17 Abr, 2024

“Não existe evidência científica quanto aos benefícios do Nutri-Score”

O investigador neerlandês Stephan Peters, da Dutch Dairy Association, põe em causa a eficácia do sistema de rotulagem Nutri-Score, que foi adotado em oito países europeus, incluindo Portugal. Em causa está a falta de evidência científica robusta das suas mais-valias.

Por que razão considera que existe um viés no Nutri-Score?

O Nutri-Score foi desenvolvido por uma equipa francesa: l’Equipe de Recherche Epidemiologie Nutritionelle (EREN) da Universidade de Sorbonne, em Paris. Os primeiros estudos (cerca de 50) desenvolvidos para validar a sua eficácia foram da autoria deste grupo de cientistas e os resultados foram sempre promissores.

Mas o mesmo não se verificou noutros trabalhos científicos realizados de forma independente da EREN. Ora, isto sugere que existe um viés. Recorde-se que após a implementação do Nutri-Score nalguns países europeus, iniciou-se um debate na comunidade científica em torno da sua validade e eficácia.  Por exemplo, nos Países Baixos, todos os cientistas da área alimentar desaconselham este sistema de rotulagem e o mesmo acontece em Itália. Na Polónia, a maioria dos investigadores também tem um parecer negativo e, em Espanha, é 50-50. Em França, onde se criou o Nutri-Score, não há sequer qualquer debate. E quem publica trabalhos a pôr em causa este sistema, é atacado pela EREN ou vê os seus estudos serem ignorados pela equipa da EREN.

“…sabendo que ainda se mantém aceso o debate em torno deste sistema de rotulagem, devemos olhar para o Nutri-Score como estando numa fase experimental”

No estudo em que é coautor, que problemas foram detetados?  

Para existir sustentação científica, há que se ter em conta alguns pontos essenciais. O primeiro é o próprio logotipo. É percetível para o consumidor? Quando usado de forma correta, tem teoricamente um efeito benéfico para a saúde? Neste caso, teoricamente, o parecer é positivo para o Nutri-Score. No entanto, a questão essencial a que se tem de responder é se existe evidência científica suficiente, com dados de vida real, se o Nutri-Score tem realmente efeitos benéficos  quando se avalia a sua aplicação nas compras num supermercado. Os poucos estudos que têm avaliado este ponto demonstram que não há qualquer efeito positivo. E há um que concluiu inclusive que poderá levar a compras menos saudáveis.

Tendo em conta esta premissa, e sabendo que ainda se mantém aceso o debate em torno deste sistema de rotulagem, devemos olhar para o Nutri-Score como estando numa fase experimental. Um comité científico procurou otimizar o algoritmo por detrás do Nutri-Score, de modo que se alinhasse com as guidelines alimentares, mas ainda estamos perante um enorme gap. Quase 20% dos produtos existentes no supermercado não estão de acordo com as mesmas.

Voltando à questão do viés, estamos perante uma situação estranha e indesejável. O desenvolvimento do Nutri-Score foi levado a cabo pela equipa da EREN; subsequentemente, a EREN apresentou relatórios sobre a ciência por detrás do Nutri-Score e, após várias discussões científicas sobre os erros deste sistema, foi criado um comité científico que ficou sob responsabilidade de alguém da EREN.

 

O Nutri-Score já está em oito países. O que se pode fazer agora?

Até ao momento, foi adotado por oito países, mas havendo dúvidas por parte da comunidade científica. Infelizmente, o debate em torno desta questão está muito polarizado. Mas, de facto, não existe evidência científica quanto aos benefícios do Nutri-Score na vida real, nas compras no supermercado, existindo um viés;  e o sistema de rotulagem nunca foi posto em causa pela equipa EREN. Acreditamos que a avaliação de ser da responsabilidade de uma comissão científica independente, a European Food Safety Authority (EFSA).

MJG

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