Estenose aórtica. A ‘doença dos avós’, que pode ser fatal e está subdiagnosticada
O diretor do Centro de Responsabilidade Integrado Cérebro-Cardiovascular, do Hospital de Évora, alerta para a importância de reconhecer esta patologia, que se estima afetar 5% dos idosos.
Quais são os sintomas mais comuns associados à estenose aórtica?
Os sintomas mais frequentes são o cansaço, a falta de ar, dor no peito e síncope ou desmaio. Estes resultam da alteração que está na base da estenose aórtica, a qual significa que há um aperto da válvula aórtica e a redução da quantidade de sangue que sai do coração cada vez que este faz uma contração (sístole). Portanto, quando há menos sangue a irrigar o coração, poderá haver dor no peito. Se há menos sangue a chegar ao cérebro, dá-se a síncope. Se há menos sangue a chegar aos músculos, a consequência é o aumento do cansaço.
Qual é a sua incidência em Portugal?
A incidência desta patologia é de 5% da população acima dos 65 anos. Esta doença, uma das mais comuns das válvulas do coração, é, por isso, considerada uma “doença de avós”.
Quais são os tratamentos disponíveis para esta condição e de que forma podem impactar o prognóstico dos doentes?
O tratamento da estenose aórtica é realizado através da substituição valvular, seja por cirurgia, seja por intervenção percutânea. De momento, a intervenção percutânea está indicada para doentes inoperáveis, de risco intermédio e alto risco cirúrgico. Mas a tendência e a exigência dos doentes, é a de que a indicação será de acordo com a idade, independentemente do risco cirúrgico.
É crucial reforçar que, tal como se juntaram todos para proteger os avós durante a pandemia, é necessário manter esta atitude em relação à estenose aórtica e aos tratamentos minimamente invasivos. Devemos olhar para os avós como cidadãos de pleno direito de serem tratados e não deixar que fiquem a aguardar em listas de espera de cirurgia ou de intervenção minimamente invasiva por incapacidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Esta é uma patologia subdiagnosticada?
É uma patologia dos idosos e, portanto, alguns dos sintomas, como o cansaço, podem não ser valorizados como patológicos, sendo associados à idade. Além disso, o facto de estes terem concomitantemente outras patologias – como a diabetes e insuficiência respiratória ou renal – poderá dificultar também a valorização desta condição e a respetiva indicação para a substituição cirúrgica da válvula.
Se esta for considerada a única opção de tratamento, pode consequentemente levar ao atraso na indicação para técnicas percutâneas e estas devem ser realizadas o mais precocemente possível, pois a estenose aórtica é uma doença fatal caso não seja devidamente detetada e tratada.
SO