27 Jul, 2022

Cancro da Cabeça e Pescoço. “Imunoterapia mostra avanços promissores na qualidade de vida e sobrevivência”

Com os resultados do estudo Keynote-048, "pembrolizumab combinado a quimioterapia, tornou-se o padrão de tratamento do carcinoma de cabeça e pescoço metastático com expressão CPS (PD-L1) ≥1, com resultados positivos em taxa de resposta e sobrevida global", destaca o oncologista do Hospital de Ponta Delgada.

Qual a incidência de casos de cancro da Cancro da Cabeça e Pescoço em Portugal?

O cancro da cabeça e pescoço corresponde a qualquer tipo de cancro que comece nas células escamosas que revestem as superfícies da mucosa do interior da cabeça e pescoço, que inclui as regiões da cavidade oral, faringe e laringe.

Os cancros de cabeça e pescoço não são os cancros mais comuns da população em geral. Se somarmos todos, atingimos uma incidência de 2.542 novos casos no ano de 2020 em Portugal, o que os coloca em 8º lugar entre os cancros mais frequentes.

No mesmo ano, a mortalidade por esses cancros foi de 1.167 doentes, tornando-o no 10º cancro mais letal. A maior incidência que a mortalidade relativa mostra que, apesar de 60% dos tumores serem diagnosticados em fase avançada, o tratamento instituído é mais eficaz se compararmos com as outras neoplasias.

Qual é o subtipo de Cancro da Cabeça e Pescoço mais comum?

Os tumores da cavidade oral são os mais prevalentes, com uma incidência de 1.103 novos casos no ano de 2020 em Portugal, o que corresponde a 43% de todos os casos de tumores da cabeça e pescoço.

Quais os grupos populacionais mais atingidos por este tipo de cancro e quais os maiores fatores de risco?

Os doentes mais sujeitos a este tipo de cancro são aqueles que têm maior exposição aos fatores de risco associados ao surgimento deste tipo de doença, como os consumidores de álcool e tabaco (responsável por cerca de 75% dos casos). Outros fatores de risco identificados são o vírus do papiloma humano, especialmente HPV 16, que se encontra em muito crescimento como resultado da modificação de práticas sexuais que permitem a sua transmissão, como o sexo oral; o vírus de Epstein-Barr (associado ao carcinoma da nasofaringe); o consumo elevado de alimentos processados ou salgados e a má higiene oral.

Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito já com a doença localmente avançada. Que impacto tem esta realidade no prognóstico dos doentes e na sobrevivência?

O sucesso dos tratamentos depende de vários fatores, sendo o estadio em que a doença é detetada um dos critérios mais importantes.

Os doentes podem ser classificados em três grandes grupos:

1) Doença localizada ou precoce – situação de melhor prognóstico, atingindo taxas de sobrevivência aos 5 anos de 77 a 91%.

2) Doença localmente avançada – prognóstico intermédio, cuja terapêutica pode ter um intuito curativo ou não, atingindo taxas de sobrevivência aos 5 anos de 25 a 61%.

3) Doença metastática (quando o tumor atinge outro órgão que não a cabeça/pescoço) – cujo objetivo do tratamento é prolongar a vida com a melhor qualidade possível, atingindo taxas de sobrevivência aos 5 anos inferiores a 4%.

Que tratamentos estão disponíveis para estes doentes e que avanços terapêuticos têm surgido para o tratamento deste tipo de cancro?

A abordagem terapêutica destes doentes deve ser discutida sempre em reunião de equipa multidisciplinar, constituída por médicos de otorrinolaringologia, cirurgião de cabeça e pescoço, oncologista, radioncologia, radiologia, nutricionista e terapeuta da fala.

O tratamento ou as combinações de tratamentos a realizar dependem do estadio da doença, da sua localização e do seu estado geral de saúde. As opções de tratamento incluem a cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou a combinação destas. Para as pessoas com doença metastática, atualmente dispõe-se de tratamentos inovadores como a imunoterapia.

Quais os benefícios já comprovados da imunoterapia no tratamento destes doentes? Que ganhos existem no que diz respeito à sobrevivência e qualidade de vida?

O uso de imunoterapia no carcinoma de cabeça e pescoço recidivado/metastático tem mostrado avanços promissores não só na qualidade de vida, bem como no aumento da sobrevida global destes doentes. A imunoterapia vem sendo utilizada nos carcinomas de cabeça e pescoço previamente tratados desde os resultados dos estudos publicados em 2016.

Quão importante é, na sua opinião, a recente aprovação do pembrolizumab para utilização em monoterapia ou em combinação com quimioterapia no tratamento em 1L de carcinoma de células escamosas da cabeça e pescoço metastático ou recorrente irressecável?

Desde os resultados publicados em 2008, o tratamento de primeira linha dos indivíduos com carcinoma da cabeça e pescoço recorrente ou metastático baseava-se apenas em quimioterapia associada a terapêutica alvo anti-EGFR.

Com os resultados publicados em 2019, começou-se a assistir a uma alteração no algoritmo de tratamento dos doentes com esta patologia. Com os resultados obtidos no estudo Keynote-048, pembrolizumab combinado a quimioterapia tornou-se assim o padrão de tratamento do carcinoma de cabeça e pescoço metastático com expressão CPS (PD-L1) ≥1, com resultados positivos em taxa de resposta e sobrevida global, sem incremento da toxicidade.

A opção de pembrolizumab em monoterapia poderá ser uma opção razoável em doentes pouco sintomáticos ou frágeis que expressam CPS (PD-L1) ≥20.

SO

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