29 Out, 2018

Estudo revela que trombectomias podem reduzir incapacidades de doentes com AVC

A incapacidade de um doente com acidente vascular cerebral (AVC) pode ser reduzida quando ao tratamento medicamentoso se acresce uma trombectomia, refere um estudo económico realizado em Portugal, a propósito do Dia Mundial do AVC, que hoje se assinala.

Em declarações à Lusa, Manuel Ribeiro, coordenador da unidade de Neurorradiologia de Intervenção do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho (CHVNG/E) e um dos médicos envolvidos na adaptação do estudo em Portugal, explicou que, para além de “reduzir a incapacidade dos doentes”, o estudo, também comprova ser possível “ter níveis de poupança elevados para o Estado”.

“Este estudo era uma necessidade porque, apesar de ser algo que toda a gente sabe, era algo que era preciso de fazer no nosso país. A trombectomia [remoção cirúrgica de trombos que bloqueiam a circulação sanguínea] é muito eficaz e permite que os doentes tenham uma maior probabilidade de recuperação. Se conseguirmos que mais doentes sejam independentes aos três meses (indicador utilizado), esses doentes vão gastar menos em cuidados de saúde”, salientou.

O estudo, designado “Cost-Effectiveness of Solitaire +IV t-PA versus IV t-PA alone”, avaliou a relação custo/benefício da trombectomia e concluiu que o Estado pode obter uma poupança total de quase oito mil euros por doente ao recorrer a esta intervenção, do que apenas ao tratamento com medicação.

Manuel Ribeiro explicou ainda que a associação desta intervenção ao tratamento medicamentoso, apenas se aplica em 10% dos casos de doentes em Portugal com AVC, visto que são “os casos mais graves”.

“Apenas 10% dos doentes com AVC tem indicação para fazer este tipo de tratamento, porque são casos graves, cerca de 25% tem indicação para fazer o tratamento medicamentoso e os restantes tem apenas indicação para estarem internados”, contou à Lusa.

Segundo o neurorradiologista, em Portugal, apesar de existirem seis centros de referência hospitalar no tratamento desta doença, dois no distrito do Porto, um em Coimbra e três em Lisboa, “há ainda muito a ser feito”.

“Há muito a melhorar e temos de evoluir na organização pré-hospitalar. Temos de funcionar em rede, não podemos ter intervenção em todas as unidades hospitalares, mas temos de ser rápidos a transportar o paciente para o hospital correto, porque, efetivamente tempo é cérebro e é essa uma das máximas do tratamento do AVC”, sublinhou Manuel Ribeiro.

Também Miguel Veloso, coordenador da unidade de AVC do CHVNG/E e um dos médicos envolvidos no estudo, revelou à Lusa que “falta uma rede de referenciação bem definida” em Portugal.

“Neste momento o que falta é essencialmente uma rede de referenciação bem definida das regiões e dos hospitais para onde tem de ser enviados os doentes, articulando, claramente isso com o INEM para o transporte imediato dos doentes”, afirmou.

Segundo o neurologista, desde que o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho passou a ser um dos seis centros de referência a realizar trombectomias em Portugal, “dois terços dos doentes passaram a ficar independentes”, contrariamente aos cerca de “um terço anteriormente registados”.

“Este estudo comprova que apesar do investimento inicial ser maior, principalmente em equipamentos, esse investimento vai ser recuperado, visto que o internamento é mais curto, os doentes recuperam e a qualidade de vida é enorme”, acrescentou.

Hoje assinala-se o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral, doença que afeta cerca de 30 mil pessoas por ano em Portugal, sobretudo na população com menos de 65 anos.

LUSA

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