José Silva Nunes: Acesso a tratamentos para a obesidade está a “tornar-se mais difícil”

O endocrinologista José Silva Nunes, presidente da Sociedade para o Estudo da Obesidade, defende ser “imperativo ativar mecanismos que permitam combater o desequilíbrio” no acesso a tratamentos eficazes.

Os endocrinologistas alertam para a urgência da redução da “iniquidade social” que existe no acesso a tratamentos eficazes para a obesidade, que impacta negativamente classes socioeconómicas mais desfavorecidas.

O alerta está expresso numa posição conjunta da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) e da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), com o tema “urgente reconhecer o impacto da obesidade na saúde e garantir um acesso equitativo a terapêuticas eficazes”, divulgada na véspera do Dia Mundial da Obesidade.

“Com o crescimento da curva de casos de obesidade em Portugal e, em paralelo, com o aumento do custo de vida e consequente impacto nas famílias portuguesas – atualmente temos um em cada seis portugueses em risco de pobreza, segundo o INE – torna-se cada vez mais difícil às pessoas aceder a tratamentos que lhes tragam, de facto, uma resposta efetiva e a longo prazo à obesidade”, afirma o presidente da SPEO, José Silva Nunes, num comunicado conjunto.

José Silva Nunes defende ser “imperativo ativar mecanismos que permitam combater este desequilíbrio”, para travar gradualmente a progressão desta doença e do seu impacto.

“A obesidade é o grande problema de saúde pública do nosso tempo e tende a agravar-se no futuro se não atuarmos já, porque tal como nós médicos defendemos para o tratamento da doença em si, também enquanto comunidade, quanto mais cedo interviermos no combate a esta doença crónica maiores serão as probabilidades de sucesso”, diz, por seu turno, o presidente da SPEDM, João Jácome de Castro.

Para João Jácome de Castro, “em vez de se atuar apenas no fim da linha, quando os doentes apresentam complicações como diabetes ou hipertensão, o sistema tem de se concentrar em promover a saúde, em garantir o acesso equitativo a ações de diagnóstico e de monitorização e à medicação, em particular numa fase em que já existem e continuam a surgir opções terapêuticas com resultados muito interessantes”.

Nesta posição conjunta, as sociedades médicas alertam também para “o impacto muito significativo” da obesidade nas pessoas e na sociedade, destacando como prioritários o aumento da literacia em saúde e a implementação de programas de saúde pública de promoção de vida saudável.

No documento, disponibilizado nos seus ‘websites’, as sociedades médicas apresentam como respostas eficazes de perda e manutenção do peso a longo prazo o tratamento médico com medicamentos que promovam a perda de peso e o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica), sendo ambos aplicados como complemento de uma dieta reduzida em calorias e de um aumento da atividade física.

“A obesidade é uma doença complexa e multifatorial caracterizada por uma desregulação do balanço energético, tipicamente causada por um padrão alimentar em que o aporte calórico é superior às calorias despendidas, tendo o cérebro um papel central neste processo”, referem.

Em Portugal, 27,8% das pessoas vivem com obesidade. Somada esta percentagem a quem tem pré-obesidade, a prevalência sobe para 67,6%. Entre as crianças, praticamente um terço tem excesso de peso ou obesidade.

Atualmente, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), 10% do orçamento total em saúde em Portugal é alocado ao tratamento de doenças relacionadas com o excesso de peso e obesidade, uma percentagem superior à média dos países da OCDE (8,4%), representando 3% do PIB nacional.

SO/LUSA

Notícia Relacionada

Mortes por má alimentação podem superar as provocadas pelo tabaco em 2030

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais