Quantos doentes já foram alvo de reabilitação respiratória e quantos foram referenciados?

O Centro de Reabilitação do Norte oferece programas em regime de internamento e de ambulatório. Até ao momento internámos 132 doentes com sequelas de doença severa a crítica para programa de reabilitação. São programas complexos que não se limitam as sequelas respiratórias, e, por isso, envolvem uma equipa multidisciplinar e multiprofissional alargada. No que diz respeito à consulta de reabilitação respiratória estimo que tenham sido referenciados cerca de 150 doentes através de consulta hospitalar e dos cuidados de saúde primários. 36 foram incluídos em classe de reabilitação respiratória ou programa individual e os restantes orientados para programa em regime domiciliário.

SO

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