20 Fev, 2024

“Desejamos assegurar um diagnóstico de excelência e um tratamento adequado para os doentes com linfoma”

A reunião científica “Lugano Review”, organizada pelo Grupo Português de Linfomas (GPL) da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH), vai ter lugar no dia 24 de fevereiro, em Lisboa. Em entrevista, Maria Gomes da Silva, presidente da SPH, fala das razões que incentivaram o GPL a organizar esta reunião, bem como dos principais desafios atuais dos hematologistas que tratam esta patologia.

O que levou o GPL à escolha deste tema, de revisão dos conteúdos da reunião de Lugano?
A Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) tem vários grupos de interesse, ou seja, pessoas que, na área da Hematologia, trabalham em torno de uma patologia. Um dos grupos de interesse da SPH é o Grupo Português de Linfomas, constituído por profissionais de múltiplos centros hospitalares que partilham o interesse comum em trabalhar com linfomas. O grupo tem desenvolvido iniciativas como ações de formação e trabalhos de análise de dados em colaboração multicêntrica, entre outras.

O Grupo Português de Linfomas é coordenado pela Dra. Rita Coutinho, que está atualmente a exercer funções no IPO do Porto, e pela Dra. Marília Gomes, do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.

No âmbito das reuniões regulares do Grupo surgiu a proposta que, em 2023, foi enviada à Direção da SPH, de estruturar uma reunião focada na revisão dos temas mais recentes e relevantes nesta patologia.

Para o efeito, a coordenação do grupo selecionou alguns temas e identificou especialistas que pudessem fazer uma revisão dos assuntos mais relevantes apresentados.

Pretendeu-se criar, em todos os temas, oportunidades de discussão, de modo a analisar também as implicações práticas relativas às novidades do último ano.

A SPH vê com muito bons olhos esta iniciativa, que é puramente académica, e que penso que vai contribuir para a atualização dos profissionais em matérias respeitantes à área dos linfomas.

 

De que forma é que a revisão dos conteúdos de Lugano impacta o diagnóstico e o tratamento?
A reunião de Lugano ocorre de dois em dois anos e é focada exclusivamente em linfomas, desde os aspetos da Biologia, à Epidemiologia, Patologia, Imagiologia, Diagnóstico, Tratamento, Acompanhamento e Prognóstico dos linfomas.

A International Conference on Malignant Lymphomas (ICML) foi organizada em Lugano pela primeira vez em 1981. Durante estas reuniões têm sido apresentadas as novidades mais importantes nesta área de patologia. Dela saíram propostas transformadoras da forma como lidamos com os doentes, incluindo por exemplo os critérios de avaliação de resposta à terapêutica e múltiplas discussões sobre os sistemas de classificação. Vários grupos de trabalho organizam meetings para discussão de guidelines durante a reunião. É por tudo isto um momento muito importante de aprendizagem e partilha de conhecimentos para os profissionais que trabalham com linfomas.

Em geral, quando os grupos de investigadores têm algo de relevante para apresentar do ponto de vista de diagnóstico, tratamento, biologia, costumam escolher a reunião de Lugano por ser a que tem mais impacto na área.

Outras reuniões relevantes onde são apresentados temas relacionados são a da Associação Europeia de Hematologia (EHA) que foi desfasada, em dois a três dias, da de Lugano em 2023; muitos temas comuns foram discutidos em ambas as reuniões. No mês anterior realizou-se a reunião da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), onde também um ou outro tema relacionado com o tratamento de linfomas foi discutido. Tivemos ainda a reunião da Sociedade Americana de Hematologia (ASH), em dezembro 2023, sempre um “momento alto” para a apresentação de novidades e atualização de estudos em curso.

Ou seja, são seis meses muito intensos de novidades. Lugano talvez brilhe um pouco por ser a reunião que sentimos como mais relevante e mais focada nesta patologia.

 

Quais são os principais desafios para os hematologistas no que respeita a esta temática dos linfomas?
O Grupo Português de Linfomas deseja assegurar um diagnóstico e tratamento de excelência, de uma forma equitativa em todo o país. Estamos a falar de uma patologia em que o diagnóstico não é fácil, em que é preciso uma competência específica em hematopatologia, bem como experiência na área. Um dos objetivos do grupo é contribuir para a criação de uma rede de diagnóstico, que inclui não só a hematopatologia, como também estudos moleculares e fenotípicos, que contribuem sobretudo para os casos mais complexos.

Obviamente, também, assegurar o tratamento mais adequado a todos os doentes. Por vezes, o tratamento de excelência não é óbvio, ou seja, existem áreas que são controversas, daí a importância de discutirmos, analisando os outcomes e a eficácia do que fazemos.

O grupo tem também como objetivo, em algumas áreas, estabelecer guidelines de atuação no país, adaptadas às características portuguesas.

Neste momento, diria que um dos desafios importantes se prende com o processamento de toda a nova informação que flui constantemente e com a aplicação prática à realidade portuguesa. É necessário dedicar tempo para estruturar as atividades do grupo, o que para a maioria dos profissionais surge em adição à atividade assistencial diária. Uma das missões importantes da SPH é suportar e estimular as atividades dos grupos de interesse, facilitando iniciativas como esta reunião.

 

SO

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