Ansiedade e compreensão nas salas de espera em Lisboa. Lágrimas no Porto. Foi assim o primeiro dia de greve dos médicos

Por todo o país sucederam-se histórias de doentes que se viram obrigados a voltar para trás por não terem médico. Outros, poucos, tiveram sorte diferente. Entre o transtorno e a revolta, a Lusa ouviu criticas ao governo e manifestações de compreensão para com a greve.

Alguma ansiedade e compreensão reinavam hoje de manhã nas salas de espera para consulta no Hospital de São José e no Centro de Saúde de Sete Rios, em Lisboa, onde alguns utentes falavam da greve dos médicos iniciada hoje.

Muitos dos utentes chegaram antes da hora marcada da consulta com a esperança de serem atendidos pelo médico. Maria dos Anjos, na casa dos 60 anos, sabia da greve, mas arriscou ir ao Hospital de São José porque recebeu uma mensagem na segunda-feira a confirmar a consulta.

“Cheguei aqui muito cedo, mas já sei que vou ter consulta, tive sorte”, disse Maria dos Anjos, enquanto aguardava na sala de espera, onde os utentes iam sendo chamados para as várias consultas de especialidade e outros eram informados que o médico não tinha comparecido.

Alguns queixavam-se de terem vindo de longe para ter uma consulta que aguardavam há meses, enquanto outros manifestaram solidariedade com a luta dos médicos.

No Centro de Saúde de Sete Rios, um panfleto fixado na porta anunciava a greve de três dias dos médicos. Houve utentes que não tiveram consulta como um casal de idosos que ia conhecer a nova médica de família. “Era a primeira vez que íamos ter consulta com esta médica”, disse António Marques, contando que esperava há mais de um mês pela consulta.

Disse saber da greve dos médicos, mas decidiu ir. “Também moro perto, volto noutro dia”, disse resignado, comentando que está solidário com os médicos: “Prometem tudo e depois não dão nada, é sempre igual. Nunca mais voto”.

Ao contrário deste casal, Luísa Santos foi atendida à hora marcada pela sua médica de família. “Sabia que havia greve, mas vim na mesma e tive consulta”, contou à Lusa. Sobre os motivos da greve, disse que se os médicos “reclamam as horas que não são pagas, fazem muito bem, porque o trabalho tem que ser pago”. “Quanto ao resto não sei”, rematou Luísa Santos.

A consulta de cardiologia de Margarida Ribeiro, 72 anos, estava marcada para hoje no Santo António do Porto às 08:30, mas às 09:15 os seus olhos azuis lacrimejavam pelo transtorno de o cardiologista ter aderido à greve dos médicos.

“É um grande transtorno. Os médicos deviam ter mais respeito pelas pessoas, porque vou ter de fazer 60 quilómetros para ir e vir de Santo Tirso para uma consulta marcada há um ano”, desabafou à Lusa Margarida Ribeiro, na sala de espera das consultas de Cardiologia do Santo António, ao lado do filho, igualmente indignado pela “falta de respeito dos médicos”.

A consulta de Margarida Ribeiro estava marcada há um ano: “Tenho de ser seguida”, afirma a doente com problemas cardiológicos.

A adesão à greve de três dias, que hoje se iniciou, também se fazia sentir nas consultas de Otorrino do Santo António. Bárbara Mendes, 34 anos, tinha consulta às 08:15 e às 09:00 ainda aguardava para saber se ia ter consulta, porque o médico ainda não tinha comparecido. “Tenho a consulta marcada há um ano e causa sempre transtorno, porque perco tempo e não sei se posso continuar com a medicação”, reage Bárbara Mendes.

Entre o desânimo e desespero com consultas adiadas, esperas a bater uma hora, na expectativa de ter consulta como sucedia a Maria Teresa Gonçalves, 78 anos, que aguardava saber se ia ser atendida em cirurgia vascular, havia, no entanto, alguns casos com final feliz, em que os pacientes foram informados nas receções das várias especialidades da consulta externa que um determinado médico estava a trabalhar.

Maria Emília Silva, 69 anos, tinha consulta de Oncologia marcada para hoje às 09:00 e estava satisfeita por a sua médica oncologista não ter “furado a greve”.

“Já me avisaram que a médico veio”, declarou Maria Emília. A frase é repetida também pela paciente Júlia Teixeira, 45 anos, doente oncológica, que afirma que também vai ter hoje a consulta que foi marcada há oito dias.

A greve dos médicos regista hoje uma adesão que ronda os 90% nos blocos operatórios, a nível nacional, atingindo os 100% em alguns locais, de acordo com os dados divulgados pelos sindicatos ao início da tarde.

LUSA

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