“A organização das Jornadas contribui para o progresso da Endocrinologia regional”

Margarida Vinhas Almeida, presidente das III Jornadas de Endocrinologia e Diabetes e diretora do Serviço de Endocrinologia do CHTS, fala sobre o evento, que este ano se realiza no Dia Mundial da Diabetes e conta com uma sessão de celebração da data, de modo a aproximar a população aos cuidados hospitalares e a aumentar a consciencialização acerca da doença.

Para a endocrinologista, estas jornadas são um dos objetivos não assistenciais do serviço que dirige e que contribui para “o progresso da Endocrinologia regional”. O seu público-alvo são os internos e especialistas em Endocrinologia, Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna, nutricionistas, enfermeiros e alunos dos últimos anos do curso de Medicina.

 

Estas jornadas realizam-se a 14 de novembro, Dia Mundial da Diabetes. Porque razão escolheram exatamente esta data?
A Diabetes nos seus diferentes tipos e etiologias, será talvez a patologia rainha da especialidade de Endocrinologia pela grande dedicação e constante atualização exigidas, tendo em conta a constante evolução nas terapêuticas e diagnóstico.

Ao mesmo tempo, pela sua elevada prevalência na população, é também o alvo de atuação de muitas outras especialidades em particular a Medicina Geral e Familiar, a Medicina Interna, a Pediatria. Nesse sentido e considerando o público-alvo das Jornadas pareceu-nos adequada a escolha do Dia, reforçando o papel fulcral da especialidade nesta patologia.

Habitualmente essas comemorações são de caráter anual, estando a cargo do Núcleo da Diabetes do CHTS do qual o Serviço de Endocrinologia do CHTS é parte integrante.

 

“A Diabetes nos seus diferentes tipos e etiologias, será talvez a patologia rainha da especialidade de Endocrinologia”

 

Qual a importância de existir um dia dedicado a assinalar esta patologia?
O Dia Mundial da Diabetes, celebrado no dia 14 de novembro, foi estabelecido em 1991 pela Federação Internacional da Diabetes (IDF) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta data homenageia o aniversário de Frederick Banting, um médico canadiano, que, juntamente com Charles Best, descobriu a insulina em 1921, sendo um marco crucial no tratamento da diabetes. Desde 2007, todos os anos é definido um tema para o Dia Mundial da Diabetes. Em 2023, o tema é “Educar para Proteger o Futuro”, com o objetivo de destacar a necessidade de melhor acesso à Educação em Diabetes para profissionais e pessoas com Diabetes. Este dia serve como uma campanha de dimensão mundial para a consciencialização desta doença.

 

Estas jornadas têm início com uma sessão de Celebração do Dia Mundial da Diabetes aberta à comunidade, que será dinamizada pelo Núcleo da Diabetes. Quais os principais objetivos e em que vai consistir esta atividade?
A sessão de Celebração do Dia Mundial da Diabetes, dinamizada pelo Núcleo da Diabetes, tem como principais objetivos a aproximação da população aos cuidados de saúde hospitalares, aumentando a consciencialização para a diabetes na comunidade e proporcionando um momento de educação para a saúde.

 

Falando mais propriamente das jornadas, são sobretudo destinadas aos cuidados de saúde primários. Qual a importância de se promover esta ligação?
A organização das Jornadas é um dos seus objetivos não assistenciais, que contribui para o progresso da Endocrinologia regional e tem como público-alvo os internos e especialistas em Endocrinologia, Medicina Geral e Familiar (MGF) e Medicina Interna, nutricionistas, enfermeiros e alunos dos últimos anos do curso de Medicina. Após 3 anos de suspensão, estas 3.ª Jornadas revelam-se de importância fundamental para o retomar da formação contínua e permite que os médicos divulguem os seus trabalhos sob a forma de pósteres. Escolhemos um espaço de excelência para voltar ao formato presencial, promover o contacto entre equipas e associamos alguns momentos de descontração. Queremos uma participação ativa e tudo faremos para que o evento corresponda às expectativas.

O Serviço desde a sua criação sempre manteve grande proximidade com os CSP. A organização de Jornadas Anuais e de um Encontro de Endócrino/MGF vieram reforçar essa articulação. Ao longo dos anos foram sendo desenvolvidas ações de Consultadoria junto dos ACES, diversas sessões clínicas nas Unidades de Saúde, existindo também um número de telemóvel do Serviço para esclarecimento de dúvidas e para resposta urgente como em situações de descompensação metabólica, tireotoxicose. Desde 2006, o Serviço colabora com o internato de MGF em estágios de formação. Verificou-se uma crescente aproximação aos cuidados de Saúde Primários, mantendo o Serviço uma relação privilegiada com antigos internos, eles próprios atuais orientadores, com beneficio para os pacientes.

 

 

Quais os principais objetivos?
Promover a articulação do hospital com os cuidados de saúde primários. O surgimento da ULSTS vai facilitar a integração dos cuidados de proximidade com os cuidados mais diferenciados prestados a nível hospitalar. Estas reuniões científicas tornam-se importantes para uniformizar e elevar a qualidade dos serviços prestados.

 

Como é a articulação entre o Serviço de Endocrinologia do CHTS e os CSP?
Os cuidados de saúde primários constituem os principais referenciadores de doentes para os serviços hospitalares. O serviço de Endocrinologia do CHTS tem uma relação de proximidade com os cuidados de saúde primários. Criamos um projeto de consultoria de Endocrinologia aos CSP de modo a melhorar a resposta à lista de espera para a consulta, que se encontra em fase de implementação. O futuro desenvolvimento da ULSTS vai reforçar esta articulação. O CHTS tem uma área de influência extensa de 504 mil habitantes. Assim, o maior desafio é conseguir um acesso fácil, mas também coerente à consulta dado o elevado número de solicitações. A elaboração conjunta de critérios de referenciação à especialidade veio solucionar algumas destas questões.

“Os cuidados de saúde primários constituem os principais referenciadores de doentes para os serviços hospitalares. O serviço de Endocrinologia do CHTS tem uma relação de proximidade com os cuidados de saúde primários”

 

Como avalia atualmente o tratamento e gestão do doente diabético em Portugal?
A diabetes é patologia reconhecida como prioritária. Desse reconhecimento resulta a criação de estratégias nacionais para controlo e melhoria dos cuidados prestados. Falo das atividades e ações estabelecidas através do Plano Nacional da Diabetes da Direção-Geral da Saúde.

A nível regional, foram criadas as Unidades Coordenadoras Funcionais da Diabetes (UCFD) que visam a interligação entre os ACES e a respetiva unidade hospitalar.

São realizadas reuniões periódicas onde é feito o planeamento das atividades educativas a desenvolver junto de utentes e escolas, identificavam-se aspetos a melhorar, estudam-se indicadores de eficácia e distribuem-se funções perante objetivos traçados.

No âmbito das UCFD são conjugados os diversos níveis de cuidados: Cuidados Primários, Saúde Pública e Hospital/Especialidade sempre com base nas diretivas nacionais da DGS e nos consensos das diversas sociedades experts.

Em paralelo, são promovidos encontros entre as diferentes UCFD, para partilha de conhecimentos e experiências enriquecendo a gestão local.

“O surgimento da ULSTS vai facilitar a integração dos cuidados de proximidade com os cuidados mais diferenciados prestados a nível hospitalar”

 

Mas, nestas jornadas vão ser debatidos outros temas, que não apenas a diabetes. Qual o critério para a sua escolha?
O programa tenta ser bastante abrangente, apesar do tempo dedicado a estas jornadas se mostrar insuficiente para abranger toda a temática que gostaríamos de abordar. Procurámos criar um programa cativante, que fosse ao encontro dos interesses de todos os profissionais, que simultaneamente incluísse temas menos habituais e que se revelasse útil para a atividade clínica diária. Nesse sentido, tivemos em particular consideração os motivos de referenciação à nossa consulta e focamos em temas tão multifacetados como os avanços e atrasos pubertários; o uso e abuso de esteroides androgénicos anabolizantes; a terapêutica hormonal de substituição na mulher e também as consequências da terapêutica a longo prazo com glucocorticoides. Pela crescente problemática da obesidade, teremos também um tema que aborda o uso de micronutrientes e outros suplementos nos doentes submetidos a cirurgia bariátrica. Numa das mesas-redondas, abordar-se-á de forma genérica a dislipidemia, o seu tratamento e os novos fármacos disponíveis. Também no âmbito de novas terapêuticas, teremos um simpósio intitulado “O futuro imediato… nas terapêuticas incretínicas” a cargo da Professora Eva Lau.

Por último, destacamos ainda a organização de dois workshops, Pé Diabético e Insulinoterapia, cujas inscrições rapidamente esgotaram dada a premência dos temas, especialmente para os médicos de MGF.

 

Quais as suas expectativas para esta 3.ª edição das jornadas?
Estas Jornadas são uma oportunidade para profissionais de saúde e a comunidade se atualizarem sobre os últimos avanços não só da diabetes, mas também de outras patologias endócrinas. Além disso, essas jornadas são um espaço privilegiado para a partilha de conhecimento entre os diversos profissionais. Esperamos que esta edição das Jornadas supere o sucesso das edições passadas, uma vez que contamos já com mais de 150 inscritos.

SM

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