4 Out, 2017

Fobia de Voo: “Não há máquina no mundo tão bem construída como um avião”

A Voar Sem Medo, um centro especializado no estudo e tratamento da fobia de voo, proporcionou um mini-curso de quatro horas, com a participação de um piloto de linha aérea e duas psicólogas, onde juntou curiosos e profissionais da área para saberem um pouco mais sobre aquele que é um dos medos mais comuns do homem moderno: voar.

No dia 28 de setembro, a equipa Voar Sem Medo, esteve presente no TRYP Lisboa Aeroporto Hotel para mais uma ação de prevenção, com a presença das psicólogas clínicas Cristina Albuquerque e Catarina Cunha e do ex- comandante da TAP, José Guedes.

Com o objetivo de desmitificar preocupações infundadas, durante mais de quatro horas (e porque as questões foram muitas!) uma sala cheia pôde aprender mais sobre o medo de viajar de avião e também alguns conceitos básicos sobre segurança de voo. No final, ainda houve tempo para algumas recomendações gerais para diminuir a ansiedade de voar.

Elsa Fragata (Tripulante de Cabine), Cristina Albuquerque (Psicóloga Clínica), José Guedes (ex-comandante da TAP) e Catarina Cunha (Psicóloga Clínica)

O início da sessão esteve a cargo de Cristina Albuquerque, diretora da Voar Sem Medo, que frisou prontamente: “todos nós temos medo de voar, simplesmente alguns conseguem lidar melhor com isso”. De acordo com um questionário, realizado em 2016 pela Voar Sem Medo, 93% dos inquiridos responderam que quando viajam de avião não se sentem tão confortáveis como em qualquer outro meio de transporte, 59% afirmaram mesmo ser perigoso viajar de avião e 17% das pessoas revelaram nunca ter voado por terem medo.

Porque é que temos medo de voar?

Considerando que viajar de avião é um dos medos mais comuns do homem moderno, Cristina Albuquerque começou por tentar encontrar razões para tal, destacando quatro. O facto de voar ser uma situação “anti-natura”, a falta de informação, a ausência de controlo e o efeito dos media.

O facto de não termos sido talhados para voar deixa-nos desconfortáveis e com algumas reservas. Associado a essa situação, não conhecermos o funcionamento de um avião despoleta em nós o “medo do desconhecido”. “Como é que uma estrutura com mais de 200 toneladas se mantém no ar?”, questiona a psicóloga, recriando uma das dúvidas dos seus pacientes.

A ansiedade é muitas vezes originada pela ausência de controlo que sentimos quando estamos dentro de um avião. Cristina Albuquerque fez até uma comparação com as cirurgias. “Mas durante uma cirurgia, somos anestesiados, adormecemos e lá se vai ansiedade!”.

Este medo é, também, muitas vezes exponenciado por causa do efeito dos media. A especialista afirma que está provado que a maioria destes pacientes tem tendência para consumir tudo aquilo que são documentários, reportagens e histórias sobre tragédias aéreas.

“O ataque de pânico é a ocorrência médica mais reportada pelas companhias aéreas”, afirmou Cristina Albuquerque, deixando claro que uma ocorrência médica não é uma emergência médica e que existem formas de contornar este medo.

As histórias do “aviador”

José Guedes é o mais recente elemento da equipa multidisciplinar da Voar Sem Medo, composta por psicólogos, pilotos, tripulantes de cabine, engenheiros aeronáuticos e controladores de tráfego aéreo.

O seu papel nesta ação é simples: através dos 40 anos de experiência nos aviões vai explicar como funciona, afinal, a “máquina” e como é assegurada a segurança neste meio de transporte. Foi comissário de bordo, mecânico, co-piloto e piloto, sempre na TAP Air Portugal. Hoje, já reformado, juntou algumas das suas histórias favoritas e fez nascer “O Aviador”. Um livro onde podemos conhecer algumas das memórias que mais marcaram o ex-piloto, como é o exemplo de um parto de gémeos a bordo.

José Guedes assegurou, assim, o módulo dos conceitos básicos sobre segurança de voo. Começou por explicar como é construído um avião, fazendo sempre comparações à constituição de um pássaro. A única diferença, garantiu, é que “os pássaros têm energia e os aviões têm motor”. A audiência, ainda curiosa, foi colocando questões por entre risos nervosos e o ex-piloto respondeu sempre com muita tranquilidade, garantindo, por entre experiência pessoal e dados estatísticos, que “não há máquina tão bem contruída como um avião”.

Por entre tantos outros assuntos abordados, ficámos a saber que o avião é o meio de transporte com mais redundâncias, ou seja, aquele que tem mais sistemas essenciais em duplicado. “Se um motor falhar, existe outro perfeitamente capaz de prosseguir viagem até ao outro lado do mundo”, garantiu. Tranquilizando quem o ouvia, deixou claro que os acidentes acontecem, sim, mas nunca por uma falha da máquina. “Errar é humano e nós, pilotos, controladores aéreos, também podemos errar”.

No entanto, o erro humano tende a diminuir uma vez que um piloto é avaliado cinco vezes por ano, sempre com o risco de perder a sua licença. Os pilotos são submetidos a dois exames médicos, dois exames de simulador e um exame em voo de linha, todos os anos.

“Abana mas não cai”, o lema da casa

Um dos grandes medos dos passageiros tem nome: turbulência. O único conselho do ex-piloto da TAP é “coloquem os cintos”. Sempre muito pragmático, José Guedes fez saber que nenhum avião se destrói por causa da turbulência.

“A turbulência não representa qualquer perigo. É apenas desconfortável”, garantiu.

Como dar a volta ao medo

Catarina Cunha, psicóloga colaboradora na Voar Sem Medo, deu algumas dicas que, de um modo geral, ajudam as pessoas com medo de viajar de avião a lidar com a ansiedade sentida antes e durante o voo.

Antes de voar, é aconselhável estar em boa forma. Assim, a psicóloga aconselhou a prática de exercício regular, boas noites de sono e a ingestão de muita água. As malas devem ser organizadas com antecedência para que não seja um processo ainda mais stressante.

O café, o açúcar e as bebidas alcoólicas estão proibidos. Catarina Cunha explicou que a ansiedade traz mais adrenalina ao nosso corpo e estas substâncias só agravam a produção dessa hormona, a epinefrina.

Chegar ao aeroporto com tempo foi também uma recomendação da especialista, assim como tentar escolher o lugar mais à frente possível e, de preferência, perto de uma janela.

Assim que entrar no avião, deve dizer à tripulação que não se sente confortável em voar. Catarina Cunha afirma que, ao saberem, vão dedicar-lhe uma maior atenção.

Levar revistas, livros, jogos ou qualquer coisa que o distraia foi mais uma dica. A psicóloga garantiu que o tempo vai passar mais depressa se estiver entretido. Além de que, deve conversar com os outros passageiros e com a tripulação e não se focar no seu medo. Catarina Cunha deixou claro que estas são apenas recomendações gerais e que quem sofrer deste medo deve procurar ajuda especializada e, desse modo, receber tratamento individualizado.

O curso terapêutico intensivo

A Voar Sem Medo, centro especializado no estudo e tratamento da fobia de voo em Portugal, realiza em Lisboa e no Porto cursos intensivos terapêuticos de três dias. A iniciativa tem como objetivo por à disposição de pessoas com medo de voar uma intervenção terapêutica especializada, com uma taxa de sucesso acima dos 95%.

A intervenção é constituída por três etapas: uma avaliação psicológica antes do programa, o curso terapêutico de três dias com voo incluído e o acompanhamento presencial três meses depois do curso.

O próximo curso em Lisboa vai decorrer nos dias 9, 10 e 11 de novembro (inscrições abertas até 12 de outubro) e no Porto nos dias 23, 24 e 25 de novembro (inscrições até 25 de outubro).

Para mais informações sobre a Voar Sem Medo, visite aqui o site.

 

SO/Sara Fernandes

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