Variação sazonal da pressão arterial
Médica interna de Medicina Geral e Familiar na USF Vale do Vouga

Variação sazonal da pressão arterial

Existe evidência científica que a variação sazonal da temperatura ambiente está associada a variações sazonais da pressão arterial (PA) e variações sazonais na incidência de eventos cardiovasculares. Vários estudos demonstram valores de PA mais baixos quando as temperaturas ambientais são mais elevadas e, inversamente, valores de PA mais altos quando as temperaturas ambientais são mais baixas. Esta variação parece afetar, globalmente, indivíduos de ambos os sexos, todas as faixas etárias, utentes normotensos e hipertensos, tratados e não tratados.

Contudo, a sazonalidade da PA assume particular importância nos utentes hipertensos bem controlados no inverno, mas que no verão sofrem um declínio excessivo da PA, com períodos de hipotensão sintomática, e nos quais deve ser considerada uma redução dos anti hipertensores. Assim, os utentes hipertensos com PA bem controlada no verão, mas que no inverno apresentam valores acima do limite recomendado, exigem também um ajuste farmacológico. Alterações semelhantes podem ocorrer em utentes que viajam para locais mais quentes ou mais frios.

De facto, as temperaturas elevadas que temos sentido no verão e os períodos quentes cada vez mais longos, tornam este tema muito pertinente, tendo sido, por isso, um tema abordado no 17ª Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global.

Stergiou GS et al. 2020 propõe que a fadiga ou hipotensão ortostática que aparece em climas quentes e uma elevação da PA em climas frios podem ser atribuídos à variação sazonal, depois de considerados outros motivos que justifiquem a alteração da PA (e.g. desidratação, perda de peso, incumprimento terapêutico, consumo de álcool ou outras drogas, …). As alterações sazonais da PA devem ser confirmadas por medições cuidadosas e repetidas no consultório e em ambulatório. Em períodos quentes, a redução do anti hipertensor deve ser considerada quando a PA estiver abaixo da meta recomendada, particularmente na presença de sintomas e naqueles utentes com PA sistólicas < 110 mmHg mesmo que assintomáticos.

A associação inversa entre PA e temperatura ambiental é, possivelmente, uma consequência dos mecanismos termorreguladores fisiológicos: vasoconstrição e aumento da resistência periférica no frio e vasodilatação e resistência periférica reduzida no calor. Torna-se, assim, fundamental adequar as condições da habitação e o vestuário às condições meteorológicas. Contudo, outras mudanças sazonais podem mediar alterações na PA como alteração do ritmo circadiano, hábitos alimentares (maior ingestão nos dias frios), atividade física (aumentada no verão), peso (aumento no inverno) e duração do sono, sendo por isso fundamental o aconselhamento de um estilo de vida saudável.

Com alvos cada vez mais exigentes de controlo de PA, são necessárias orientações robustas de quando e como proceder ao ajuste da prescrição anti hipertensora e como fazer o seguimento individualizado dos utentes hipertensos com variação sazonal da PA.

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