15 Out, 2018

Médicos esperam nova ministra no terreno e a resolver problemas

A substituição do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, foi anunciada este domingo, ao fim de três anos de um mandato marcado por forte contestação dos profissionais do setor. Ordem dos Médicos espera a nova ministra, Marta Temido, no terreno e a resolver problemas.

“De nada adianta mudar de ministro da Saúde se não se conseguir ter um orçamento para resolver problemas. Se o orçamento para a Saúde for o mesmo do ano passado e do ano anterior, não se vai fazer nada na Saúde“, afirmou à agência Lusa o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, que espera um reforço significativo de verbas para o setor.

O bastonário lembra que a nova ministra está ligada ao setor da saúde por via da administração hospitalar, manifestando a esperança de que Marta Temido vá ao terreno e fale com os profissionais para detetar os problemas reais e para os resolver.

A Ordem dos Médicos manifesta-se disponível para colaborar com a nova ministra, mas o bastonário avisa que “não está disposto” a que a situação do setor “fique empatada e parada muito tempo”.

O primeiro-ministro propôs a nomeação de Marta Temido para nova ministra da Saúde, em substituição de Adalberto Campos Fernandes, o que foi aceite pelo Presidente da República. O chefe do executivo substituiu também os ministros da Defesa, da Economia e da Cultura.

Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, com especialização em Administração Hospital pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, Marta Temido exercia atualmente o cargo de sub-diretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, onde se doutorou em Saúde Internacional, e de presidente não executiva do conselho de administração do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa.

Ao longo da sua vida profissional desempenhou diversos cargos de administração, de entre os quais se destaca o de presidente do conselho direito da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), de 2016 até dezembro de 2017, função que desempenhou a convite do ministro que vai agora substituir.

Antes disso, ganhou visibilidade ao presidir a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), entre 2013 e 2015 (cargo que Adalberto Campos Fernandes também ocupou), tendo já tido experiência na gestão de vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como o IPO do Porto e o Centro Hospitalar de Coimbra.

Refira-se que Marta Temido é casada com Jorge Simões, que foi presidente da Entidade Reguladora da Saúde entre 2010 e 2015, sendo professor catedrático com agregação da Universidade de Aveiro e Professor Catedrático convidado no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa.

Foi, de 2009 a 2010, um dos dois coordenadores nacionais do novo Plano Nacional de Saúde e, de 2008 e 2009, coordenador da Equipa de Análise Estratégica sobre o processo de criação e desenvolvimento das parcerias público privadas nos hospitais.

Antes disso, foi presidente da Comissão para a Sustentabilidade do Financiamento do Serviço Nacional de Saúde de 2006 a 2007. Foi Consultor para os Assuntos da Saúde de Jorge Sampaio, durante os seus dois mandados como Presidente da República, entre 1996 e 2006.

Em comunicado, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) “saúda a nova Ministra da Saúde, Dr.ª Marta Temido e manifesta desde já a esperança que o seu exercício governativo seja profícuo em defesa do SNS, e que esta mudança não seja apenas um caso pontual”, espera que a nova representante da pasta da saúde “possa ter uma voz mais audível junto do Sr. Primeiro-Ministro e do Sr. Ministro das Finanças”.

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) também se manifestou, considerando a nomeação de Marta Temido “uma réstia de esperança” para o último ano de mandato do Governo, esperando que tenha uma “postura diferente” com os profissionais do setor.

“Com este ministro [Adalberto Campos Fernandes] e a sua equipa não negociávamos nada, era um ministro que não aceitava negociar nem aceitava as negociações. Estivemos três anos sem qualquer tipo de negociação viável em relação a descongelamentos, a grelhas a concursos”, disse à agência Lusa o presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), João Proença.

Para João Proença, Adalberto Campos Fernandes “era um ministro ausente e sempre favorável aos interesses dos grupos económicos privados”, esperando agora da nova ministra uma postura diferente.

“Espero que com a nova ministra seja uma situação completamente diferente, que tenha uma postura diferente em relação aos médicos, enfermeiros e a todos os trabalhadores da saúde e nomeadamente na defesa do Serviço Nacional de Saúde público, de qualidade e com melhores ordenados para impedir que as pessoas saiam todas do público e vão para o privado”, defendeu o presidente da FNAM.

LUSA/SO 

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