Abordagem Holística do Doente: A Visão para Além do Controlo Metabólico
Assistente graduado MGF – USF João Semana, Diretor internato ACES Baixo Vouga, Coordenação do grupo de estudo GRESP da APMGF

Abordagem Holística do Doente: A Visão para Além do Controlo Metabólico

A diabetes exige uma atenção constante e cuidados adequados para garantir um bom controlo. No entanto, é importante destacar que a diabetes não deve ser encarada isoladamente, mas sim como parte de um conjunto de problemas de saúde que podem afetar o indivíduo. É nesse contexto que surge a importância da abordagem holística do doente.

A abordagem holística do doente envolve uma visão ampla e integrada da saúde, considerando não apenas a diabetes, mas também as comorbilidades e os fatores de risco que podem estar presentes. Muitas vezes, a diabetes é considerada a doença índice ou principal, relegando os outros problemas de saúde para segundo plano. Essa abordagem pode comprometer a correta gestão das comorbilidades, como a depressão e a ansiedade, dificultando assim a obtenção de um tratamento holístico e eficaz.

É fundamental compreender que a diabetes está frequentemente associada a outras condições de saúde, como a hipertensão, a dislipidemia e a obesidade. Além disso, a depressão e a ansiedade são comorbilidades comuns em pessoas com diabetes, que podem afetar negativamente a sua qualidade de vida e o seu controlo metabólico. Portanto, é essencial que a abordagem holística do doente com diabetes leve em consideração todas essas condições e fatores de risco.

No entanto, a organização atual dos cuidados de saúde, tanto a nível hospitalar quanto nos centros de saúde, tende a privilegiar a doença índice, no caso a diabetes. Isso ocorre devido à ênfase no controlo metabólico e à falta de recursos para a implementação de uma abordagem mais ampla e integrada. É necessário repensar essa realidade e buscar alternativas que permitam uma visão holística do doente.

A diabetes é representada pelo símbolo do círculo azul, que representa não apenas a pessoa com a doença, mas também todos os profissionais de saúde que interagem com ela. No entanto, os recursos disponíveis muitas vezes não permitem que todas as pessoas com diabetes recebam a quantidade e qualidade de ações que profissionais como nutricionistas, psicólogos, podologistas, técnicos de desporto e outros profissionais além do tradicional médico e enfermeiro devem providenciar.

Diante dessa realidade, surge a questão da responsabilidade da sociedade em permitir uma abordagem holística do doente com diabetes e muito mais. É fundamental que a sociedade reconheça a importância de investir em recursos adequados para garantir uma abordagem integral e multidisciplinar. Isso envolve a alocação de verbas para a contratação de profissionais especializados, a criação de programas de educação e prevenção, e a promoção de políticas públicas que incentivem a prática de hábitos saudáveis e a prevenção de doenças.

Além disso, é necessário promover uma mudança de mentalidade, tanto entre os profissionais de saúde quanto na população em geral. É preciso compreender que a saúde não se resume apenas ao controlo metabólico, mas sim a um estado de bem-estar físico, mental e social. Somente através de uma abordagem holística do doente, considerando todas as suas necessidades e particularidades, será possível alcançar um tratamento eficaz e uma melhor qualidade de vida.

A abordagem holística do doente com diabetes é fundamental para garantir um tratamento eficaz e uma melhor qualidade de vida. É necessário romper com a visão de que a diabetes é a doença índice e considerar todas as comorbilidades, fatores de risco e problemas de saúde associados. Para isso, é fundamental repensar a organização dos cuidados de saúde, investir em recursos adequados e promover uma mudança de mentalidade. A sociedade como um todo tem a responsabilidade de permitir uma abordagem holística desse tipo de doente, visando uma saúde integral e uma vida plena.

 

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