6 Abr, 2020

Governo oferece 6,42 euros/hora a novos enfermeiros e concursos ficam “desertos”

O Sindicato de Todos os Enfermeiros Unidos exige contratações e denuncia situações “insustentáveis” que “já são crónicas”, mas “agravaram-se” devido à pandemia.

“O défice de enfermeiros no SNS é crónico e denunciado há muitos anos, mas o enorme afluxo de doentes nas últimas semanas está a tornar a situação impossível. Os enfermeiros estão a trabalhar horas intermináveis sem folgas, sem condições de proteção mínimas, expostos ao contágio. E a situação ainda vai piorar mais com a subida esperada de casos nas próximas semanas”, refere a presidente do SITEU, Gorete Pimentel, citada num comunicado enviado à agência Lusa.

O SITEU exige, assim, que o executivo socialista de António Costa contrate “imediatamente enfermeiros para reforçar as equipas de saúde”, temendo “mais tarde” seja “tarde demais” e que escasseiem enfermeiros nos hospitais.

“Para que os enfermeiros aceitem os contratos que lhes oferecem, o SITEU considera que são necessários incentivos que valorizem a profissão e reconheçam os riscos adicionais a que os enfermeiros estão expostos, nesta altura de pandemia, com turnos ainda mais exigentes, com maior rotatividade e a que acresce um ainda maior desgaste físico e emocional”, lê-se na nota do sindicato.

 

Quem quererá ir para o olho do furacão nestas condições, sem treino e sem equipamento de proteção?

 

De acordo com o SITEU, o Governo está a oferecer para a entrada de novos enfermeiros, com contratos de quatro meses, 6,42 euros por hora, e os concursos lançados “estão a ficar desertos”.

Quem quererá ir para o olho do furacão nestas condições, sem treino e sem equipamento de proteção? Numa altura em que não sabemos quando atingiremos o pico [da pandemia], quanto mais regressar à normalidade?” – são as perguntas formuladas pela direção do sindicato.

Num comunicado que começa com o alerta de que a pandemia covid-19 “está a provocar o caos nos serviços, tendo já alastrado às Instituições Particulares de Solidariedade Social”, nomeadamente aos lares, hospitais privados e cuidados continuados, o SITEU aponta que “o número de enfermeiros doentes” com o novo coronavírus “sobe todos os dias, o que deixa os serviços ainda mais depurados”.

Outra das grandes preocupações deste sindicato prende-se com as condições nas unidades de cuidados intensivos dos hospitais, com Gorete Pimentel a descrever “citações gravíssimas” e que “são necessários três a quatro meses para que um enfermeiro seja integrado numa unidade” destas características, períodos que a presidente do SITEI diz “não estarem a ser respeitados”.

 

Já há enfermeiros sem treino em unidades de cuidados intensivos”

 

Já há enfermeiros sem treino em unidades de cuidados intensivos. Há instituições que, apesar do grau de exigência de uma unidade de cuidados intensivos, têm quatro enfermeiros para nove doentes em cuidados intensivos, não cumprindo com as dotações mínimas seguras, de dois doentes para um enfermeiro em situação normal sem necessidade de uso específico de EPI [Equipamento de Proteção Individual]”, refere Gorete Pimentel.

Segundo a dirigente sindical existem também “unidades de cuidados intensivos que não têm a área de corte definida”, o que obriga, diz a presidente do SITEU, “os enfermeiros a vestir e a despir o EPI na área infetada, correndo um grande risco de infeção”.

“Os doentes em cuidados intensivos necessitam de um cuidado e vigilância especializados, com um conhecimento técnico científico ‘dominado’, existindo uma sobrecarga ainda maior agora com a covid-19 por causa dos EPI que têm de ser vestidos e despidos de modo rigoroso para o enfermeiro não se infetar”, sublinha Gorete Pimentel.

Por fim, o sindicato Enfermeiros Unidos fala da bolsa de reserva de recrutamento, avançando que apenas profissionais de concursos anteriores estão a entrar para as instituições, tendo “esperança de ficarem com uma renovação de contrato quando esta emergência nacional passar”.

“Os enfermeiros que não estão nesta bolsa de recrutamento, e que têm agora a possibilidade de exercer a sua profissão, pensam duas vezes, se o devem fazer. Porque recursos materiais conseguem-se, mas recursos humanos de mão-de-obra qualificada são finitos, e as máquinas não se ligam sozinhas”, frisa a presidente do sindicato.

SO/LUSA

 

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