20 Set, 2022

Casos de cancro da cabeça e pescoço devem aumentar de forma drástica na próxima década

O álcool e tabaco são os grandes responsáveis pelas estimativas mais recentes. No entanto, este cancro "quando diagnosticado e tratado precocemente, pode ter um bom prognóstico", realça a oncologista Ana Joaquim, do Centro Hospitalar de Gaia/ Espinho.

É um dos tumores mais comuns em todo o mundo, mas o desconhecimento sobre o cancro da cabeça e pescoço e sobretudo sobre os seus principais fatores de risco – álcool e tabaco -, é o grande responsável pelas estimativas mais recentes, que indicam que o número de novos casos deverá aumentar em mais de 200.000 em todo o mundo nos próximos 10 anos, com mais 587.000 pessoas a perder a vida para a doença até 2030 – um aumento de 120.000 em relação a 2020.

Números que motivam que na 10ª Semana de sensibilização para o Cancro da Cabeça e Pescoço – Make Sense se passe das palavras à ação, com rastreios nos hospitais e ações de sensibilização nas escolas, junto dos adolescentes, em idades onde é frequente a iniciação no consumo de álcool e tabaco.

Às estimativas do aumento do número de casos juntam-se os factos: que 60% de todos os casos de cancros da cabeça e pescoço são diagnosticados em fases avançadas e, destes, 66% não estão vivos após 5 anos. Isto apesar da taxa de sobrevivência poder chegar aos 90% quando o tumor é detetado nas suas fases iniciais.

É por isso que a iniciativa liderada, a nível internacional, pela Sociedade Europeia de Cabeça e Pescoço (EHNS) e, a nível nacional, pelo Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e Pescoço (GECCP), quer reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce que poderiam ter salvo muitas das cerca de 73.000 vidas perdidas em 2020, vítimas daquele que é já o 6º tipo de cancro mais comum e a 8ª causa mais comum de morte por cancro na Europa.

“Quando diagnosticado e tratado precocemente, o cancro da cabeça e pescoço pode ter um bom prognóstico, mas muitas pessoas continuam a sofrer as terríveis consequências desta doença por não compreenderem os sinais e sintomas que o corpo lhes dá. E não só os doentes, ou sobreviventes, sofrem com a doença mas também todos os seus familiares e amigos. É para alertar a população para os sinais e sintomas desta doença que trabalhamos a campanha em Portugal.  Só assim os números podem tornar-se mais animadores” explica Ana Joaquim, médica oncologista em representação do Grupo de Estudos do Cancro da Cabeça e Pescoço (GECCP).

É por isso que a campanha ruma este ano a várias escolas* do País, com ênfase nas secundárias, em ações que visam fazer chegar a informação aos jovens, numa altura em que a ingestão de álcool e o consumo de tabaco se tornam cada vez mais tentadores. “Queremos explicar aos mais jovens qual o impacto do consumo excessivo de álcool. Os dados mostram-nos que o consumo de mais de três unidades de álcool por dia entre os homens e mais de duas entre as mulheres faz aumentar o risco de desenvolver este tipo de cancro. Em relação ao tabaco, acredita-se que quem fuma tem 15 vezes mais probabilidade de desenvolver cancro da cabeça e pescoço”, refere a especialista.

Sensibilizar para a importância do diagnóstico precoce é também um dos grandes objetivos desta campanha que, por isso, vai realizar rastreios no Instituto Português de Oncologia de Coimbra Francisco Gentil; Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, EPE – Unidade de Portimão; Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil; Centro Hospitalar de Lisboa Central e na CUF Tejo. A atenção aos sinais é, de resto, uma das melhores formas de detectar precocemente este tipo de tumor, devendo ser seguida a regra “1for3”, que salva vidas e que pode melhorar o prognóstico da doença. Uma fórmula que determina que se alguém apresentar um ou mais dos sintomas característicos do cancro da cabeça e pescoço por três semanas ou mais, deve procurar um médico.

Os sintomas incluídos nesta regra são: língua dorida, úlceras na boca que não cicatrizam e/ou manchas vermelhas ou brancas na boca; dor na garganta; rouquidão persistente; dor e/ou dificuldade para engolir; e alto no pescoço ou secreção nasal com sangue.

O conhecimento, de forma geral, sobre o cancro da cabeça e pescoço tem aumentado desde que a campanha Make Sense começou a ser assinalada na Europa. Um inquérito com 5.700 pessoas de 5 países, concluído em 2020, revelou que apenas 38% dos entrevistados não tinham ouvido falar deste tipo de cancro, uma melhoria em comparação com um inquérito concluído dez anos antes.

Além disso, o conhecimento sobre o HPV como fator de risco para cancro da cabeça e pescoço também melhorou, a par da implementação de programas de vacinação em toda a Europa nos últimos 10 anos.  “A infeção HPV está associada a um tipo de cancro de cabeça e pescoço, da orofaringe. A frequência desta infeção sexualmente transmissível é muito variável por região, sendo responsável por 18,5%-90% dos casos em todo o mundo”, esclarece Ana Joaquim.

SO/COMUNICADO

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