22 Jul, 2021

“O transplante permite ao doente renal crónico obter uma nova vida”

Em entrevista à Saúde Notícias, a presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, Susana Sampaio, reforçou a importância da doação de órgãos e dos processos de transplantação na melhoria da qualidade de vida dos doentes renais crónicos.

Quantos transplantes são feitos, em média anualmente em Portugal e qual é o tipo de transplante mais comum?

Em Portugal, excluindo o ano de 2020, que foi, como se sabe, muito diferente dos restantes anos, em média, realizam-se cerca de 780 transplantes por ano. Relativamente ao órgão mais transplantado, tanto em Portugal como no resto do mundo, este é o rim. Este facto deve-se à prevalência da doença renal crónica que em relação às outras doenças de outros órgãos é maior e porque cada dador (falecido), se não houver contraindicação, pode doar dois rins, o que geralmente não acontece com outro tipo de órgãos.

Qual é o processo de candidatura para a doação de órgãos?

O potencial dador é avaliado em consulta de Dador Vivo, sendo-lhe explicados como se processa todo o estudo, que tem que ser pormenorizado para excluir riscos de complicações futuras. O dador é também avaliado pela especialidade de psicologia e/ou psiquiatria, dependendo do protocolo de cada centro de transplantação.

Esta avaliação é importante para avaliar a motivação da doação, verificar se o candidato tem capacidade de compreender o processo e se sente esclarecido e livre para o ato que se vai submeter. O potencial dador tem que ser capaz de perceber os riscos da cirurgia e cumprir as indicações médicas.

Em termos gerais terá de ter idade igual ou superior a 18 anos, não ser obeso, ter ausência de doença significativa e, no caso de ser mulher, não estar grávida. No caso de ser fumador, este deverá deixar de fumar seis semanas antes da doação.

Como são acompanhados os dadores de órgãos?

Geralmente, após a cirurgia de doação e não havendo complicações pode ser retomada a vida normal dentro de dois a três meses após a cirurgia, dependendo da profissão e atividade. No caso da doação do rim, considera-se que ao fim de um mês já estará quase totalmente recuperado. Em princípio não irá necessitar de medicação a não ser para a dor decorrente da cirurgia.

O dador não deverá conduzir, pelo menos, nas primeiras duas a três semanas após a cirurgia por uma questão de segurança e a dor poderá limitar os movimentos. Este deverá ser seguido em consulta anual para toda a vida.

Porque é importante incentivar os portugueses para a doação de órgãos em vida?

O tempo médio em lista de espera para um transplante de dador falecido em Portugal é de 5,5 anos. No caso da doação do rim de um dador vivo, este permite reduzir o tempo de espera e em alguns casos é mesmo possível realizar o transplante antes de entrar em diálise.

O facto de ser uma cirurgia programada permite que o órgão não sofra os efeitos de preservação e, por isso, os resultados são melhores quer em termos de função, quer em termos de duração. Isto é, o transplante de dador vivo geralmente funciona por mais tempo.

O transplante melhora a qualidade de vida e aumenta a sobrevivência do doente pelo que é a melhor técnica, no caso do transplante do rim, de substituição de função renal. A doação em vida permitirá obter essa qualidade de vida e os efeitos clínicos benéficos mais rapidamente e sem que o doente sofra os efeitos do tempo em diálise. O transplante permite ao doente renal crónico obter uma nova vida.

 

LF

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