3 Ago, 2020

Pedopsiquiatra diz que confinamento não teve efeitos negativos nas crianças

O Hospital D. Estefânia está a realizar um trabalho de investigação que visa avaliar o impacto do confinamento na relação entre os pais e as crianças com idades entre os 6 e os 12 anos

O diretor de pedopsiquiatria do Hospital D. Estefânia, Pedro Caldeira Silva, considera que o confinamento imposto pela pandemia de covid-19 não teve efeitos negativos nas crianças, ao contrário dos receios manifestados que iria ser traumático para os mais novos.

O pedopsiquiatra lidera a investigação realizada no Hospital D. Estefânia, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central. Apesar de ainda não ter resultados, o pedopsiquiatra afirma, em entrevista à agência Lusa que, “ao contrário do que em geral se fala e se diz, o impacto da pandemia, do ponto de vista das crianças, não teve efeitos negativos”.

Segundo Pedro Caldeira da Silva, as crianças ficaram contentes por ficar em casa e isso observou-se no período de confinamento, devido ao “estado de emergência” declarado no país, em que foram tomadas medidas excecionais como o fecho de creches, jardins de infância e escolas.

Esse relato foi transmitido aos profissionais de saúde pelos pais das crianças nas consultas telefónicas realizadas pelo Centro de Estudos do Bebé e da Criança (CEBC), onde os filhos são acompanhados.

“Em crianças pequenas com dificuldades importantes, os pais notavam que elas estavam muito melhor, muito mais aliviadas, muito mais contentes, não era unânime, mas era muito geral”, diz o coordenador do CEBC, que integra a Unidades da Primeira Infância do Serviço de Pedopsiquiatria e a Unidade de Desenvolvimento do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.

 

Situação leva a questionar “sobre o que é que andamos a fazer nas escolas”

 

“Não sei se alguém se vai questionar sobre isso, mas acho que é uma boa oportunidade, porque quando nós vemos no terreno é isto que aparece, não é aqueles receios que eu vi escrito em vários sítios [como] ‘a ansiedade dos nossos filhos’, ‘isto vai ser traumático’, ‘coitadas das crianças, vão ficar sem escola’”, salienta.

O que se viu depois é que, “com a organização do teletrabalho, com os pais em casa sem disponibilidade para as crianças, e com a invasão que a escola fez na casa das crianças, em muitos casos com um exagero de trabalhos, horas de classe, claro que as coisas se complicaram”, afirmou, acrescentando: “Mas voltamos ao mesmo, o que é que andamos a fazer com os nossos meninos?”.

Sobre os relatos de pais que dizem sentir alguma culpa por, apesar de estar em casa, não conseguirem dar a atenção devida aos filhos porque têm de trabalhar, Pedro Caldeira Silva diz que “há uma tentação” de terem de tudo certo por causa das crianças, “mas não é bem por aí”.

“As crianças queixam-se que não tem mais nada para fazer, os pais ficam muito culpabilizados e preocupados porque têm que arranjar coisas para os meninos fazer, mas eu quero salientar que o aborrecimento, o não ter nada que fazer, tem as suas virtualidades, também é importante”, salienta.

Apesar de ser verdade que “os adultos têm de proporcionar espaços seguros e oportunidades de atividades e de exploração, não faz mal nenhum as crianças aborrecerem-se”, porque só assim “inventam coisas”.

“É verdade que muitas destas coisas são asneiras, mas é uma boa oportunidade para a criatividade, e agora que o confinamento aliviou, o facto de as crianças poderem estar na rua, é uma ótima oportunidade”, salienta.

Portanto, sustenta Pedro Caldeira da Silva, “não é tudo bom, mas há aqui uma série de circunstâncias que, do ponto de vista da infância, faz com que não tenha sido este ‘desastre’ que as pessoas suspeitaram que foi”.

SO/LUSA

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