11 Mai, 2018

Níveis de adesão à greve dos médicos aumentaram no último dia. Sindicatos acusam o governo de não querer negociar

FNAM e SIM dizem estar “admirados” com o aumento do número de médicos que aderiram ao último dia de greve, “nomeadamente no norte”. As duas estruturas sindicais acusam o Governo de não negociar com os médicos e pediram que o parlamento interceda no processo.

O último dos três dias de greve dos médicos registou uma adesão global superior a 85%, num “balanço extraordinariamente melhor que ontem”, revelam os dois sindicatos que a convocaram.

Em conferência de imprensa ao início da tarde, a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), disseram estar “admirados” com o aumento do número de médicos que aderiram ao último dia de greve, “nomeadamente no norte”.

“Os blocos continuam com adesão quase a 100%, aumentou imenso a participação na greve dos médicos nas consultas externas dos hospitais, tanto dos grandes como dos pequenos centros. Aumentou também a participação dos médicos de família em todas as unidades de norte a sul do país”, afirmou João Proença, presidente da FNAM.

O responsável saudou os médicos que “participaram na jornada” e recordou os “120 milhões de euros” gastos nas empresas de trabalho temporário que, considera, deviam ser aplicados em hospitais ou centros de saúde.

As duas estruturas sindicais acusam o Governo de não negociar com os médicos e pediram que o parlamento interceda no processo. O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, acusou o Governo de até ao momento ter feito “um simulacro de negociação”, que derivou nesta greve “incómoda para os utentes”.

“Estando num país democrático não me passa pela cabeça que um governo do Partido Socialista, apoiado pelos partidos que o apoiam no parlamento, não negoceie com os sindicatos. Esta insensibilidade em relação aos problemas das pessoas mais frágeis é confrangedora. De facto é lamentável este tipo de atitude, mas vamos acreditar que a partir do primeiro minuto do dia de amanhã [sexta-feira] haja matéria para negociar”, disse.

Para o responsável o apoio dos médicos e a opinião dos utentes em relação à greve “ultrapassaram as expectativas” e reforçaram a “capacidade negocial”.

Num novo balanço sobre o impacto da paralisação, ambas as estruturas voltaram a mencionar que as cirurgias programadas e as consultas externas nos hospitais centrais e as consultas nos centros de saúde foram os serviços mais afetados.

“Temos a compreensão dos utentes”, sustentou, no entanto, Roque da Cunha quando confrontado com o facto de doentes terem ficado, devido à greve, sem consulta ou cirurgia que aguardavam há vários meses ou anos.

“É uma situação criada pelo Governo. [Os utentes] vão compreender que é para melhorar a vida deles no futuro”, assinalou João Proença, questionando por que o Governo “não abre concursos” para médicos nos centros de saúde e nos hospitais. O dirigente da FNAM disse que, decorrida a greve, não houve “nenhum sinal” por parte do Governo em negociar as reivindicações. “É preciso mudar de atitude (…), o parlamento obrigar o Governo a mudar de atitude”, afirmou.

A greve nacional de médicos teve início às 00:01 de terça-feira e termina às 23:59 de hoje, uma paralisação que os sindicatos consideram ser pela “defesa do Serviço Nacional de Saúde”.

A reivindicação essencial para esta greve de três dias é “a defesa do SNS” e o respeito pela dignidade da profissão médica, segundo os dois sindicatos que convocaram a paralisação.

Em termos concretos, os sindicatos querem uma redução do trabalho suplementar de 200 para 150 horas anuais, uma diminuição progressiva até 12 horas semanais de trabalho em urgência e uma diminuição gradual das listas de utentes dos médicos de família até 1.500 utentes, quando atualmente são de cerca de 1.900 doentes.

Entre os motivos da greve estão ainda a revisão das carreiras médicas e respetivas grelhas salariais, o descongelamento da progressão da carreira médica e a criação de um estatuto profissional de desgaste rápido e de risco e penosidade acrescidos, com a diminuição da idade da reforma.

A paralisação nacional afeta sobretudo consultas e cirurgias programadas, estando contudo garantidos serviços mínimos, como as urgências, tratamentos de quimioterapia, radioterapia, transplante, diálise, imuno-hemoterapia, ou cuidados paliativos em internamento.

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