7 Dez, 2023

Webinar. Apostar numa única toma diária e na comunicação aumenta adesão terapêutica

Simplificação terapêutica, comunicação, empatia e tempo são palavras-chave na adesão à terapêutica para que se possa prevenir o acidente vascular cerebral (AVC). Esta foi das principais conclusões do webinar Leading the Heart que decorreu, ontem, e que teve como tema central “Uma Proteção Simples para Vidas Complicadas”.

Pode assistir ou rever o webinar de ontem AQUI.

Filipe Cabral, médico de família na USF Marco, Maria Guilhermina Pereira, médica de família na UCSP Belas, e Lígia Peixoto, internista no Hospital Santa Maria – CHULN, foram os oradores do webinar, organizado pela Bayer. Todos eles se focaram na necessidade de se entender a razão pela qual os doentes não aderem à medicação, mesmo quando têm um risco aumentado de AVC por hipertensão ou fibrilhação auricular.

O especialista apresentou estudos de vida real que indicam que a maioria dos doentes dá primazia ao número de tomas por dia para conseguir manter o tratamento a longo prazo. “A questão não está no horário da toma, de manhã ou à noite, ou no tamanho do comprimido, mas no número de tomas por dia. Quem tem de tomar apenas um comprimido por dia, adere mais facilmente à terapêutica.”

Esta simplificação dos regimes terapêuticos, mais adaptados aos estilos de vida dos utentes e às suas preferências são essenciais na opinião do médico de família. Contribuem ainda para que o utente se sinta responsabilizado pela sua saúde, não deixando o ónus só no médico.

Além do número de tomas, é preciso ter em conta outras barreiras que podem contribuir para a não adesão, como referiu Maria Guilhermina Pereira. A especialista em Medicina Geral e Familiar lembrou que, no caso dos doentes idosos, ainda há quem seja analfabeto, precisando de maior apoio. É assim fundamental pensar em estratégias de comunicação que poderão passar, por exemplo, por usar desenhos nas caixas dos medicamentos. “Se os comprimidos são para um problema cardíaco, usa-se um coração, por exemplo. Não podemos esquecer que são doentes polimedicados.”

Neste caso em específico realçou, juntamente com os restantes oradores, a relevância do papel do farmacêutico que tem muitas vezes uma relação de proximidade com o utente.

Apontou ainda a necessidade de se escrever para que servem os medicamentos, desmistificando o que está escrito na bula. A especialista apresentou mesmo um esquema que costuma utilizar nas consultas e que pode ajudar quer o doente quer outros profissionais que o vão seguir no hospital ou noutra unidade, já que nem todos têm médico de família.

Deixar por escrito é mesmo muito importante e se não conseguirmos marcar consulta podemos tentar telefonar para ver se estão a cumprir o que lhe dissemos. É preciso potenciar as vias de comunicação, nunca esquecendo que é preciso haver espaço para esclarecimento de dúvidas.”

Apelou ainda à empatia e à comunicação, devendo-se evitar algum tipo de julgamento quando o doente não adere à medicação. “É preciso compreender porque o faz. Podem ser questões emocionais, esquecimento, défice cognitivo, etc.”

Na sua opinião, os médicos deveriam ter formação em entrevista motivacional e em comunicação empática para que se facilite este seu papel na promoção à adesão terapêutica.

Todas as estratégias são assim bem-vindas, já que, como acrescentou Lígia Peixoto, “a não compliance é um problema de saúde pública”, que aumenta a morbimortalidade. Para exemplificar, relatou a história de um doente de 71 anos, hipertenso e autónomo, que não cumpria a terapêutica e que acabou por falecer na sequência de uma dissecção da aorta.

Na sua intervenção enfatizou também que “o regime terapêutico aumenta a adesão e a persistência terapêutica”, sendo ainda necessário perceber por que razão o doente não adere à medicação.

Acrescentou ainda o caso de uma doente de 82 anos, autónoma, diabética, hipertensa, com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada em contexto de cardiopatia hipertensiva e com fibrilhação auricular permanente. Face ao risco elevado de AVC, foi hipocoagulada, mas a família acabou por sua própria iniciativa retirar-lhe a medicação. O resultado foi um AVC cardioembólico.

Tendo em conta este caso clínico, a médica lembrou como “os AVC associados a fibrilhação auricular são mais mortais” e como é importante “apostar na prevenção”. No que diz respeito aos idosos, acrescentou, que “a fragilidade e o risco de quedas não podem nem devem ser fatores que impeçam, per si, a terapêutica anticoagulante”.

Concluindo, todos foram unânimes que a simplificação dos regimes terapêuticos e a comunicação empática fazem toda a diferença na prevenção do AVC.

O próximo webinar vai ter lugar no dia 31 de janeiro de 2024.

SO

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