7 Jun, 2021

“HP é dos quadros clínicos mais graves no contexto da doença cardíaca”

A hipertensão pulmonar é uma anomalia hemodinâmica, com uma incidência entre dois a quatro por milhão de habitantes.

Para assinalar o Dia Mundial da Hipertensão Pulmonar, a Saúde Notícias conversou com o cardiologista Rui Baptista, no sentido de perceber como é que esta doença se manifesta e quais são as complicações clínicas a que estes doentes estão sujeitos ao longo da vida. 

 

Relativamente aos riscos de saúde, os doentes que sofrem de hipertensão pulmonar (HP) podem estar sujeitos a perigos mais agravados do que a restante população?

Os doentes com hipertensão pulmonar são o que apresentam o quadro clínico de maior gravidade, do ponto de vista cardíaco. O doente de HP é um doente sempre muito grave.

Existe uma particularidade, na medida em que em Portugal existe uma rede de centros de tratamento especializados nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Os doentes com HP devem ser encaminhados para esses centros onde é feito um diagnóstico definitivo, e onde tentamos perceber qual é causa. Existe ainda posteriormente um acompanhamento destes doentes de forma muito especializada.

Portanto, estas não são situações que habitualmente sejam seguidas a nível dos cuidados de saúde primários ou num qualquer serviço hospitalar. Neste sentido, a Direção-Geral da Saúde (DGS) tem uma rede de centros de tratamento bem definidos, justamente para seguir cuidadosamente estes doentes, devido às complexidades que a doença apresenta.

Os doentes com HP são sempre doentes de maior risco quando têm uma infeção ou quando necessitam, por exemplo, de realizar uma cirurgia. Fazendo por isso todo o sentido que sejam seguidos em hospitais diferenciados para o favorável seguimento da sua doença.

 

Existe alguma possibilidade de esta poder ser despoletada por outras doenças que a pessoa possa ter associadas?

Sem dúvida. Nós temos formas familiares de hipertensão pulmonar, que passam de pais para filhos.

Temos formas associadas a cardiopatias congénitas, por exemplo, o doente nasce com anomalias no coração, o que favorece o desenvolvimento desta condição.

Mas, também temos formas que são adquiridas ao longo da vida, por exemplo, por exposição a fármacos anorexígenos, derivados das anfetaminas. Ou, ainda, estas doenças podem surgir em associação com doenças autoimunes, como a esclerose sistémica ou lúpus. Portanto, temos aqui uma panóplia de doenças que podem levar à HP.

Por outro lado, mais raramente esta pode ser congénita ou hereditária.

 

Relativamente ao tipo de terapêutica, considera que esta tem cumprido a sua função?

Os avanços nos últimos vinte anos foram extraordinários, mas há ainda infelizmente um longo caminho a percorrer. É preciso compreender que para a forma mais rara de HP, a HAP, surgiram fármacos a partir do final dos anos 90 até 2015 que revolucionaram o tratamento da doença.

Além disso, a transplantação pulmonar que em Portugal se faz no Hospital de Santa Marta é uma solução derradeira para doentes que possam ser transplantados e que não têm outra opção do ponto de vista farmacológico. Falamos aqui de casos mais especiais e em doentes que estejam em condições de transplantação pulmonar.

 

Quais as causas que originam a Hipertensão Pulmonar?

  • Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) causas relacionadas com as artérias pulmonares. Esta é a forma mais rara, mas também a mais grave de HP.
  • Hipertensão Venosa Pulmonar (HVP) surgem devido a problemas no coração. Se o ventrículo esquerdo tiver algum tipo de obstrução ou dificuldade em receber o sangue que vem do ventrículo direito, a pressão sanguínea aumenta.
  • Hipertensão Pulmonar Grupo 3 originada por doenças nos pulmões. Ex: pulmões como bronquite crónica ou enfisema vão estar obstruídos, fazendo com que as artérias estejam em esforço contínuo aumentando a pressão arterial.
  • Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crónica provocada pela obstrução das artérias pulmonares devido a coágulos. Estes soltam-se da região das pernas, obstruindo posteriormente as artérias do pulmão.
  • Miscelânea grupo de causas mais raras e complexas de hipertensão pulmonar, onde se inserem mecanismos múltiplos ou não esclarecidos.
Daniela Tomé

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