“Doença silenciosa” atinge mais de 10% dos adultos

Estimativa resulta do estudo de base populacional, o EpiReuma.Pt, que avaliou a prevalência de 12 doenças reumáticas em Portugal, incluindo a osteoporose, num universo de 10.600 pessoas de todo o país.

A osteoporose é a doença óssea mais prevalente no mundo e Portugal não é exceção, de acordo com as reumatologistas Helena Canhão, presidente eleita da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, e Ana Rodrigues, responsável do Grupo de Trabalho de Doenças Ósseas Metabólicas desta sociedade científica.

A osteoporose, doença óssea metabólica, caracteriza-se pela perda de quantidade e de qualidade de osso.  Este fenómeno, associado ao envelhecimento, “passa a ser patológico quando aumenta significativamente o risco da pessoa vir a sofrer uma fratura de fragilidade”, explica a Prof.ª  Doutora Ana Rodrigues. A osteoporose é também uma afeção mais frequente nas mulheres que, regra geral, se começa a manifestar “cinco anos após o início da menopausa, devido à diminuição de estrogénios, fundamentais para assegurar e manter a qualidade e quantidade de osso”.

A principal complicação da osteoporose “são as fraturas de baixo impacto e é na sua prevenção, primária e secundária, que nos devemos focar”, defendem as especialistas. O risco “aumenta significativamente depois dos 65 anos” e, na sequência de uma primeira fratura, os doentes “têm três vezes mais risco de registarem um novo evento nos anos seguintes”.

A prevenção primária “deve começar na infância”, defende a Prof.ª Doutora Ana Rodrigues.  “Devemos gerar um bom pico de massa óssea logo nos primeiros anos de vida. Através da adoção de estilos de vida saudáveis, uma alimentação com elementos ricos em cálcio, como o leite e derivados, uma adequada exposição aos raios solares (fonte de vitamina D) e exercício físico regular, para uma boa carga do osso e uma boa musculatura”.

 

A Prof. Doutora Helena Canhão assinala, por seu turno, a importância de conservar esses hábitos saudáveis ao longo da vida, evitar o tabaco e tentar manter um equilíbrio hormonal o mais correto possível. Claro que, por vezes, há problemas que são impossíveis de contornar, como a necessidade de fazer corticosteroides, que aumentam o risco de osteoporose, “mas, dentro das possibilidades, devemos manter uma vida o mais saudável possível”.

Prof. Doutora Helena Canhão

Ao nível da prevenção secundária, a Prof.ª Doutora Ana Rodrigues assinala a necessidade de “assegurarmos ativamente que há uma melhoria da quantidade e da qualidade do osso que permite reduzir o risco de nova fratura, quer com medidas farmacológicas, quer não farmacológicas: reforço da musculatura, exercício físico e alimentação saudável”.

Os médicos, nomeadamente os especialistas de Medicina Geral e Familiar, “devem avaliar o risco de fratura dos utentes, através da sua história clínica e com recurso ao FRAX – Fracture Risk Assessment Tool”. Esta é, na opinião das especialistas, “uma boa ferramenta para decidir se a pessoa tem indicação ou não para realizar uma densiometria”.

A meta do tratamento farmacológico é a prevenção de fraturas e as opções terapêuticas devem ser selecionadas de acordo com o risco. Quer ao nível da prevenção primária da osteoporose, quer secundária, “hoje existe uma plétora de medicamentos variados com evidência robusta”, refere a Prof.ª Doutora Ana Rodrigues.

Designadamente, no grupo de doentes de maior risco de fratura, ou na prevenção de um segundo evento, a especialista destaca que “o grupo dos bifosfonatos, sob a forma oral ou endovenosa, como é o caso do ácido alendrónico, mantém essa evidência de eficácia desde há muitos anos, bem como uma boa relação custo-benefício”.

Mais recentemente, “surgiram os anticorpos monoclonais, como o denosumab, que demonstraram uma elevadíssima eficácia, quer na prevenção primária, quer secundária, em doentes com fratura, sendo que essa eficácia persiste mesmo no subgrupo de doentes com insuficiência renal”.

A especialista refere ainda “os análogos da PTH, osteoformadores, com eficácia demonstrada na  prevenção de novas fraturas, sobretudo vertebrais”.

“Apesar da osteoporose ser muitas vezes assintomática, a ocorrência de uma fratura de fragilidade altera muito a vida das pessoas, não só pela dor como pela incapacidade”, diz a Prof.ª Doutora Helena Canhão. “Sobretudo depois de uma fratura da anca, a maior parte das pessoas não consegue recuperar e voltar ao seu estado anterior. Muitas ficam acamadas para sempre, outras ficam dependentes de terceiros. É muito importante o investimento na prevenção porque, se não o fizermos,podemos já chegar tarde”.

AO/SO

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