25 Fev, 2022

Hormona do crescimento. “Cerca de 10% das crianças com < 2 SDS apresentam risco de ter baixa estatura na idade adulta”

Segundo o pediatra Manuel Fontoura, o diagnóstico da insuficiência de produção de hormona de crescimento passa por várias fases de investigação (clínica, auxológica, imagiológica e laboratorial). Se confirmado o diagnóstico deve ser proposto o tratamento diário com hormona do crescimento.

Hormona do crescimento: história clínica

Relativamente à história clínica na abordagem à criança com baixa estatura, o pediatra Manuel Fontoura refere que é necessário considerar a existência de duas situações: “ou a criança tem antecedentes de crescimento normal e surge com baixa estatura após uma fase de diminuição progressiva do crescimento; ou estamos perante uma criança que sempre foi pequena, com crescimento aparentemente regular mas sempre inferior ao percentil 3, independentemente da estatura dos pais e dos parâmetros auxológicos ao nascer, entrando assim num grupo que podemos chamar de  baixa estatura idiopática”.

De acordo com o especialista, em ambas as situações é necessário investigar a estatura dos pais, bem como avaliar a existência de outras doenças, a influência de terapêutica e ou doenças crónicas e, muito importante, saber como foi a sua evolução durante o período gestacional, tendo em atenção a estatura e peso à nascença. “Cerca de 10% das crianças que nascem com peso ou comprimento inferior ao normal para a sua idade gestacional (< 2 SDS) não recuperam e podem continuar pequenas ao longo do tempo e em risco de se tornarem adultos pequenos. É importante identificar este grupo de crianças e avaliar da necessidade de alguma intervenção terapêutica.

 

Sinais, sintoma e exame físico

“É fundamental enquadrar a criança relativamente à estatura dos pais”, defende o pediatra. O diagnóstico destas crianças passa por “excluir, através da história clínica, e da pesquisa de sinais e sintomas que possam fazer suspeitar a existência de uma doença crónica, de forma direta ou através da repercussão nutricional e que possam ser a causa para a diminuição do crescimento.

Segundo Manuel Fontoura é importante analisar, através de um exame físico, se não há sinais dismórficos sugestivos de alguma doença genética mais rara. Uma criança pode ser pequena, mas estar aparentemente com um ritmo de crescimento normal ou, pode ser pequena e não estar a crescer, o que significa que o número de centímetros que deveria crescer em cada ano é inferior ao normal e por isso ela vai ficando cada vez mais pequena em comparação com os seus pares.

“O exame físico envolve uma pesquisa de sinais de doença crónica, uma pesquisa de sinais dismórficos que nos podem orientar em alguma síndroma específica, a avaliação das proporções corporais para rastreio de doenças ósseas e avaliação antropométrica do peso, da estatura e do IMC (índice de massa corporal). É fundamental termos dados retrospetivos da estatura ao longo do tempo para assim avaliarmos a velocidade de crescimento (número de cm que a criança cresce em cada ano) e comparar esses dados com as tabelas para a idade, sexo e estado pubertário.

Diagnóstico

“A insuficiência de hormona do crescimento pode manifestar-se logo durante o período neonatal. A que se instala de forma secundária manifesta-se a partir de 1-2 anos, mas nestes casos a maioria das crianças são tratadas mais tarde pois até lá muitas vezes o diagnóstico é difícil e a deficiência de hormona do crescimento só se torna exuberante nesta fase.

“O diagnóstico envolve sempre uma avaliação global para exclusão de algum marcador bioquímico de doença crónica. Através do RX da mão, podemos avaliar a idade da maturação óssea que é um bom fator de prognóstico. Em quase todas as situações em que há um atraso no crescimento isso deve-se a uma repercussão secundária ao nível da cartilagem do crescimento ósseo”, adianta o pediatra.

Dependendo da situação clínica, os estudos endocrinológicos para avaliar a secreção da hormona do crescimento, permitem-nos identificar as crianças que têm falta de hormona do crescimento e que precisam de um tratamento com hormona do crescimento e diferenciá-las das que têm baixa estatura com normal produção de hormona do crescimento para a qual não há falta de hormona do crescimento – e que muitas vezes se enquadram no grupo de crianças com baixa estatura idiopática”.

 

Importância do enquadramento social e psicológico

“É importante que haja toda uma explicação clara do que se passa, das terapêuticas disponíveis, e sermos realistas nos prognósticos que fazemos face às expectativas que os pais têm em relação aos tratamentos e àquilo que podem proporcionar. Também é importante valorizar a componente psicológica e desvalorizar aquilo que são alguns centímetros na qualidade de vida futura das crianças e das suas famílias”.

 

Avanços científicos

Relativamente aos avanços científicos nesta área, o médico esclarece que o ponto mais importante é identificar os mecanismos específicos de certas causas de baixa estatura de modo a poderem ser desenvolvidos tratamentos dirigidos a cada caso. A colaboração da endocrinologia e da genética permitirão no futuro alargar os nossos conhecimentos e desenvolver terapêuticas mais precisas e adequadas a cada situação.

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