“A formação médica contínua em dor é essencial”
Hugo Ribeiro, coordenador da Iniciativa Médica 3 M (IM3M), destaca a importância da formação médica contínua e como é uma área cada vez mais do interesse dos profissionais de saúde. Entre hoje e dia 15 de setembro decorre o Congresso Multidisciplinar da Dor 2023, na Figueira da Foz.
É o II Congresso da IM3M. Que balanço faz da organização?
É muito positivo! Temos mais de 300 inscritos, ou seja, atingimos todos os nossos objetivos: aumentar o número de participantes, assim como o número de trabalhos. Acreditamos também que temos um programa de qualidade, sempre com isenção e foco na prática clínica, que é o que caracteriza a IM3M.
Os participantes são maioritariamente médicos?
Sim, mais de 90% são médicos, destacando-se a especialidade de Medicina Geral e Familiar. Mas também há outros profissionais de saúde.
“Os profissionais de saúde querem entender, valorizar e priorizar a dor”
Nota que existe cada vez mais necessidade de formação na área da dor?
Sem dúvida! Os profissionais de saúde querem entender, valorizar e priorizar a dor. E pretendem também melhorar a abordagem terapêutica. É importante caracterizar a dor, fazer o exame objetivo e saber utilizar o manancial terapêutico da forma mais correta e individualizada. E é essencial que isto aconteça num sentido multidisciplinar, nomeadamente na dor crónica. Nesta área temos evidência científica de que não basta farmacologia e que é preciso apostar em terapias não farmacológicas, tais como psicoterapia, exercício físico, ioga, entre outras. Neste Congresso vamos inclusive ter uma sessão sobre estas terapias que dão apoio no tratamento da dor crónica, que é um problema de saúde pública.
Na formação dos profissionais de saúde também deve ser dado destaque à comunicação com o doente?
Sim, sobretudo para se consiga gerir as expectativas, daí que este ano voltemos a ter uma sessão sobre esta temática. Consideramos que, muitas vezes, o que mais falha na relação com o doente – em particular médico-doente – é a gestão das expectativas. É preciso perceber que nem sempre conseguiremos atenuar totalmente a dor. Apenas é possível aliviá-la e por etapas. E não é pouco. Estamos a falar de uma pessoa com dor crónica que passará a viver com muito mais qualidade de vida, apesar de ainda sentir alguma dor. É sempre importante priorizar e hierarquizar os problemas, não colocando em causa a sua saúde e bem-estar.
“Ainda hoje é possível, graças ao Prof. José Castro Lopes, ter noção do problema de saúde pública que é a dor crónica em todas as suas dimensões”
José Castro Lopes é o homenageado do Congresso. O que gostaria de destacar no seu percurso?
O Professor é, talvez, das três ou quatro maiores referências nacionais na área da dor. Foi até recentemente o único responsável por uma cátedra em Medicina da Dor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e tem tido uma carreira académica muito vocacionada para as Neurociências e para a Epidemiologia que nos permite ter os primeiros resultados sobre a dor em Portugal. Ainda hoje é possível, graças ao Prof. José Castro Lopes, ter noção do problema de saúde pública que é a dor crónica em todas as suas dimensões: tipos de dor, dados epidemiológicos, o que os doentes pensam sobre a abordagem dos médicos ao seu principal problema, que é a dor – assim o consideram. Infelizmente, quer o estudo do Professor como outros que entretanto foram surgindo, a abordagem à dor crónica continua a estar muito aquém do que devia. Para tratar a dor crónica de forma eficiente e segura é preciso ter conhecimentos de Farmacologia, Fisiologia e Fisiopatologia. O problema é que estas áreas são abordadas apenas dadas no início do curso de Medicina. Para se conseguir tratar a dor crónica de forma eficaz, eficiente, segura e personalizada é preciso recuperar esses conhecimentos. A formação médica contínua é essencial.
MJG
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