“A Oncologia de precisão é um avanço significativo, que espero que continue a desenvolver-se”

23 de setembro foi o Dia de Sensibilização para o Cancro da Tiroide. Maria João Oliveira, endocrinologista, membro do Grupo de Estudos da Tiroide e da Associação das Doenças da Tiroide, fala deste carcinoma, da importância de se informar e sensibilizar a população para esta patologia, assim como dos avanços científicos que se têm verificado, nomeadamente com a realização dos testes moleculares e da implementação da Oncologia de Precisão.

No dia 23 de setembro assinalou-se o Dia de Sensibilização para o Cancro da Tiroide. Quais as atividades levadas a cabo pela Associação das Doenças da Tiroide (ADTI)?
Além das informações publicadas no site e Facebook da ADTI, que geralmente são as duas vias utilizadas para transmitir informação, tivemos, no norte do país, na Marginal de Matosinhos, um stand móvel, com membros da ADTI e, também, alguns endocrinologistas. Foram distribuídos folhetos informativos acerca do carcinoma da tiroide e os médicos que estiveram presentes estavam disponíveis, para o caso de ser necessário prestar algum esclarecimento.

Além desta atividade, no sábado de manhã, e como foi já referi, a ADTI esteve a reformular os textos sobre o carcinoma da tiroide, para publicação no site da associação e para partilha no Facebook. Geralmente, já tem vindo a ser feito, mas, agora, estes novos textos incidem mais sobre esta patologia.

 

Quais foram exatamente os principais objetivos deste dia?
Sensibilizar a população, porque é bom que conheça a importância da tiroide. Também é importante que saiba que, apesar da doença nodular da tiroide ser muito frequente, estima-se que em cerca de 50% das mulheres com patologia da tiroide, apenas 5 a 10% destes nódulos sejam malignos. Por outro lado, a maioria dos nódulos malignos da tiroide tem muito bom prognóstico quando bem tratados e orientados por uma equipa multidisciplinar.

Portanto, o primeiro objetivo é alertar as pessoas para a importância da tiroide; depois, informar que o carcinoma da tiroide, na maior parte dos casos, é tratado e com uma sobrevida prolongada; e, por fim, alertar quanto à necessidade destes doentes serem seguidos por uma equipa de médicos com experiência no tratamento desta patologia.

 

Quais as especialidades que devem estar envolvidas no tratamento destes doentes?
Geralmente, na primeira linha, são endocrinologistas, cirurgiões e médicos de Medicina Nuclear.

 

De acordo com o que acabou de referir, o carcinoma da tiroide atinge sobretudo mulheres, correto? Qual é a percentagem de mulheres e de homens?
Sim. De forma geral, temos cerca de seis mulheres para um homem com doenças endócrinas da tiroide. É uma diferença substancial!

 

Trata-se de uma questão hormonal?
Eventualmente, sim, é uma questão hormonal. Mas talvez seja, também, porque a mulher vai mais ao médico e eu penso que isso também é importante. Mas, na realidade, a patologia endócrina é bastante mais frequente na mulher do que no homem.

 

Há forma de prevenir estes carcinomas?
Atualmente, é sabido que a obesidade pode estar ligada a uma maior incidência destes carcinomas, portanto eu diria para ter uma vida saudável; controlar o peso; e evitar excesso de radiação, mas isto é um pouco subjetivo, porque, por vezes, temos de fazer exames de radiação.

 

Falando agora do Grupo de Estudos da Tiroide (GET) da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM). Quais são as atividades que estão a desenvolver?
Neste dia em concreto, o GET não desenvolveu qualquer iniciativa. Contudo, está a organizar uma reunião, em novembro, cujo tema principal vai ser “Carcinoma da tiroide”. Vamos falar, nomeadamente, do tratamento com o Iodo-131 radioativo.

 

A implementação de Oncologia de precisão tem sido um grande avanço?
Sim, é um grande avanço, apesar de ainda não ser a solução completa para estes casos. O conhecimento de algumas alterações moleculares, portanto de algumas mutações genéticas, tem permitido o desenvolvimento de algumas estratégias para os cancros em que não são tratados apenas com cirurgia e com iodo radioativo.

Ou seja, tem permitido uma orientação mais específica e dirigida a estas mutações e com alguma resposta em cancros que, há alguns anos, não tinham outra solução terapêutica.

É um avanço significativo, que espero que continue a desenvolver-se. Ainda há muito por investigar e precisamos ainda de mais respostas para alguns tipos de carcinoma, nomeadamente para o indiferenciado, que tem um prognóstico muito reservado, apesar de ser muito raro, mas que, até agora, não tem ainda uma terapêutica dirigida.

 

Participou com o GET num consenso nacional que clarifica quais os doentes com critérios para diagnóstico molecular. Quais são eles?
São as pessoas com doença avançada. No caso do carcinoma indiferenciado da tiroide, os doentes que não têm possibilidade de tratamento com iodo radioativo, ou seja, já não respondem ao iodo ou já atingiram uma dose máxima de iodo-131; ou doentes com uma doença metastática muito avançada, com má resposta ao tratamento com o iodo; os com carcinoma medular da tiroide; e, também, com carcinomas pouco diferenciados e indiferenciados.

 

Está ainda a decorrer uma iniciativa a nível nacional que envolve o IPATIMUP e a GenoMed e permite a realização destes testes moleculares por sequenciação de Nova geração (NGS) no cancro da tiroide avançado e no carcinoma medular da tiroide avançado. Qual a importância desta iniciativa?
É muito importante, uma vez que facilita muito o estudo destes doentes, porque são exames que implicam algum custo e que, geralmente, precisam de uma autorização por parte das administrações hospitalares. Termos esta facilidade é muito bom, permite-nos um resultado mais rápido e, na realidade, provavelmente, conseguimos estender o exame a um maior número de doentes.

 

SM

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