14 Abr, 2021

Estudo revela que burnout parental é mais comum nos países ocidentais

Países mais ricos e individualistas são os mais afetados pelo stress associado ao cuidado de crianças e adolescentes

Segundo uma investigação internacional que envolveu 42 países, incluindo Portugal, a cultura apresenta um peso significante na ocorrência de burnouts em pais e mães cuidadores. A investigação, liderada por Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, tinha como objetivo perceber quais os fatores que influenciavam a presença deste fenómeno na parentalidade.

De acordo com os resultados do estudo publicado no jornal científico Affective Science, as culturas onde a atividade parental é mais solitária e cujas famílias têm, em média, menos filhos são as mais afetadas pelo esgotamento físico e mental resultante do cuidado contínuo de crianças e jovens.

Tal como justifica a professora da Universidade de Coimbra (UC) e cocoordenadora da investigação em Portugal, Maria Filomena Gaspar, a parentalidade nestes países “pode ser uma atividade muito solitária, diferentemente do que ocorre em culturas mais coletivistas (…) em que há um envolvimento maior de toda a comunidade na educação das crianças”.

Além disso, de acordo com a professora da Universidade de Porto (UP), Anne Marie Fontaine, nos países onde o “culto à performance e ao perfecionismo (…) tem sido estendido também ao exercício do papel parental”, o individualismo já saliente foi, ainda, agravado pela situação pandémica atual, uma vez que o apoio proveniente das redes de apoio habituais deixou de fazer parte da sua rotina.

Do mesmo modo, tal como descrito na nota divulgada pela UC, a equipa de investigação portuguesa também procurou perceber de que modo a presença de exaustão parental se tornou mais frequente durante as medidas de confinamento aplicadas para combater a atual crise mundial sanitária.

Assim, por meio de uma comparação entre os níveis de stress registados em períodos anteriores e aos da atualidade, verificou-se um aumento desta exaustão em ambos os cuidadores, sendo este “mais acentuado nos pais do que nas mães”, afirmou uma das autoras deste estudo, Joyce Aguiar.

A ausência de recursos a nível emocional para lidar com a pressão resultante do cuidado contínuo dos filhos nas condições atuais, onde o ensino à distância e o teletrabalho representam alguns dos desafios que foram introduzidos no seu dia-a-dia justificam os resultados desta investigação. No entanto, Maria Filomena Gaspar ressalta que, por outro lado, um total de 18,7% dos homens e 26,6% das mulheres “viveram o confinamento como uma oportunidade de redução do burnout parental”.

“É fundamental que psicólogos clínicos e demais profissionais de saúde conheçam o burnout parental para que possam reconhecer os seus sintomas”, de modo a diagnosticar esta patologia que pode ser confundida com a depressão, ressaltou, ainda, outro membro da equipa de investigação, Marisa Matias.

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