16 Out, 2023

“Numa altura em que se está a reestruturar a prestação de cuidados de saúde, a primeira mensagem a passar é alertar para o doente crítico”

No âmbito do III Congresso Internacional "UP TO DATE – Emergência", que se realizou no sábado, dia 14 de outubro, o SaúdeOnline entrevistou o organizador do evento, o enfermeiro Filipe Fernandes, que é ainda professor na Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, onde é coordenador pedagógico da Formação Pós Graduada na área da Emergência e Doente Crítico.

Quais as principais mensagens que gostaria de transmitir relativamente aos cuidados que devem ser prestados ao doente crítico? 

Quando refletimos sobre alguns dos principais problemas e desafios que o nosso sistema de saúde tem e enfrenta, os cuidados ao doente crítico pouco ou nunca são referidos.

O facto de termos os serviços de urgência sempre abertos, mais perto ou mais longe, com mais ou menos especialidades, mas havendo sempre uma porta aberta para os doentes, cria a sensação na comunidade de que estes doentes têm sempre uma resposta para a sua situação. No entanto, o doente crítico é um doente tempo-dependente, pelo que ter de se deslocar para um serviço de urgência a 15 minutos pode ter consequências diferentes de ter de viajar 45 minutos até ter assistência medicalizada.

A acrescentar a este facto, interfere um outro relativo a ter ou não assistência medicalizada no pré-hospitalar. Estamos a falar da assistência que o Instituto Nacional de Emergência Médica, através das VMER, das ambulâncias SIV e das ambulâncias da SBV prestam, com uma cobertura nacional, que, no entanto, é diferente estando num centro urbano ou num meio rural.

A discussão atual sobre as urgências de especialidade também afeta o doente crítico.

“O facto de nem todos os serviços de urgência terem capacidade de resposta das principais especialidades que abordam este tipo de doentes também influencia o próprio prognóstico”.

Numa altura em que se está a reestruturar a prestação de cuidados de saúde, nomeadamente a nível hospitalar, a primeira mensagem a passar é alertar para esta situação particular que é o doente crítico.

A segunda mensagem é dirigida à comunidade académica: continuamos a investigar e a estudar muito pouco o doente crítico e os cuidados a ele prestados. É fundamental que a academia se alie às instituições hospitalares e, também, que os profissionais das instituições hospitalares se aproximem da academia no sentido de encontrarem sinergias que potenciem soluções para os problemas que as equipas que prestam cuidados encontram diariamente.

 

Dão especial enfoque ao doente pediátrico. Porquê?

O Congresso Internacional Up to Date já vai na 3ª edição e tem por tradição, todos os anos, tratar de um patamar de abordagem por prioridades ao doente crítico e acrescentar um doente crítico ou uma situação de emergência em particular. No último congresso, abordámos o doente do foro psiquiátrico e este ano dedicámos um espaço ao doente pediátrico.

Para nós, que estudamos e abordamos este doente em particular (o bebé, a criança e a sua família), é fundamental a existência destes momentos de partilha, de discussão e de reflexão de forma que haja também uma uniformização da prestação de cuidados que é mais importante em situações específicas.

Felizmente, na pediatria, não existem com muita frequência situações de emergência como existem no adulto.

 

Que papel têm os serviços de saúde público e privado na abordagem dos doentes críticos?

Esta é uma questão que carece de análise e de reflexão. Constantemente ouvimos falar sobre o encerramento de urgências, sobre urgências que a determinada altura do dia ou da semana não têm uma ou outra especialidade médica.

Por outro lado, temos conhecimento de que no setor privado existe um alargamento da rede hospitalar em zonas onde o SNS não consegue dar resposta, muitas vezes com especialidades médicas que faltam aos hospitais públicos.

“Importa criar um espaço de discussão onde se possa trazer para o domínio público que opções temos, quais opções estarão à partida excluídas e qual é o impacto dessas opções para as comunidades.”

 

Decorreu também um debate sobre as novas recomendações quanto às restrições do movimento da coluna. Que indicações são essas?

Nos últimos anos, vários países têm vindo a alterar os seus protocolos de atuação perante a vítima politraumatizada no que concerne aos protocolos de imobilização e transporte.

Recentemente, o INEM divulgou novas recomendações que alteram a forma como os profissionais devem abordar estas vítimas. Temos na nossa ordem de trabalho a apresentação da realidade nacional por um palestrante que esteve envolvido na revisão destas novas normas e também de um palestrante que nos vai trazer a realidade brasileira sobre esta temática.

 

MJG

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