Dulce Gonçalves e Casimiro Correia, da Associação Portuguesa de Enfermeiros, falam sobre os desafios da profissão.
Desafios atuais dos enfermeiros
Os enfermeiros têm tido a capacidade de se adaptarem às mudanças, mantendo o seu foco no cuidado à pessoa e tudo leva a crer que assim continuará. No entanto, temos consciência de que a evolução tecnológica, a evolução do conhecimento científico, as “doenças da civilização”, o surgimento de novas profissões, os constrangimentos económicos, as alterações climáticas, os fenómenos migratórios, a poluição atmosférica, o aumento da esperança média de vida e a diminuição da taxa de natalidade são, entre outros, alguns dos desafios com os quais os enfermeiros se estão e continuarão a deparar.
Temos modelos de robótica a ser utilizados nos procedimentos cirúrgicos, outros que dão apoio a idosos e a pessoas com necessidades especiais, no transporte autónomo de refeições, de medicamentos…
Também as aplicações de apoio aos profissionais de saúde e aos cidadãos têm tido um grande desenvolvimento e há ainda um enorme potencial a explorar. Em constante desenvolvimento e com um crescimento cada vez mais rápido, o conhecimento científico que nos coloca desafios de atualização permanente.
Portugal é um dos países com piores indicadores relativamente ao excesso de peso. A diabetes cresce, segundo o Observatório Nacional da Diabetes, a um ritmo de 168 novos casos por dia e ocorrem 12 mortes diariamente por esta doença (dados relativos ao ano de 2015). Quanto à depressão, os dados relativos a 2016 apontavam para que 20% da população portuguesa sofresse deste distúrbio. Cada vez haverá mais idosos e mais pessoas a viverem sozinhas necessitando de apoio para as suas atividades de vida diária.
Os constrangimentos económicos são um fator que em muito influencia a disponibilidade de recursos humanos e materiais. Associado ao aparecimento de novas profissões que possam eventualmente “ocupar algum espaço dos enfermeiros” e terem remunerações mais baixas poderão ser um desfio para a enfermagem e para a qualidade dos cuidados prestados.
Os fenómenos migratórios são um dos maiores desafios de saúde pública a nível mundial. O impacto dá-se não só nos países de acolhimento, mas também nos de trânsito e de origem. O contacto com diferentes culturas, diferentes formas de encarar a saúde a doença, o nascimento e a morte, e ainda a maior suscetibilidade a determinadas doenças, leva à necessidade de refletir sobre políticas e estratégias de saúde que sejam integradoras, mas também sustentadas.
Segundo a OMS, a poluição do ar pode ser responsável por um aumento de doenças respiratórias
– incluindo o cancro do pulmão – e pelo aumento da ocorrência de doenças tromboembólicas e cardíacas. O aumento da esperança média de vida é um bom indicador, mas que nos traz necessidades de adaptação pelo aumento das comorbilidades e de maior dependência.
Estes são desafios com que nos confrontamos, mas mais do que desafios devem considerar-se oportunidades para a intervenção dos enfermeiros.